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Maçonaria: Desfazendo o mito (parte 2): Paramentos, ser maçom e falsa maçonaria

Ser maçom é o que mesmo? Para o senso comum, para as pessoas simples, é ser alguém poderoso.

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Por: Cídio Lopes(Doutorando em Ciências das Religiões)

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Paramentos

Numa missa o padre usa “umas roupas diferentes”? Podemos chamar essas roupas de paramentos litúrgicos. O mesmo ocorre na sessão maçônica. Para tornar o momento solene, portanto carregado de simbolismo, utiliza-se sempre algumas “roupas” próprias, que habitualmente chamamos de paramentos. Tomando o Rito Escocês, é recomendado terno preto, camisa branca, gravata preta, etc. Se for a tradição ligada às Grandes Lojas, de influência inglesa, faz uso do azul marinho.

O terno é uma vestimenta padrão e básica. No momento da sessão se utiliza algumas “alfaias”. Seria adereços feito em pano, que se coloca sobre os ombros, os punhos, etc. Sendo o “avental” o mais importante e peça fundamental da nossa tradição. O avental simbólico faz alusão ao adereço de proteção utilizado pelos pedreiros. Em termos simbólicos ele tem outros significados.

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O efeito prático e pedagógico é tornar um momento humano em algo singular, solene. Que demanda atenção máxima, que demanda um palavreado respeitoso e elevado. E por esse e outros estratagemas da pedagogia maçônica é que faz dela uma “metodologia” muito eficiente em aglutinar pessoas. Algumas pessoas procuram ver nesses “rituais” coisas de outro mundo, mas para profissionais da pedagogia e das ciências da educação é muito simples e historicamente contextualizado tais estratégias que propiciam um ambiente eficiente e eficaz no ensino.

Na igreja católica as várias agremiações marianas também usam paramentos. São fitas que se colocam sobre os ombros no momento em que se “celebra a santa missa”. Os Arautos do Evangelho, uma associação de católicos, utilizam roupas, fitas, etc., como paramentos litúrgicos como forma de criar um contexto externo e visual capaz de propiciar o clima mais favorável à sua fé.

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4 . Ser Maçom

Ser maçom é o que mesmo? Para o senso comum, para as pessoas simples, é ser alguém poderoso. Se um maçom assim pensar, estará no lugar errado ao menos duas vezes. A primeira, ele logo verá, é que o espírito de ajudar ao próximo ou de humanista da maçonaria em nada fala de como conseguir poder, mas de como servir. Em segundo lugar, a pessoa que não conseguir romper o olhar do senso comum e vulgar em nada estará preparada para ser maçom. Esses são os dois motivos de exclusão de candidatos que batem às portas da maçonaria.

4.1. Falsa maçonaria

E muito simples de saber o que é um projeto não-maçônico. Se houver promessa de “poder” e toda “lorota” de que sua vida vai mudar material e financeiramente, esse é o maior sinal de que pessoas que não compreenderam maçonaria estão lhe vendendo fantasias.

4.2. Propaganda sobre maçonaria

Pode parecer estranho que um grêmio composto por pessoas não goste de fazer propaganda de si. Ter como estratégia ser discreto e até mesmo dissimular o interesse daqueles que apresentem interesses por fazer parte dele. Contudo, com poucas explicações, logo perceberemos que a divulgação maçônica deve ser algo discreto. Essa estratégia pode ser lida de duas maneiras. Num primeiro olhar, podemos dizer que algo que ocupa lugares estratégicos não precisa se propagar como as demais mercadorias.

Noutra perspectiva, mais elaborada, se o objeto do grêmio for lidar com a subjetividade das pessoas; se o desafio dela for exercitar semanalmente na superação de traços mesquinho da condição humana; se o desejo dela for “combater os vícios, dominar as paixões”, por essa natureza ela deseja ser bem discreta. Ninguém precisa saber dos aspectos que julgo fraco em mim mesmo; a minha (nossa) subjetividade não está aberta em praça pública. Ela é aberta a poucos, precisamente a pessoas as quais cultivamos vínculos fraternais e que mesmo no seio de uma associação dessa natureza esse processo leva tempo, muito tempo. Nada menos que 20, 30 anos de caminhada.

4.3. Discreta e não secreta

As atas das reuniões maçônicas são de conhecimento do Estado. A Maçonaria é uma sociabilidade filantrópica, filosófica e fraternal. Nela não se discute ilicitudes ou qualquer coisa do gênero. No geral ela é registrada nas instâncias governamentais que cuida dos registros das pessoas jurídicas. Sendo uma Loja maçônica uma pessoa jurídica de direito privado e com finalidades de propagação cultural, convívio fraternal recreativo e assistência social. Não há segredo e o Estado acompanha movimentações financeiras, patrimonial, etc. Sociedade secreta nos países ocidentais são proibidas.

4.4. Benefícios em ser maçom

Na filosofia contemporânea se discute o fato de que a nossa “consciência” só é em função de outras consciências (Vicente Ferreira da da Silva, entre outros). Nossa existência individual só é possível na medida em que ela se relaciona com outras. Sem entrar aqui nessa explicação, o coletivo de uma Loja maçônica permite que esse fenômeno ocorra. A Loja maçônica possui toda uma estrutura que propicia as condições para que esse coletivo de pessoas possa cultivar um tipo de consciência, aquela apregoada pelos movimentos culturais como humanismo, iluminismo e seus desdobramentos em nossos dias, isto é, como humanos temos propósitos existenciais que rompem com os aspectos biológicos que nos compõe, para manifestar aspectos outros que não o puramente material.

O erro básico que pode motivar “ser maçom” é pensar que uma vez nesse clube as “portas lhe abriram”, sobretudo no sentido de contatos privilegiados. Tal ideia é muito restrita, para não dizer simplista, pois, se consideramos a inciativa privada, tais contatos podem sim ser feitos a partir da maçonaria, mas nunca como sendo seu foco. Como se diz num ditado brasileiro, “quem vai com muita sede ao pote, pode quebra-lo”, assim pode ser esse interesse em maçonaria. Se for só isso, certamente será frustrante.

Noutra perspectiva de se ter contatos, deve-se ter claro que desejar ter informações privilegiadas no que toca a assuntos de Estado, constitui, na grande maioria dos ordenamentos jurídicos, crime de “tráfico de influência”. E se associar para tal, constitui já noutro crime. Logo, é certo e líquido que tais propósitos não serão realizados na maçonaria.

O foco de uma Loja deve ser a condição humana em geral e dos humanos em particular que a compõe. Devemos cuidar dos nossos limites e humildemente compartilhar nossas forças. Jamais cuidar da “vida alheia”, incluindo a dos irmãos. No máximo se caminha junto, mas cada um precisa caminhar sua jornada pessoal.

4.5. Problemas na maçonaria

Fazer negócios entre irmãos é a fórmula perfeita para dissolver um grupo de pessoas que ali se aglomeraram para outros fins. Se o grupo mau conhece o que é ser maçom e logo já atropela as coisas para falar de outras; o resultado serão pessoas que não entendem de maçonaria; e pouco entendem de negócios. Apesar da simplicidade e clareza esse é o fato mais corrente nas Lojas maçônicas novatas.  E consiste no principal fator que acaba com Lojas.

A pior pessoa é aquela que “entende mau algo; que diz entender algo que nada sabe”. Antes de qualquer coisa temos que ter claro: “pessoas livres decidem se juntar, de modo totalmente livres”. Portanto, nada prende as pessoas nesse grupo, elas podem ir embora a qualquer momento. Manter o grupo consiste numa tarefa exigente, manter o grupo centrado no trabalho humano que ele se propõe ainda mais difícil.

4.6 Contas a pagar

Todas as contas de manutenção do Templo e Loja são mantidas pelos seus membros. Projetos filantrópicos, promoção cultural, assistência de familiar, etc, serão rateados entre os membros. Todo planejamento de Loja será votado, discutido e, se aprovado, assumido coletivamente. Não existe mágica nesse sentido.  

5. Quem pode ser maçom

Alguém que tenha tempo para se dedicar à maçonaria. Capacidade intelectual razoável e condições financeiras para se dedicar a esse tipo de atividade. Em termos humanos, ser humilde e capaz de formar grupo.

Quem não conseguirá contribuir com a maçonaria? Pessoas muito importantes; indivíduos muito ricos e que habitualmente exercem muito poder. A maçonaria é uma atividade altruística e colegiada. Uma confraria na qual temos irmãos que humildemente sabem que “do pó viemos e para o pó voltaremos”. E que ninguém é empregado dele.

 No passado “áureo” da Maçonaria, isto é, nos séculos XVIII e XIX, havia dois tipos de pessoas. Intelectuais e pessoas ricas compunham a maçonaria, pois nela você entra não para receber, mas para dar algo; seja conhecimento ou fundos. Não será estranho maçons em nossos dias, época que a Ordem não goza de muito status quo, pensarem que apenas “ter dinheiro seja o suficiente”, fórmula ligeira de se acabar com um grupo.

 6. Negócios podem surgir a partir da Maçonaria

É possível verificar que algumas Lojas, quase raras, têm mais sucessos que outras no quesito “negócio” de sucesso. Algumas Lojas conseguem, por exemplo, promover projetos sociais de assistência a crianças, idosos, escolas e até faculdade. (Aqui em SP, Sobei – Sociedade Beneficente de Interlagos – fundada nos anos 1980; Colégio Elias Zarzur vinculado à Loja Astro das Arábias; Sendo essa última fundada em 1947; predominantemente composto por descendentes de libaneses radicado em São Paulo, região do bairro Paraíso.)

Apesar de ser cauteloso sobre fazer negócio na maçonaria, devo dizer que no atual cenário do Brasil, é muito corrente existirem pequenos comerciantes, profissionais liberais, funcionários públicos (juízes de direito em peso) e militares. De certo modo a maçonaria não se caracteriza como um “balcão de negócios” dado a esse perfil de público. O mais comum nesse sentido é advogado e contabilistas oferecerem seus serviços.

Toda vez que alguém procura “fazer negócio” com a maçonaria vira motivo de piada. Sempre aparece alguém do tipo. É uma ótima oportunidade para se queimar e para os antigos notarem o que não se deve fazer.

De modo muito lento, será possível ver parcerias discretas entre irmãos de Loja. Mas essa realidade é feita com cautela, pois com muito frequência se verifica fracassos, desentendimentos e ruptura do grupo ou Loja em função dos “negócios profanos”. Portanto, se é possível fazer negócio a resposta pode ser sim, mas é necessário respeitar uma série de rituais sociais, dentre eles o tempo. A pressa não é amiga da maçonaria.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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