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Opinião

Viagens pelo Norte

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Por Nelson Faria

Diz Noam Chomsky que uma das estratégias de manipulação das massas é o problema-reacção-solução que consiste, basicamente em, “deliberadamente, deixar de assistir ou assistir de forma deficiente certas realidades. Eles fazem dessa visão dos cidadãos um problema que exige uma solução externa. E propõem a solução eles mesmos”. Isto é, cria-se um problema para depois se aparentar como os grandes mestres da solução do problema criado pelo autor da solução/problema.

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Ora, nada mais aplicável ao que assistimos relativamente a polémica à volta do transporte marítimo inter-ilhas, nomeadamente na linha Santo Antão – São Vicente. De repente, após visitas ministeriais ao Porto Novo, assistimos declarações de governantes indicando que o problema será resolvido, se necessário, com possibilidade até de seguir caminhos mais radicais na linha de cessação de contrato com a nova concessionária dos transportes marítimos. E pergunto: Quem criou, ou, ao menos não acautelou a possibilidade de existir? De repente apareceu um problema do nada e apareceram, milagrosamente, as soluções?

Não pondo em causa as boas intenções na tentativa de melhorar o transporte marítimo inter-ilhas, que necessitava em muitos aspectos, facto é que o Norte mais uma vez ficou prejudicado com decisões nesta matéria. Desde o figurino das rotas, agora, na linha mais rentável, na disponibilidade de navios e condições de acesso ao serviço pelos consumidores. Já é o que é a nível aéreo e assim prosseguirá a nível marítimo onde era e é exemplo de segurança, qualidade, know-how e satisfação garantida pelos operadores nacionais que há muito fazem esse trajecto.

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Mas, como dizia, no que toca aos transportes, infelizmente, não podendo voar nem navegar, o Norte corre o risco de estagnar. Será isto o futuro? Ficaremos pelas promessas e boas intenções, com realizações aquém do comprometido e expectado? A ver vamos.

Triste fico com o posicionamento, ou falta dele, das autoridades locais que não vêem o impacto disto na vida social e económica de São Vicente. Com São Nicolau já não voamos juntos, e pelo mar é cada vez menos mantenhas e encomendas. Sem transporte, sem comunicação, se isolados, pereceremos. Resta-nos a satisfação de ter reparado o posicionamento dos irmãos santantonenses, à sua maneira, para, ao menos, serem anunciadas melhorias. Pois, aguardemos por elas.

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De todo modo desejamos sempre o melhor. Acho que queremos todos. E que não fique somente pelas boas intenções. De boas intenções estamos como inferno: cheios. Esperemos que melhore de facto. Ao menos que volte ao nível do serviço que existia.

As intervenções, sejam elas quais forem, só podem ser compreendidas como benéficas se trouxerem benefícios aos seus destinatários, a população, à sociedade civil, aos consumidores. As intervenções per si, sem melhorias, porque são da minha autoria, são tolices. Que as soluções não sejam manipulações, mas sim intervenções estruturantes de melhoria. Vistas, vividas, compreendidas e aceites pelos cidadãos.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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Um Comentário

  1. A CMSV não reage porque perdeu a búsula. Sabe pouco, de tudo. – Neste caso, é uma VERGONHA.
    O governo e o seu polvo administrativo (de entre eles a TCV, a CNE, as Federações desportivas, tudo com a complacencia do governo) não fazem, porque não querem o bem de S.Vicente. Nem este nem o do PAICV. Podes crer. Nunca quizeram. – Neste caso, é uma VIOLÊNCIA DESMEDIDA.
    Dos deputados por S.Vicente, se tirarmos António Monteiro, sobra NADA. – Neste caso, é uma TRISTEZA.

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