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Atitude Rainha!

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Por: Nelson Faria

Empatar de dois, vá que não vá, mas de quatro?! Nunca tinha visto em prémios individuais onde concorrem quatro e empatam quatro sem que não haja como desempatar. Mesmo que possam dividir o valor monetário do prémio, como dividir a coroa?

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Mera constatação do óbvio, é “chover no molhado” dizer que o Carnaval de São Vicente apenas melhora a cada ano, com um nível de qualidade e requinte capazes de nos extasiar e envaidecer. Não apenas do desfile oficial, mas sobretudo esse momento. Por isso, todos os fazedores de Carnaval, de todos os grupos, merecem esse reconhecimento, parabéns e obrigado da nossa parte. Já cantou Vlú: “Soncent ká tem rival na Fever”. Verdade!  A expectativa que criamos, a ânsia que o evento do desfile de competição acarreta, as tensões e discussões, advém da qualidade que nos têm brindado, pois fosse o evento sem valor não teria tanta atenção e paixão envolvidos.

Parabéns também para o público que assistiu de forma interessada, apaixonada, vibrante e ordeira, mesmo com questões que necessitam ser tratadas a seu favor, nomeadamente a colocação das bancadas em espaços onde deve ser revista a sua ocupação, por razões de segurança e de maior participação popular, como também no “quesito” venda de bilhetes e a indignidade que tem acarretado. Questões essas que a LIGOC deve levar em consideração para a harmonização e sintonia do evento que se pretende com o público que faz parte e quer assisti-lo.

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Caiu o pano sobre o evento do desfile oficial com a entrega de prémios no dia de ontem. Naturalmente, a percepção individual dos prémios tem muito a ver com as nossas simpatias, aproximações, parcialidade, conveniências, interesses e um mar de subjetividades que nos ligam às pessoas e aos grupos carnavalescos. Por isso, creio ser correto as decisões estarem assentes em um regulamento e um júri que se norteiam por um referencial que permita melhor objetividade e justiça na definição dos prémios.

Para isso, haja um bom regulamento, atualizado, se necessário, e um bom júri, sem medo de decidir, pois nunca e em circunstância alguma será possível agradar a todos. As decisões nos concursos têm essa “ingratidão”, todos podem ser merecedores, mas apenas um será vencedor. É saber lidar com fair play quando as decisões não nos agradam. Da mesma forma, as opiniões discordantes na pós-decisão serão legítimas e naturais, porque trabalhar muito e não ver o reconhecimento desejado custa, porém, com comunicação correta e transparente acabam por ser aceites. O que também tem faltado…

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É inevitável não falar dos “empatas” e dos empates, particularmente no concernente às Rainhas de Bateria! Todas deram um espetáculo à parte, foram maravilhosas. Creio que as decisões mais difíceis do júri estavam à volta das Rainhas de Bateria e das Baterias. Foram magníficos!

Do júri espera-se decisão, o que não se vislumbrou em algumas categorias, uns com critérios de desempate, outros não, o que elucida sobre o instrumento, o regulamento, e, quiçá, sobre o júri do concurso. Empatar de dois, vá que não vá, mas de quatro?! Nunca tinha visto em prémios individuais onde concorrem quatro e empatam quatro sem que não haja como desempatar. Mesmo que possam dividir o valor monetário do prémio, como dividir a coroa? O título em prémio individual?

Concordo com muito boa gente que diz que já que há empates em prémio individual, a matemática obriga a multiplicar os prémios individuais e não os dividir, mas, como ficam as outras atividades que requerem participação da vencedora? Devem estar todas? Infelizmente, esta trapalhada acabou por ofuscar muito das discussões pós-evento que deveriam ser de aclamação do grande Carnaval que tivemos, concordando ou não com os prémios, o que é subjetivo.

Mas, o que me encantou neste “empata” foi a atitude Rainha! Das Rainhas de Bateria. Assumiram frontalmente que têm valor e não têm preço, que sabem o valor do brilho que trouxeram, sabem dos seus sacrifícios, do seu empenho e desempenho com a visão de serem coradas, uma delas, “Rainha de bateria 2024”.

Com este ato mostraram uma dignidade que devia servir de lição a muitos. Não abaixar a cabeça quando se conhece o valor, não se contentar com migalhas, saber valorizar-se, empenhar, dedicar e brilhar para triunfar. A minha reverência a todas pela atitude que tiveram. Quem tiver de decidir, que decida. Volto a dizer, não agrada a todas, mas, vale mais uma má decisão do que a indecisão. Foram dignas e magníficas até no ato de rejeição do “empata”.

Perante isto, espero que a LIGOC e os grupos que a compõe reflitam sobre situações apontadas pelo público que assistiu ao Carnaval que quer também a sua melhoria. Fecharem-se como “donos de todas as verdades do Carnaval” pode não ser abonatório na realização de eventos futuros. Escutar, filtrar, assimilar as boas contribuições de parte interessada, a sua maior parte, o público, apenas possibilitará a continuidade de melhoria do evento, o que todos desejamos. Para o ano há mais, com a evolução que tem caracterizado o evento, espero.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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