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“Bloqueio” ou “Vitimização”?

E se na próxima eleição, com o putativo candidato, tivermos o mesmo cenário, continuaremos na mesma senda de “autobloqueio” e vitimização?

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Por: Nelson Faria

Apesar de ao longo dos últimos três anos temos reparado que a palavra democracia não foi de todo interiorizada pelo incumbente da Câmara Municipal de São Vicente, parece que tenta um reinício do jogo para ver se desta feita consegue obter a sua desejada maioria absoluta, ou qualificada, para reinar e imperar como gosta porque, se calhar, só assim consegue governar o município: de forma ditatorial. Limites de mandatos deveriam existir… Bem ou mal, dependendo das perspectivas, já deu o seu contributo, por isso, creio ser tempo de novos protagonistas.

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Mera opinião pessoal, acho que é um descaramento destratar vereadores e deputados municipais da oposição ao longo de três anos e no último ano do mandato fingir uma paz podre para tentar passar um plano de atividades e orçamento com objetivos claros de ser reeleito, tal como o próprio já se posicionou, como putativo candidato. Sem entrar nos meandros do plano de atividades e orçamento, que não conheço, quero crer que, se fosse deveras bom para a ilha e respaldasse anseios que não apenas os do incumbente e sua entourage, se incorporasse negociações sérias e bem-sucedidas com outras visões da ilha, seria acolhido e votado favoravelmente. Mas, não!

Voltamos novamente ao jogo político do poder municipal, onde é fácil de reconhecer que, para mim, embora não seja o presidente que a Câmara de São Vicente precisa, é, claramente um bom político na medida em que joga bem com a maquiavelice, com os bastidores do seu partido e com a manipulação do eleitorado, essencialmente por três razões: a necessidade, a superficialidade e a falta de informação. Óbvio que os soldados pagos espalhados pelas zonas do município ajudam, os acólitos do partido seguem cegamente, a exploração da mão de obra e a precarização do trabalho favorecem, sem contar com outras forças invisíveis… Não julgo de todo mau o que foi feito em São Vicente nesses mandatos. Há coisas boas e assinaláveis, há obras que favorecem a ilha, porém há um conjunto de aspetos negativos igualmente assinaláveis, entre as quais, a forma de exercer o poder e de praticar a democracia. Cada um dá o que tem…

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Todavia, já se convenceu que, para ganhar eleições em São Vicente, basta iniciar obras para serem acabadas no início das eleições seguintes, ou manterem-se inacabadas, entre outros estratagemas pré-eleitorais, utilizar as dependências criadas em período eleitoral e realizar festas e festivais que favorecem a autopromoção. São Vicente se resume a isto?

Com o chumbo do Plano de Atividades e Orçamento para 2024, o que se seguirá? Naturalmente, o jogo da manipulação política consiste em controlar e influenciar a opinião pública, vitimizando com a narrativa de “bloqueio da oposição”. Sinceramente, creio que o problema de São Vicente não se encontra no posicionamento dos pseudo candidatos, está sim na capacidade do eleitorado não ser maleável, manipulável e nem “comprável”. Um eleitorado que sabe distinguir a vitimização, a desinformação, a retórica persuasiva, a propaganda, a divisão e a polarização, a tentativa de aniquilar os diferentes ou não alinhados.

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É assim tão difícil aceitar a democracia, a vontade do eleitorado e as maiorias relativas? Só se pode governar o município se a votação favorecer com maioria absoluta? Já era tempo de sabermos lidar com a democracia independentemente das quotas da votação de cada um… É assim tão difícil saber negociar sendo esse um dos requisitos necessários para exercício de tão privilegiado papel? E se na próxima eleição, com o putativo candidato, tivermos o mesmo cenário, continuaremos na mesma senda de “autobloqueio” e vitimização?

Com as linhas que cosemos já não tenho grandes expectativas, desejando apenas que São Vicente avance na diversidade de perspetivas, seja o farol da democracia, mesmo que o futuro eleito Presidente seja em maioria relativa, que a participação cívica seja pela informação e resiliência contra a manipulação. Desconfiem da “verdade absoluta” de uma única perspetiva, da vitimização a que ora assistimos, procurem a melhor informação possível de diferentes fontes. O papel do cidadão eleitor informado é fundamental para o que será de São Vicente após 2024.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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