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Opinião

Bran-bran do Carnaval e da Política

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Neste bran-bran do Carnaval d’Soncent, normal e positivo a meu ver, assiste-se outros, a nível político, não tão normal, nem positivos, onde, em catadupa, no dito país exemplar a nível de democracia em África, assiste-se a intolerância, a defesa dos egos e corporações de forma exacerbada em que nem os órgãos de soberania e nem os cidadãos são respeitados.

Por: Nelson Faria

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Desde a situação da Câmara Municipal, sem orçamento, agora em regime de duodécimos, à situação de confrontação da Presidência da República com outros poderes.

Da Câmara Municipal de São Vicente, visto o andamento, verificado o perfil dos intervenientes, particularmente do seu Presidente, não me espanta este desfecho mais que esperado. Entender, tolerar, aceitar e incluir os diferentes não é matéria para quem não é realmente democrata. Imposição de egos e outros interesses nunca foi remédio para harmonia e tolerância. Nunca foi democracia.

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Com se não bastasse, a defesa acérrima feita pela entourage, do topo à base, com muitos beneficiários pelo meio, leva com que a situação se agudize esperando apenas pelo tempo do “Deus” Tribunal decidir, um dia, se o outro Deus quiser. Quais as consequências desta atitude e desta situação para os munícipes? Que impactos terá num momento tão delicado de crise de subsistência numa população já estigmatizada pelas agruras deste tempo? Como viverão muitas famílias que gravitam à volta do poder municipal, a começar pelos seus mais de dois mil funcionários? Que repercussões indiretas em outras tantas e na dinâmica social, económica e cultural da ilha? Não sou o senhor das respostas, apenas das perguntas que me inquietam.

Outra situação na esfera política, não menos grave, é uma senda de pequenos conflitos e confrontos declarados à Presidência da República. A pessoalização das simpatias e antipatias, pessoais e partidárias, levam ao esquecimento por parte de pseudo-democratas que, ao menos, devem respeitar as instituições que fazem isto parecer democracia aos olhos do mundo. Apenas teriam a ganhar se tivessem esse fayr-play. Desde a animosidade com o órgão de comunicação social público que ignora a mensagem de ano novo, passando pelos anteriores conflitos públicos criados ao orçamento e cumprimento da agenda da presidência, pela disputa de protagonismo de agenda nas deslocações do Presidente, e, por fim, “com o bolo em cima da cereja”, expressão do autor, voilá, agressividade, desrespeito e intolerância. É isso que os “democratas” e os seus agentes têm a oferecer?

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Teimo em ser esperançoso acreditando que é possível melhorar o estado desta dita democracia, mas esbarro no realismo de um futuro comprometido com os erros passados, com a carneirice partidária, com a manipulação das mentes a conveniência de cada qual, num retrocesso, se calhar, ainda mais depressivo. Faz sentido esse jogo de protagonismo, de conflitos e confrontos constantes e permanentes numa lógica pessoal e partidária não se respeitando as instituições? Faz sentido perpetuar a intolerância e o desrespeito?

Em um espaço agradável, aprendi há dias uma forma simples de entender e tratar a diversidade e a inclusão. Vernã Myers (VP de Estratégia de Inclusão da Netflix) diz o seguinte: “Diversidade é convidar para a festa. Inclusão é convidar para dançar“. Portanto, já que, quer na Câmara Municipal, quer nos órgãos de soberania, a diversidade resulta do convite dos cidadãos eleitores, creio que para a festa ser boa e bem apreciada por todos, mormente pelos anfitriões, os cidadãos, não ficaria mal aprenderem todos a dançar uns com os outros. A incluir a diversidade sem estereótipos, sem rotulagem, sem preconceitos, sem intolerância, sem partidarite, sem agressividade.

Tal como no carnaval de Soncent, independentemente da competição do desfile oficial, o que se assiste, na essência, é uma mobilização geral da ilha, em cooperação, com uma causa em comum: o carnaval. Bonito de se ver, de aplaudir, de elogiar, de partilhar.

Se na política os eleitos, independentemente das suas cores e das instituições, pautarem pelas causas do bem comum, certamente os níveis de intolerância baixariam e em sentido contrário a cooperação seria maior, logo, os frutos de atuação de cada um e de todos em conjunto. Até contribuiriam para a melhoria da sua imagem e, quem sabe, o prémio Cacói do carnaval d’Soncent visasse outras situações sociais que não a política partidária e os seus protagonistas. Se estamos dispostos a evoluir, devemos estar dispostos a cooperar de forma ética e positiva. Creio que, no Carnaval ou na política, vale a pena levarmos avante a premissa de Pietro Ubaldi: “O próximo grande salto evolutivo da humanidade será a descoberta de que cooperar é melhor que competir.”

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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