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Opinião

Promoção da saúde nos bombeiros

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*Por: Anilton Andrade

A mudança de comportamentos e estilo de vida é uma das principais decisões que se pode tomar para a prevenção das doenças crónicas, surgindo como um desafio e uma oportunidade para se ter uma vida saudável.

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A promoção da saúde ocupacional deve-se constituir um desígnio nacional e operacional de todas as forças para-militares em Cabo Verde. Neste sentido, torna-se pertinente a promoção de estilos de vida saudáveis em todas as classes profissionais, mormente nos Bombeiros nacionais.

Já algumas vezes trouxemos este assunto para discussão, falando obviamente dos riscos apresentados, inerentes à atividade e missão dos soldados da paz, o que fundamenta a necessidade de definir uma linha estratégica prioritária para a promoção de estilos de vida saudáveis nos Corpos de Bombeiros.

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É importante observar que, para além das usuais e almejadas preocupações relacionadas com a qualidade operacional e a segurança, também uma questão que se nota cada vez mais urgente é, nitidamente, a procura pela Promoção da Saúde. Esta deve ser central e estratégica em todo o planeamento das Corporações de Bombeiros, pois apresentará benefícios no desenvolvimento de um efetivo mais robusto e saudável, com maior capacidade operacional, com ganhos na saúde e, sobretudo, com aumento da qualidade do socorro prestado às populações, como reflexo da melhoria operacional.

Qualquer programa de promoção de saúde que se quer exequível, implica uma consciencialização tanto dos próprios Bombeiros como das Autoridades que os tutelam, pois, as diferentes realidades encontradas nos diversos Teatros de Operações (TO), exigem uma permanente disponibilidade e adaptação.

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Uma pergunta que se torna pertinente é como fazer para desenvolver e implementar estas ações?

Ora bem, como qualquer outra missão numa Corporação dos Bombeiros, a iniciativa de promoção da saúde implica a definição de um plano. Este plano importa desenhar um conjunto de ações que permitam, em primeiro lugar, perceber as reais necessidades, obter aprovação e consenso e conseguir a sua implementação, facilitando um correto planeamento das necessidades, bem como das melhores estratégias para a implementação, monitorização e avaliação das ações.

Como fonte posso referenciar o documento “Health and Wellness Guide for the Volunteer Fire and Emergency Services”, onde recomenda-se, para os Bombeiros, a promoção da prática de atividade física, alimentação equilibrada, hidratação adequada, gestão do stress, regulação do sono sempre que possível, utilização de equipamentos de proteção individual (EPI), apoio Psicológico e vigilância médica regular. Este mesmo documento recomenda que devemos evitar o sedentarismo, o consumo do tabaco, bebidas alcoólicas, substâncias psicoativas e evitar o excesso de peso ou obesidade. É de todo pertinente sublinhar que o consumo do tabaco, para além das suas conhecidas consequências a nível da saúde, está provado que dificulta a respiração com Aparelho Respiratório Isolante de Circuito Aberto (ARICA), interferindo desta forma no desempenho operacional do Bombeiro.

No que tange ao apoio Psicológico, está subdividido em dois eixos, a saber: Eixo proativo que consiste na promoção da resiliência Psicológica dos Bombeiros, a nível individual, de equipas e do Corpo de Bombeiros, independentemente da ocorrência, ou não, de um incidente crítico. Em complemento, o Eixo reativo configura a prestação de Apoio Psicossocial aos Bombeiros expostos a incidentes críticos potencialmente traumáticos, no decorrer de situações operacionais, bem como aos seus respetivos familiares.

Para um programa de intervenção, de forma bastante sucinta poder-se-ia apresentar um conjunto de medidas, categorizadas em três modalidades de prevenção, que são diretrizes para um programa integrado de promoção da saúde ocupacional dos Bombeiros:

1-    Ao nível da prevenção primária (evitar fontes de stress), requer-se a resolução de questões de natureza organizacional que estão sob o controlo dos Comandos, a ativação e procedimentos de comunicação na emergência, a revisão das modalidades de funcionamento por turnos, o aperfeiçoamento de procedimentos de emergência pré-hospitalar…entre outras.

2-    Relativamente à prevenção secundária (melhorar a capacidade de gestão do stress), deve-se incidir na realização: de programa de promoção da utilização de estratégias de gestão do stress proativas nos Bombeiros em missão de socorro; programa de promoção da resiliência psicológica, que inclui técnicas individuais para gerir o stress crónico e agudo vivenciados em incidentes críticos que devem serem integradas na formação de base dos Bombeiros; formação sobre “Gestão de Incidentes Críticos” para dotar os superiores hierárquicos de ferramentas para gerirem o stress dos seus subordinados; desenvolvimento de uma cultura organizacional mais saudável, que integre o papel da gestão das emoções e resiliência.

3-    Em relação à prevenção terciária (recuperação de perturbações psicológicas), do eixo reativo, justifica a criação de equipas de Apoio Psicossocial, em todo o arquipélago, com uniformização de procedimentos e técnicas de intervenção em todas as estruturas de prestação de socorro nacional ou municipal e uma actuação articulada nas intervenções Psicológicas.

Creio que com o aumento da população estudantil nas Corporações dos Bombeiros, com as vontades público-privadas em termos de protocolos, apostas em equipas de Apoio Psicossocial (que já deveria ser uma realidade, há muito tempo) e sobretudo com o apoio das equipas multidisciplinares, é possível promover, fortalecer, humanizar e cuidar de quem socorre.

A digitação para o número de emergência 131 neste artigo de opinião, vai no sentido de que boas vontades são necessárias, de parte em parte, pois ou haverá tempo para se cuidar hoje da saúde, ou, infelizmente amanhã terá que ser alocado tempo e recursos para cuidar da doença.

Psicólogo Clínico e Bombeiro

Presidente de BUSF- CPLP/CV: Bombeiros Unidos sem Fronteiras

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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