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Luz no fundo do túnel para emigrante que vive com paciente infectado com coronavírus em casa

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Começa a surgir uma luz no fundo do túnel para a emigrante em Portugal que há duas semanas vem vivendo em casa com um doente oncológico infectado com o Covid-19. Segundo “J”, após a publicação da reportagem do Mindelinsite foi finalmente contactada pelos serviços sanitários portugueses e passou a ser acompanhada telefonicamente por uma enfermeira. Essa medida foi também estimulada pela intervenção de Ildo Rocha Fortes, responsável do Gabinete de Apoio ao Imigrante, e Nuno Sousa, gestor do INPS em Lisboa, que continuam a tentar auxiliar a família.

Assim, desde a passada sexta-feira que “J” e o doente passaram a ser acompanhados à distância por uma enfermeira, mas, apesar do conforto psicológico que essa medida provocou no estado de espírito da emigrante, ela ainda não a satisfaz. Na verdade, a expectativa dessa mãe é que ela e os filhos sejam submetidos a testes de Covid-19 com urgência. Esta recorda que estão a viver sob esse risco há pelo menos 14 dias, com o doente confinado num quarto, mas usando a mesma casa-de-banho que as outras pessoas.

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“Na sexta-feira prometeram que viriam retirar amostras hoje, segunda, mas adiaram essa deslocação. Posso estar mais reconfortada psicologicamente, mas é fundamental que venham fazer o teste para saber como eu e os meus filhos estamos”, realça “J”, que tem estado sem sintomas típicos da doença, mas já o filho de 15 anos continua a sentir dificuldades respiratórias. Ainda ela não sabe qual a causa. Além disso, a filha de 4 anos sofre de outras patologias.

Nestes últimos dias, segundo “J”, o doente oncológico, de 52 anos, deixou de ir para o hospital por conta da infecção. Esta acrescenta que o paciente não consegue ir sozinho para o estabelecimento, pelo que teria que o acompanhar. “Fazendo isto poderia estar a colocar em risco outras pessoas tanto no trajecto como no hospital”, frisa “J”, que levanta outro problema: é o próprio doente que tem estado a ditar-lhe a temperatura corporal para repassar a enfermeira, mas tem dúvidas se ele está a usar o termómetro correctamente.

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Graças a ajuda de amigos cabo-verdianos e portugueses, alguns da Amadora, “J” tem conseguido alimentos e materiais de higiene para ir sobrevivendo. É possível que passe também a usufruir do apoio da Câmara Municipal de Sintra. Esta edilidade foi abordada por Ildo Rocha, cujo gabinete trabalha em parceria com a associação Cretcheu, que expôs a situação da emigrante cabo-verdiana através de uma carta, e tudo indica que “J” passará a receber apoio do banco alimentar. Além disso, o gabinete de Apoio ao Emigrante da zona Sul levou o caso ao conhecimento da administração regional da saúde de Lisboa e Vale do Tejo, que passou a colocar uma enfermeira em contacto com a residência do doente.

Segundo Rocha, este caso é único na comunidade cabo-verdiana residente em Portugal. “Que eu tenha conhecimento, pois a verdade é que não temos a noção real da quantidade de cabo-verdianos contaminados. A doença tem estado a provocar estigma social, aumentando ainda mais o confinamento dos infectados. As pessoas preferem esconder a sua situação para não enfrentarem outros problemas”, refere Ildo Rocha, que enaltece o trabalho social feito por algumas entidades em Portugal, como a Associação dos Doentes Evacuados de Cabo Verde – que lançou a campanha social Girassol – e a congénere Nasce e Renasce para recolha de alimentos. Todo o trabalho é acompanhado pelo gabinete de apoio ao emigrante, que está também preocupado com a situação de estudantes e jovens que viram as remessas dos pais reduzir, perderam o emprego ou os seus rendimentos ficaram substancialmente reduzidos.

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A situação da emigrante “J” é também do conhecimento da Embaixada de Cabo Verde em Portugal e do INPS – instituto responsável pela evacuação do paciente doente de cancro. Ambos orientaram-na a seguir as orientações dadas pelas autoridades de saúde no quadro da intervenção no contexto da crise sanitária, apesar do drama que ela e o doente têm vivido. Aliás, “J” acha que neste momento é fundamental o apoio psicológico ao paciente, que está fechado num quarto há 14 dias seguidos.

Kim-Zé Brito

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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