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Carnaval do Mindelo expõe “males” do Governo

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Por: António Santos

A crítica social foi a principal “figurante” do Carnaval do Mindelo 2023. Além da sátira à falta de habitação condigna, apontou-se o dedo aos políticos (“só mudam as moscas”), mas também aos “crimes de colarinho branco”, ao desemprego e à justiça.

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“Apesar da crise, vai tudo de férias pelo mundo”, é uma das criticas que, eufemisticamente, se pode retirar dos festejos do carnaval do Mindelo, onde se cumpriu a tradição.

Para o grupo carnavalesco Monte Sossego, o grande vencedor do Carnaval do Mindelo 2023, com um enredo recheado de crítica social, censurou-se a falta de habitação condigna, segurança, os crimes de colarinho branco, justiça e desemprego no país. Mas, para explicarem o atual estado de degradação da vida politica e económica de Cabo Verde, o grupo carnavalesco “socorreu-se” do poeta Onésimo Silveira e o seu “Um Poema Diferente”, com mais de 60 anos, para “esclarecer” que os problemas da sociedade cabo-verdiano se mantêm.

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Para Monte Sossego: “O povo das Ilhas quer um poema diferente/ Para o povo das Ilhas:/ Um poema sem gemidos de homens desterrados”, porque, como diz o cronista Humberto Cardoso, citando a economista Mariana Mazzucato, na governação não se deve ficar só pelo fornecimento de bens públicos, mas ir mais além para a ideia do bem comum que requer o estabelecimento juntos do objetivo e o alinhar dos riscos e ganhos. Porque, e voltamos a citar Onésimo Silveira, “O povo das Ilhas quer um poema diferente/ Para o povo das Ilhas:/ Um poema sem braços à espera de trabalho/Nem bocas à espera de pão…”

E é por isso que o Governo cabo-verdiano, como ficou expresso no Carnaval, tem de acabar com a politica “espetáculo” e deixar de resistir ao diálogo construtivo e até racional. Para “a voz do povo” é necessário que os governantes percebam que é necessário tratar dos problemas concretos das pessoas. Por exemplo, decidir como ajudar efetivamente as pessoas face aos aumentos de alimentos básicos, como incentivar as estruturas públicas e privadas a fazer a transição energética para diminuir os custos da eletricidade e água e como mobilizar a sociedade para o esforço urgente e imperativo de elevar o nível do capital humano.

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De outra forma, pode-se acabar por ficar com um país em que, “perante a constatação de que recursos são escassos e há muitas incertezas pelo meio, todos se empurram para chegar à frente e, chegando lá, apoderar-se do que conseguirem arrebatar”, diz Humberto Cardoso.

As acusações de corrupção, nepotismo e clientelismo de vários tipos foram, por isso, as “grandes estrelas” do desfile carnavalesco do Mindelo, onde se apelou, por várias vezes, ao combate à corrupção e a uma maior transparência e nível de governança.

E tudo isto porque: “O povo das Ilhas quer um poema diferente/ para o povo das Ilhas:/ Um poema com seiva nascendo no coração da ORIGEM.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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