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Opinião

São Nicolau, terra que deu um contributo de ouro a Cabo Verde

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Por Albino Sequeira

A ilha de São Nicolau posiciona-se geograficamente quase que inteiramente no centro do arquipélago de Cabo Verde, tem 343 km² e possui uma população à volta das 12 mil pessoas. Na verdade, esse número da população já foi um pouco maior. A pacata região, que se situa à norte do país, que faz parte do grupo das ilhas do Barlavento, é colorida pela seca, consequência das poucas chuvas nessa ilha.

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Os setores de atividade mais importantes são a agricultura e a pesca, que geram mais da metade da riqueza de São Nicolau, que se comprova pela existência de uma unidade de conserva e transformação do pescado, a fábrica Sucla. Do lado da agricultura, hoje, a aposta em máquinas modernas para aumentar a produtividade é cada vez maior na zona de Fajã.

As referências deste pequeno território são vastas e enormes, quer a nível da literatura, música, política, saúde, história, do património, da religião e de condições naturais. Identificar as potencialidades da ilha da morna “Sodade” convida-nos a elevar o posto e a importância que esta merece na classificação nacional.

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Os fatos apontam que o Seminário da cidade de Ribeira Brava servia para formação de pessoas, inclusive recebeu grandes figuras, como é o caso do pai de Amílcar Cabral, daí ser considerado o primeiro liceu de Cabo Verde. Ainda a história nos permite afirmar que o primeiro médico do país terá sido Júlio Dias, natural da Ribeira Brava.

O baú da riqueza dessa ilha não pára por aqui. O livro mais conceituado e mais vendido na história do arquipélago é de Baltasar Lopes da Silva, a obra “Chiquinho”, traduzido em várias línguas, com destaque para o inglês. A música que levantou a bandeira de Cabo Verde bem alto a nível internacional é sem margem de dúvida a morna “Sodade”, composta e cantada pelas gentes de Praia Branca, um canto, rocha bem exposta aos olhos do mundo com a voz de Armando Zeferino, que cantou “sodade” na partida para São Tomé e Príncipe, do mestre e sábio Paulino Vieira, que quis ser poeta para engrandecer o nome da rica ilha de São Nicolau.

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Embora com todas essas valências e patrimónios na sua fonte, isso parece não jogar a favor e até hoje não renderam um escudo para o tesouro da ilha dos dragoeiros. Conta apenas com trava-línguas dos sucessivos Governos e dos ilustres representantes que passaram e que ainda passam pelos bancos da Assembleia Nacional, na promessa de discutir e relevar os interesses dos Sãonicolauenses e que ficam nos gaguejes atrás da língua.

Exigimos com direito e por respeito que seja reposto o que se retirou de São Nicolau, a menosprezar a história, a cultura, o contributo de ouro que demos e damos a Cabo Verde. Nada mais justa a instalação de um polo da universidade pública naquela ilha, nada mais coerente que a biblioteca nacional fosse fixa em São Nicolau, ou pelo menos ter uma biblioteca regional em condições, com bibliografias que permitem uma investigação de classe, comemorar o dia da cultura nessa região e reconhecer a personalidade e o trabalho de Júlio Dias, ex-médico, que mandou construir o cais da Preguiça e a igreja de Praia Branca. Já está na altura de termos um centro de saúde regional, que ofereça as melhores possibilidades para um tratamento digno dos pacientes.

Por muitos anos assiste-se de forma pacífica à indiferença da nossa querida terra em relação às outras ilhas, trata-se de um reflexo político vergonhoso e fútil, pois essa região carregou sobre si a maior parte dos investimentos e produções agrícolas, sobretudo na era da economia cafeeira, cana-de-açúcar, sendo também a primeira área do território nacional a industrializar-se. Apesar de ser considerada a região mais histórica do país, a ilha de São Nicolau também carrega consigo graves problemas socioeconómicos, quase todos vinculados ao que se chama desinvestimento público e desleixo dos partidos. Ninguém mais conhece e ouve falar dessa ilha montanhosa, por carência de ligações regulares dos transportes. Uma medida que prejudica as pessoas, os agricultores, pescadores, investidores e o turismo da região.

As atividades económicas são maioritariamente familiares, com o fim apenas da sustentabilidade dos agregados. Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), revelam, que é a terceira ilha mais pobre do arquipélago.

Do ponto de vista de desenvolvimento económico ainda há muito por fazer, impondo-se um diagnóstico preciso. Entretanto, pode haver uma recuperação rápida e gradativa, se algumas medidas políticas forem imediatamente tomadas. Antes de qualquer intervenção, no entanto, deve uma equipa fazer a elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento de São Nicolau, a realçar os impactos e os resultados num curto prazo.

A ilha de São Nicolau precisa do esforço e amor de cada um dos seus filhos, por outro lado, precisa de vozes que façam valer os seus direitos, de líderes, de bons representantes e de políticos que se ponham ao serviço dos seus cidadãos. Estamos a necessitar de alguém que, para além de dizer que São Nicolau merece mais e melhor, dê uma contribuição efetiva para que isso se torne uma realidade.

E neste contexto, além da competência técnica, as Elites Cabo-verdianas têm de cumprir diariamente com deveres que abarcam valores e padrões de comportamento, ou seja, trata-se de ética, e o sucesso delas na vida académica, nas profissões liberais, na área financeira, económica, social e de gestão, tem de ancorar aqui, partir daqui e retornar sempre aqui.

Na verdade, os sãonicolauenses não podem deixar de pensar que os concidadãos que constituem as Elites Cabo-verdianas são os que podem desempenhar um “serviço cívico” em nome da responsabilidade e da cidadania no sentido mais profundo de solidariedade nacional, pelo que se deveriam dispor a participar ativamente nas reformas necessárias para o desenvolvimento da ilha, visando a redução efectiva da pobreza.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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9 Comentários

  1. 1ª) Que deputados como o Nelson Brito (MPD) e o Américo Nascimento (PAICV), descubram (e parece que têm de esforçar muito para descobrir) que têm ou deveriam ter um “coração”, e não somente, um “interesse”.
    Que deixem de ter medos quando estão na oposição e arroância quando estão na situação.
    Que compreendam que o seu partido (interesses pessoais de carreira política) nunca pode ser mais importante que a sua ilha.
    2º) Que se regionalize o país em duas regiões – Barlavento (Santo Antão, S.Vicente, S.Nicolau, Sal e Boavista) e Sotavento (Maio, Santiago, Fogo e Brava) ou em três regiões – Norte (Santo Antão, S.Vicente e S.Nicolau), Leste (Sal, Boavista e Maio) e Sul (Santiago, Fogo e Brava).

  2. Pois é meu caro, esses mesmos deputados acharão e votarão a favor do Estatuto Especial da Praia com medo de perder os seus tachos.

  3. S.Nicolau deu e tem muito a dar para C.V, mas tem que mobilizar todos os filhos para lutar a favor a S.N contra o sistema imposto por Paicv e dado continuidade por mpd e afirmar a sua importancia em CV. Triste ver SN, Mobilizar contra a equipa do mindelense e ficar com o rabo entre as pernas a lamber a Capital.

  4. Esse erro contra o Mindelense, faz parte do passado.
    Eu acho que TODAS AS ILHAS (incluindo S.Vicente), nalgum momento, já ficaram com o rabo entre as pernas a lamber a capital.
    Isto foi o resultado natural do exímio e desequilibrado jogo de forças que Praia teve a ideia de implantar em Caboverde, praticamente dizendo o seguinte a cada ilha:
    – Se ficares do meu lado nas minhas decisões arbitrárias, autoritárias, abusivas e desonestas, eu te deixarei uma migalha que retirarei de outra ilha.
    – Para atingir esse objetivo centralista, Praia conseguiu envolvernos a todos nesse jogo, o que acabou por alastrar o bairrismo a todo o país.
    Por isso em vez de estarmos permanentemente em cobranças como esta do Hs, o melhor é investirmos na compreensão e no perdão.
    Nós em S.Vicente também erramos, muitas vezes até com nós próprios.
    VAMOS TRABALHAR, LUTAR SE FOR PRECISO, PARA CONSTRUIRMOS UM CABOVERDE DE AMIZADE E AMOR MÚTUO.
    Nenhuma das outras oito ilhas é defensora do centralismo.
    Têm sido sim, defensoras daquilo que podem ganhar, abstendo-se de manifestar contra esse centralismo.

  5. A nossa querida,amada ilha foi mais privilegiada pelos ditos colonos portugueses,actualmente estamos sendo colonizados pelos nossos proprios patricios.

  6. Bem descrito acerca da ilha de São Nicolau.
    Uma ilha que merece mais atenção aos Cabo-verdianos e principalmente ao governo. A ilha de São Nicolau está a ser cada dia mais desvalorizada e abandonada pelo governo. Esse abandono contribui pela desnívaldade e a perda da população por falta de trabalho que o governo não cria para jovens e à população em geral por toda a ilha.
    São Nicolau é uma ilha que tem muitas potencialidades . Como foi bem descrito, é aí o berço da humanidade Cabo-verdiana. O antigo Seminário Licéu, bem já devia ser desenvolvido para ser uma das maiores Universidades de Cabo Verde neste momento. Porque tem que haver dois ou mais Universidades na Praia? O antigo Seminário Licéu em São Nicolau tem uma potencialidades tremente para ser uma grande Universidade. Isto traria muitas oportunidades de trabalho, oportunidade para os talentos da ilha, a segurança da população e jovem que estão deixando a ilha e familiares à busca de trabalho ou vida melhor noutra ilha vizinha ou no estrangeiro.
    Estamos farto de mentiras da parte do governo Cabo-verdiano. Prometem tanto e nada faz na ilha, principalmente na altura das eleições.
    Se não fosse a emigração que suporta as famílias Sãoniclauences, a Ilha estaria deserta. A ilha de São Nicolau merece muito mais. É uma das ilhas que tem mais potencialidade no Arquipélago de Cabo Verde.
    Precisamos de apoio do governo para o desenvolvimento da ilha. O transporte para e fora da ilha, para o benefício da população, os agricultores e também o turismo que a ilha precisa.
    É de muita gratificação da minha parte que o governo volta cara para Sã Nicolau.
    Gostaria, mas não posso escrever mais, porque vivo nos Estados Unidos da América e de momento estou no trabalho, pois tenho muito a fazer
    Muito obrigado

  7. A nossa história teve um berço, berço da intelectualidade e promotor do conhecimento.
    São Nicolau é ilha mais centralizado do arquipélago, com potencialidades enorme de desenvolvimento.São Nicolau tem condições naturais para construção de um porto de águas profundas que poderá receber qualquer navios de grande Porto, inclusive cruzeiros.
    com o desenvolvimento do turismo através de um programa sustentável de divulgação turismo.
    Cabo Verde tem condições climáticas únicas com temperaturas favoráveis para turismo todo ano.
    Sao Nicolau sendo a ilha mais central facilmente seria o ponto de ligação com outra ilhas.

    Os governos têm que fazer um exercício de consciência e ser imparcial no que diz respeito ao desenvolvimento de Cabo Verde , aproveitar as condições naturais e intelectuais de cada ilha e maximizar os seus pontos positivos.

  8. De facto, é estranho que ninguém nunca tenha tido a ideia de aproveitar a centralidade geográfica de S.Nicolau para fomentar as ligações entre as ilhas.
    Porque é algo que está aos olhos de qualquer um, que S.Nicolau poderia funcionar como um “terminal” a nível dos transportes inter-ilhas.

  9. Analisando os prós e contras, fará todo o sentido as ilhas do norte formarem uma Regiao, ate porque tem muitas afinidades, formam um triângulo que se complementam e bem planeado dará os seus frutos…

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