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Humanidade, precisa-se!

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Num convívio de amigos e na boa conversa dei por conta de divagarmos sobre um assunto extremamente importante nos dias que correm e nos próximos que aí vem: a desumanização dos Homens por razões várias e a possibilidade de extinção do ser humano.

Por: Nelson Faria

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É verdade que o mundo que temos hoje é cada vez mais incerto e volátil. Nada é e nem voltará a ser o que já foi antes… O que será? Não sei e não creio que alguém saiba com toda a certeza o que acontecerá nos próximos dez, vinte ou trinta anos. Entretanto, há sinais pouco abonatórios para a humanidade, referindo-me à natureza, condição e características, particularmente, as considerações éticas e emocionais relacionadas ao comportamento humano, o altruísmo, a compaixão, a bondade e a empatia.

Por conta das guerras mediatizadas que assistimos hoje com impacto global, Rússia x Ucrânia, Israel x Hamas, e de outras que poderão iniciar dentro em breve, como exemplo o caso da Venezuela e Guiana1 , ou mesmo, quiçá, China e Taiwan2 , onde cada um se posiciona de acordo com as suas conveniências, não com pseudo princípios e justificações que são enunciados e difundidos mediaticamente do lado onde cada um se encontra, temendo que cheguemos a terceira grande guerra, dizia, é visível a perda de humanidade, de equilíbrio e de bom senso. Características essas fundamentais e necessárias para a continuidade de uma espécie que se diz racional, porém, tudo o que tem demonstrado nesses eventos catastróficos é a sua irracionalidade, o desconsiderar dos semelhantes seres humanos por parte de todos os intervenientes. Na guerra ninguém tem razão. Quem tem são as vítimas. São os milhares de inocentes que são prejudicados e mortos por conta de outros interesses e radicalismos.

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É verdade que a história nos diz que guerras sempre existiram e nos trouxeram ao ponto que chegamos, mas, já não era tempo de termos aprendido algo com a História? Já não era tempo de evoluirmos de outra forma que não por via de guerras de incontáveis seres humanos mortos? Pior, contam-se também por infindáveis as justificações da guerra, de parte a parte, sejam elas: território, ego, religião, interesses, vingança, etc, e nunca se tem em consideração a justificação central para que não aconteçam: a preservação da humanidade e seus valores essenciais.

Falando em evolução, outro evento que pode ser catastrófico para a humanidade é a aceleração excessiva que nos encontramos a nível tecnológico. Antes de entrar onde quero chegar neste parágrafo, permitam-me aclarar que sou pró-evolução tecnológica pelos inúmeros ganhos para a humanidade. Sou e serei sempre um defensor da tecnologia por perceber nela as vantagens que permitem solucionar problemas pelas quais as nossas limitações e condicionantes humanas não nos permitiriam alcançar. 

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Portanto, ferramenta extremamente importante e útil para complementar e melhorar a nossa vida humana. Entretanto, a natureza humana gananciosa, narcisista, compulsiva, irracional, poderá levar a autossabotagem do ser humano e da humanidade. Se a tecnologia, com todos os ganhos e aspetos positivos que nos traz a nível da eficiência, comunicação e produtividade, tem interferido negativamente nas diferentes formas de interação presencial do ser humano3, a aceleração que assistimos de forma desregulamentada sobre a inteligência artificial (IA) generativa, assim como o desenvolvimento de computadores quânticos em modo concorrência4 , sem limites à vista, podem ser perniciosos.

Boa notícia nos últimos dias é a tentativa de regulamentação da inteligência artificial por parte do Parlamento Europeu5, contudo, insuficiente para a escala global do alcance desta tecnologia. Isto sem contar notícias que apontam que a “Geração digital”; tem apresentado quoeficiente de inteligência (QI) inferior ao dos pais6 , pois, o cérebro não deixa de ser um músculo que necessita ser exercitado para o desenvolvimento das suas potencialidades.

Com o avanço desregulado da IA, com a substituição dos transístores dos atuais computadores pelos qubits dos computadores quânticos, se utilizados de forma negativa, particularmente para guerras e eventos que exterminem seres humanos, com a regressão do QI, tensões geopolíticas e geoeconómicas de vária ordem, sem deixar de lado a questão relevante das alterações climáticas, com as limitações da natureza humana, temo, com sinceridade, que a humanidade passe a figurar na história do planeta como mais um ser que passou por ela e extinguiu-se tal como os dinossauros.

Quero crer que vamos a tempo de definir limites e colocar o travão que não nos permita chegar ao ponto de não retorno. Certo é que neste momento o figurino não é, de todo, favorável. Abordagens éticas, equidade, cooperação global, bom senso, equilíbrio e governança responsável desempenham um papel crucial na continuidade do ser humano e da humanidade.

A humanidade demonstrou capacidade de resiliência e adaptação ao longo da história. A forma como o ser humano lidará doravante com as guerras e o avanço acelerado da tecnologia determinará a sua continuidade, ou não.

1 – https://www.bbc.com/portuguese/articles/c1v2wpqk797o

2 – https://www.bbc.com/portuguese/articles/cw02510j97qo

3 – https://www.eumed.net/rev/caribe/2016/11/tecnologia.html

4 – https://www.targetso.com/2023/10/10/computacao-quantica/

5 – https://exame.com/inteligencia-artificial/parlamento-europeu-aprova-projeto-para-regulamentar-uso-da-ia/

6 – https://www.bbc.com/portuguese/geral-54736513

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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