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Covid-19: “Marido” perde controle da situação

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Depois da minha última reflexão, sobre a qual já se passou algum tempo, comprometi-me comigo mesma a deixar o pobre coitado do “marido” em paz, pois que muitas das suas amantes continuaram a fazer-lhe “jogo sujo”. Refiro-me especialmente às amantes “ki cumé pé di catchor”, ou seja, àquelas que não querem sentar o rabinho em casa. Graças a Deus, são menos de 10% a proporção dessas amantes “cabeça ka bali”.

No entanto, como já devem ter notado, o meu foco continua a ser o meu “marido”, aquele com quem me casei há cerca de 4 anos e prometeu zelar pelos meus interesses.

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Ora, verdade seja dita, o marido até tem tomado decisões muito acertadas, que duvido que seriam tomadas por qualquer outro. O marido, até muito “macho” e provedor do sustento da sua família, decidiu e bem colocar todas as esposas em casa e comprometeu-se a dar-lhes o sustento necessário até que consigam “buscar pela própria vida”. É verdade que ainda nem todas as esposas que realmente precisam foram contempladas e que tem existido algumas falhas na condução desse processo, mas, uma coisa é certa: essa decisão está ao nível dos grandes “chefes de família”.

Também foi uma decisão muito sábia e digna de registo a prorrogação do Estado de Emergência para as ilhas de Santiago e Boavista. Caso contrário, estar-se-ia a comprometer os resultados até então alcançados. Resultados? Sim, resultados. Não há dúvidas de que as coisas estariam catastróficas nessa altura se nada tivesse sido feito. Por isso, aplausos para o marido! Afinal, sabemos reconhecer quando o marido dá umas “bolas dentu”.

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No entanto, também não tenho dúvidas de que esses resultados podiam ser muito mais sólidos e “sustentáveis” se o marido efetivamente tivesse se preparado, na medida do possível, para essa batalha e tivesse uma equipa também ela preparada e não de “segunda divisão”. 

“Nesta altura do campeonato, o marido ainda tem apenas um laboratório de virologia a funcionar, para cobrir a demanda de todo o país, laboratório esse em risco iminente de “da badagai”, ou seja, de não poder mais.”

Vejamos: 

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Nesta altura do campeonato, o marido ainda tem apenas um laboratório de virologia a funcionar, para cobrir a demanda de todo o país, laboratório esse em risco iminente de “da badagai”, ou seja, de não poder mais. Esse laboratório, que já deu sinais claros de cansaço, não pode ser “sobrecarregado”, caso contrário, “é pocu ou nada”. E assim, obviamente, perderemos de vez essa guerra, pois que a rapidez na deteção dos casos, no seu isolamento e bem assim dos seus contactos é fundamental nesse processo. Entretanto, já tivemos a proeza de termos tido mais de duas centenas de amostras pendentes de exames, quando o número de exames realizados diariamente é relativamente reduzido. Já estamos a mais de 1 mês de confinamento e o marido só agora falou na intenção de montar mais um laboratório. Já pensaram no que será de nós se o laboratório existente se sucumbir antes desse milagre acontecer?

E mais: também só agora o marido tomou as providências necessárias para comprar, com financiamento externo, equipamentos de proteção e testes. Até agora o marido sobreviveu apenas das “zimolas” – muito bem-vindas, diga-se de passagem – que foi recebendo. Mas que raio!! Fica por se saber então qual a preparação que o país tinha no início da pandemia! 

Para complicar ainda mais as coisas e “da alguém nó na cabeça”, a equipa de segunda divisão do marido sequer está ciente ela mesma das regras do jogo que devia estar a comandar: primeiro desaconselha fervorosamente a utilização de máscaras, depois dá o dito pelo não dito e a torna de uso obrigatório; depois estatui um critério para a consideração de casos como recuperados – 2 testes negativos e cerca de mais 12 ou 14 dias de acompanhamento – mas depois e de forma sorrateira altera as regras (sem o admitir) e passa a considerar como recuperados todos aqueles com dois testes negativos de covid-19, sem nenhum tempo adicional de espera; essa mesma equipa, numa operação puramente “di secretaria” – e os cabo-verdianos já têm a péssima experiência de perderem um jogo na secretaria – fez-nos amanhecer num belo dia com mais cinco casos positivos de covid-19: três milagrosamente “esquecidos” na Boavista e mais dois familiares do caso positivo de São Vicente que, mesmo sendo encontrados com anticorpos do vírus, não haviam sido contabilizados. Enfim!

“Primeiro desaconselha fervorosamente a utilização de máscaras, depois dá o dito pelo não dito e a torna de uso obrigatório; depois estatui um critério para a consideração de casos como recuperados, mas depois e de forma sorrateira altera as regras.”

A situação está de tal forma caótica na capital do país que o comum dos mortais não sabe mais em quem acreditar: é o profissional de saúde que tem medo de se aproximar dos casos positivos de covid-19, com quem contacta através de uma parede de vidro, mas que mesmo com materiais de proteção individual e na posse de toda a informação necessária se contagia, sabe-se lá aonde; é o agente de autoridade que incumpre sistematicamente as regras que foi incumbido de fazer cumprir e se torna um veículo de propagação do vírus por várias localidades na capital do país; é o deputado, representante do povo, que vai a festas nessa altura do campeonato, convivendo com “fujonas” da quarentena domiciliar; Enfim! Afinal também existe Covid “copu leti”.

Para nossa desgraça, o Estado de Emergência é um estado de exceção, pelo que dela havemos de sair, infelizmente, em breve, antes que a situação conheça dias melhores e esteja controlada. A partir daí, minha gente, será “cada um por si e Deus por todos”. Que Ele nos proteja a todos.

“Aos infetados que têm feito lives, certamente para mostrar que a vida não acaba com a contaminação, aconselho-vos vivamente a não o fazerem porque, infelizmente, muitas pessoas querem ver-vos tristes, deprimidos, como se estivessem condenados à morte.”

Uma última palavra, sobre a quarentena das pessoas que testaram positivo ao covid-19: até quando o “marido” vai continuar com essa atuação insustentável de levar todos para o mesmo espaço? Muitas dessas pessoas não estarão em condições de fazer o isolamento em suas casas? A que tratamento estão a ser submetidos que justifique colocarem mais de 20 homens assintomáticos no mesmo espaço, dividindo inclusive a mesma casa de banho? Não seria hora de aprender com os países que já passaram por isso? Quando o estado de emergência terminar e o número de infetados aumentar, quero ver aonde vão colocar as pessoas.

Aos infetados que têm feito lives, certamente para mostrar que a vida não acaba com a contaminação, aconselho-vos vivamente a não o fazerem porque, infelizmente, muitas pessoas querem ver-vos tristes, deprimidos, como se estivessem condenados à morte. Se mostrarem que estão bem, tentando passar o tempo como podem, as pessoas vão vos julgar e condenar à morte, ao contrário da covid-19, que mesmo tendo-vos infetado, parece querer poupar-vos a vida. Quanto a mim, fico feliz por saber que estão bem, animados e de boa saúde mental. Afinal, estar de quarentena não significa que tenham de desistir da vida. Continuem se protegendo, principalmente usando máscaras, para que não ponham em causa a recuperação de cada um de vós. Que Deus vos cure desse vírus!

Aquele abraço de sempre

Di “Badjuda brabu”

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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4 Comentários

  1. Temos que correr com este marido. De amadorismo a queda anunciada…tamos no mau caminho.
    Recomendo a leitura deste texto.

  2. A diversidade enriquece: ‘ca sim propi?’ Assim, acho que devias transitar para a poligamia, ou o poliamor… ou outra coisa qq na tua imaginação q te servisse. Boa ideia, essa da metáfora que atrai atenções

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