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Manuel Figueira, o artista que resgatou a tecelagem e a panaria

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Por: David Leite

Amanhã será dado à terra Manuel Figueira. A cultura caboverdiana está mais pobre desde ontem, e muito tristes estão os amigos do Mestre.

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Respeitosamente me inclino perante a memória deste amigo de longa data, ilustre profissional das artes plásticas e investigador incansável da nossa cultura popular. Manuel Figueira foi o artífice e o pioneiro de um dos mais audaciosos projetos culturais nascidos com a independência, o de resgatar da penumbra do esquecimento a tecelagem e a panaria tradicionais das ilhas. Tal era a sua missão, e conseguiu os seus desígnios, juntamente com outros artistas e pesquisadores de grande quilate que trabalharam com ele.

Lembro-me de Manuel Figueira como meu professor de desenho (ou trabalhos manuais) no Ciclo Preparatório após o seu regresso de Portugal em 1974, vindo da Academia de Belas Artes de Lisboa. Trabalhava em dueto com a esposa Luisa Queirós, também ela artista plástica, e ao casal juntou-se Bela Duarte, expoente notável do batik com outras técnicas de tingidura em tapeçaria.

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A este trio “de choque” ficamos a dever a Cooperativa Resistência, criada em 1976. Mas a obra maior destes três inseparáveis foi o Centro Nacional de Artesanato (corolário da Cooperativa), criado em 1978 por Manuel Figueira que o dirigiu até 1989. O CNA existe até hoje, agora com o nome de Centro Nacional de Artesanato e Design.

Um dos grandes méritos de Manuel Figueira é não se ter contentado em estudar as práticas da nossa cultura popular em acelerado declínio, mas também de as resgatar e valorizar como como ofício e fonte de rendimento dos artistas nas suas mais diversas expressões. Muitos dos que hoje vivem das artes manuais em S. Vicente já deram testemunho do quanto aprenderam com o mestre Figueira enquanto mentor e formador. A emoção dos que falam dele demonstra a generosidade e o altruísmo deste grande senhor das artes, um gentleman que terá deixado uma bela marca de Cabo Verde por onde passou expondo as sua obras, a solo ou colectivamente, nomeadamente em França, Portugal, Brasil, Espanha, Áustria, Bélgica ou EUA.

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Minhas homenagens, muita luz e paz no seu caminho.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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