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Jornalista Gláucia Nogueira cria museu virtual da música cabo-verdiana

A história e memórias da música de Cabo Verde passam doravante a estar melhor preservadas e disponíveis ao público com a criação do museu virtual, um projeto da jornalista e antropóloga brasileira-cabo-verdiana Gláucia Nogueira, que se quer, de acordo com a promotora, venha a contribuir para a educação e a cultura das novas gerações. 

Gláucia Nogueira, que reside atualmente no Brasil, disse, em declarações ao Mindelinsite, que Cabo Verde & a Música – Museu Virtual é um espaço de partilha e um local para o acolhimento de contribuições dos cabo-verdianos, transmitindo-as para a ampla comunidade. De acordo com a promotora do projeto, a sua criação foi com o intuito de preservar e divulgar dados sobre o universo musical de Cabo Verde e assegurou que todas as informações serão tratadas com o máximo rigor no museu virtual. “As fontes merecerão o maior respeito, juntando texto, imagem, áudio e vídeo no sentido de poder cumprir o desiderato de preservar a memória contribuindo, deste modo, para a construção da História”, fez saber Gláucia Nogueira.

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A jornalista e antropóloga indicou ainda que o projeto do museu virtual surge na sequência de Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens, editado em 2016, após 20 anos de trabalho de investigação e redação. A referida obra tem 672 páginas e 964 personagens, entre grupos, compositores, intérpretes, professores, regentes de banda… 

Do período de elaboração do dicionário, segundo a autora, resultaram várias outras obras e muito material recolhido que pode agora ser partilhado via museu virtual. “Esses materiais existem em diferentes formatos – áudio, vídeo, texto, foto, imagens diversas –, o que justifica este projeto multimédia”, realçou Nogueira, que acredita que a veiculação online desses conteúdos irá permitir o acesso de pessoas distantes de Cabo Verde geograficamente, mas próximas pelos seus interesses e afinidades.

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Gláucia Nogueira entende que o museu físico e o virtual têm de comum o facto de documentarem conteúdos que enformam o conhecimento que se quer preservar e partilhar. “Como todo o museu é um arquivo e o trabalho que exige é o mesmo que se tem num museu físico”, enfatizou a promotora de Cabo Verde & a Música – Museu Virtual.

Cabo Verde não dispõe de um museu físico dedicado à música de forma abrangente e, assim, Gláucia Nogueira espera que esta iniciativa ajude a preservar a memória de factos, personagens, histórias e trajetórias relacionadas com o complexo universo das práticas musicais em Cabo Verde e nas suas comunidades emigradas.

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O interesse de Gláucia Nogueira pela música de Cabo Verde surgiu quando morava em Portugal, no início dos anos 1990, época em que a música de Cesária Évora começou a tocar nas rádios. Disse que foi descobrindo pouco a pouco os discos de música cabo-verdiana, como os de Bau, Bana, Travadinha, Tubarões, ao mesmo tempo que ouvia música cabo-verdiana em lugares onde se ia para dançar (Ritz Club, onde tocava Tito Paris e Maria Alice cantava; Pilon, onde Dany Silva, Leonel Almeida e outros atuavam todas as semanas). 

“Nessa época comecei a fazer freelancer num jornal cabo-verdiano, o Novo Jornal de Cabo Verde, e eu cobria a parte de sociedade e cultura, acompanhando os eventos que aconteciam na comunidade cabo-verdiana”, indicou, para acrescentar que em 1994 foi morar na Praia, ainda a trabalhar no jornal, onde comprou muitos discos.

Acrescentou que em 1993 saiu um livro em França, que era uma minienciclopédia da música africana, intitulado Les Musiciens du beat african, o qual achou interessante, reparando no facto de que havia pouca coisa dos PALOP e de Cabo Verde. Ao imaginar fazer algo semelhante, pensou ser melhor concentrar-se apenas em Cabo Verde, que já conhecia, tinha discos, entrevistara já vários artistas, todo um caminho já percorrido. 

Ao longo desses anos, Nogueira acabou por produzir quatro livros (os dois primeiros já em segunda edição, como e-books). Entretanto, acabou por fazer o doutoramento em Patrimónios de Influência Portuguesa, na Universidade de Coimbra, e defendeu a tese Músicas e danças europeias do século XIX em Cabo Verde: percurso de uma apropriação

“Acho importante dizer também que eu sempre quis trabalhar com cultura, com jornalismo cultural, mas no Brasil, no início da minha carreira profissional, isso não aconteceu, e foi Cabo Verde que me deu essa oportunidade” realçou Glaucia Nogueira

A nossa fonte adiata que, além da paixão pela música, viu que havia tantos assuntos ainda por serem investigados, o que lhe deu estímulo para voltar para a universidade e estudar antropologia, fazer mestrado, doutoramento. Sublinha que este trabalho com o museu virtual é uma consequência e um seguimento dessa trajetória em que encontrou na música de Cabo Verde um assunto para a sua vida inteira. 

João A. do Rosário

Obras publicadas

– O tempo de B.Léza – Documentos e Memórias, editado pelo Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro em 2005; 

Notícias que fazem a história – A música de Cabo Verde pela Imprensa ao longo do século XX, ed. da autora, 2007, com patrocínio da seguradora Garantia;

Batuku de Cabo Verde – Percurso Histórico-Musical, editado pela Pedro Cardoso Livraria, 2015 (é resultado do mestrado em Património e Desenvolvimento, na Uni-CV).

Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens, editado em Portugal, ed. Campo da Comunicação, 2016. 

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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