A onda de violência que mergulhou os últimos dias a África do Sul no caos já causou mais de 70 mortes e deixou um rasto de destruição. As lojas continuam a ser pilhadas por quem procura o que ficou deixado para trás.
Ontem, quarta-feira, eram poucos os mercados que se arriscaram a abrir as portas na cidade de Durban. Faltam produtos, funcionários e há longas filas nas portas. Parte da população já enfrenta dificuldades para comprar comida, depois que o comércio foi saqueado em várias cidades nos últimos dias e caminhões foram incendiados em estradas. Muitos desses veículos carregavam mercadorias para abastecer supermercados.
Por conta da crescente onda de violência, diversas empresas também seguem com as portas fechadas. Hospitais e postos onde vacinas contra o coronavírus estão sendo aplicadas não funcionam como deveriam, porque muitos trabalhadores não estão conseguindo se locomover, já que não há transporte público circulando nas ruas das cidades onde o caos se instalou.
Até terça-feira à noite, 1.234 pessoas haviam sido presas, acusadas de envolvimento nos protestos e saques, que terminaram com a morte de 72 pessoas, segundo as autoridades. Enquanto ainda não se sabe, ao certo, o tamanho do prejuízo para a já fragilizada economia do país que, atualmente, tem uma das mais altas taxas de desemprego do mundo (32%), um produtor rural teve que jogar fora 28 mil litros de leite na província de KwaZulu-Natal.
Segundo a imprensa local, Rob Stapylton-Smith disse que não teve como entregar o produto aos clientes e o leite acabou estragando. Foi nessa província que os protestos começaram na sexta-feira, conduzidos por apoiantes do ex-presidente Jacob Zuma, 79 anos, preso na semana passada.
Considerado um herói por muitos por ter lutado ao lado de Nelson Mandela contra o apartheid, regime de segregação racial que vigorou no país até o início dos anos 1990, Zuma foi presidente da África do Sul entre 2009 e 2018, período em que viu seu nome passar a estas nas manchetes sobre escândalos de corrupção. Venceu duas eleições, mas não terminou o segundo mandato. Alvo, na época, que quase 20 processos, foi forçado pelo partido Congresso Nacional Africano (o mesmo de Mandela) a renunciar ao cargo, tendo sido sucedido pelo vice Cyril Ramaphosa.
Zuma foi condenado a 15 meses de prisão por não ter prestado esclarecimentos a uma comissão judicial que investiga denúncias graves sobre um esquema de corrupção no governo dele. A investigação ficou conhecida como a “captura do Estado”. A decisão de mandar prender o ex-presidente foi do Tribunal Constitucional da África do Sul.
C/JN.PT e G1