A estrela da morte que ameaçou o Facebook no último ano, depois de sucessivos escândalos de privacidade e práticas duvidosas, foi desativada no quarto trimestre de 2018. Os resultados apresentados pelo império de Mark Zuckerberg deixaram o mercado em euforia, com recorde absoluto de lucros e subida do volume de negócios acima do que era esperado. Não chegou a haver uma nova esperança neste ano emblemático para a empresa, que quase iniciou um processo de auto-destruição devido a passos em falso na liderança.
Os números do trimestre findo em dezembro mostram que os utilizadores estão mais confortáveis que nunca com as práticas do Facebook e das suas outras duas plataformas principais, Instagram e WhatsApp. A maior rede social do mundo tem agora 2,32 mil milhões de utilizadores activos mensais, um aumento de 9%, e a tendência de perda dos últimos trimestres – em especial na Europa foi revertida. O mercado reagiu em grande, levando as ações da empresa a valorizarem 12% nas trocas fora de horas.
“A nossa comunidade continua a crescer e o nosso negócio entregou bons resultados neste trimestre”, congratulou-se Mark Zuckerberg no início da conferência com analistas que se seguiu à apresentação de resultados. “Há agora 2,7 mil milhões de pessoas que usam o Facebook, WhatsApp, Instagram ou Messenger todos os dias”, anunciou o CEO, inaugurando um formato que passará a ser central nas próximas apresentações. A empresa vai começar a focar nas métricas da “família Facebook”, mais um sinal de que Zuckerberg pretende diluir as fronteiras entre as redes apesar de ter prometido mantê-las independentes quando concretizou as aquisições.
“Fizemos progressos reais”, garantiu o responsável, falando das mudanças e investimento em questões importantes como integridade das eleições, segurança de dados e privacidade nos últimos dois anos. “Mudámos de forma fundamental como gerimos a nossa empresa”, descreveu, no habitual tom aspiracional com que costuma enquadrar o negócio do Facebook.
Os analistas não tiveram uma atitude de confronto nem questionaram Zuckerberg sobre o facto de a Apple ter rescindido a autorização para aplicações de pesquisa interna do Facebook no iOS – no dia em que se soube que a empresa anda a pagar a adolescentes para que estes partilhem os hábitos de utilização do smartphone. O programa acabou no iOS, mas vai continuar no Android e levanta mais questões sobre as práticas da rede social, mas não foi disso que se falou. A folha financeira do Facebook mostrou um desempenho impressionante, tanto no trimestre como no ano fiscal de 2018. No trimestre, foi alcançado o lucro recorde de 6,88 mil milhões de dólares, um aumento de 61% face ao ano anterior, e receitas de 16,9 mil milhões, uma subida de 30 por cento. A publicidade mostrada nas aplicações móveis da rede gerou 93% das vendas, totalizando 16,64 mil milhões de dólares. No ano fiscal, as vendas subiram 37% para 55,8 mil milhões de dólares e os lucros escalaram 39% para 22,1 mil milhões.
Zuckerberg e a diretora de operações Sheryl Sandberg endereçaram as oportunidades de crescimento no futuro, sendo que ela reiterou que o Facebook “não vende dados pessoais” para fins publicitários. É isso que “mantém o Facebook um serviço gratuito”, salientou, anunciando que as plataformas da empresa têm agora 7 milhões de anunciantes. Em 2019, um dos planos é reforçar a encriptação e a efemeridade das mensagens, para que “os conteúdos não fiquem por aí para sempre”, disse o CEO. As mensagens instantâneas estão a crescer muito, referiu, e esse será um foco; haverá mais interação com empresas e mais capacidade de fazer pagamentos usando as apps da rede.
Zuckerberg disse esperar também que o Watch, o novo agregador de vídeos do Facebook, cresça de forma exponencial. A ideia é que os vídeos não interrompam as interações pessoais dos utilizadores e pela experiência dos últimos meses, juntar os vídeos num separador próprio contribui para o aumento do consumo de vídeo. O Watch já tem 400 milhões de utilizadores mensais, um número bastante interessante para a empresa.
Quando questionado sobre a possibilidade de um dia os utilizadores receberem compensação pelos dados que partilham, Zuckerberg disse ser a favor de “descentralizar e pôr o poder na mãos das pessoas”, mas não respondeu diretamente à possibilidade de monetização.
C/Dn.pt