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E a nossa língua?

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Por: Nelson Faria

O que será das demais variantes daqui a uns anos? Interessa elimina-las com o tempo? Não creio ser este o melhor caminho.

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Enche-me de esperança, de ilusões e expectativas quando o meu filho de cinco anos regressa à casa do pré-escolar e mostra-me o que aprendeu, particularmente no domínio das línguas. Mesmo com problemas de fonologia evidentes, da idade e hereditários, melhorou o seu crioulo, diz algumas coisas em português e já conhece algum vocábulo do inglês. Mais do que isso, é curioso por saber mais e mais palavras em inglês. Isto deixa-me esperançado e desejoso que seja continuado no ensino primário que ele entrará a partir de Setembro.

Antes de chegar onde quero com este texto, para que não restem dúvidas, permitam-me abrir um parêntese bem grande para dizer o seguinte: Adoro o meu e o nosso crioulo, a nossa língua materna, em cada uma das suas variantes, não fosse eu descendente de gente de várias ilhas com vários sotaques e falares. Adoro a singularidade, a idiossincrasia de cada um de nós nas expressões, na forma de falar, nas variantes linguísticas existentes no país. Gosto de ouvir um “repez, mnis” de Santo Antão, um “boys, broda” de São Vicente como um “rapaz, minis” de Santiago. Sabe bem ouvir a identidade na voz e no falar de cada um e ver que ela faz parte de mim. Compreendo-as todas e falo no meu. Onde há espaço para duvidas, recorro a outra língua que nos une, o Português.

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A beleza da nossa língua, creio, está nas suas variantes, nas diferenças que fazem cada um ser cada um. Aliás, por isso, assumimos como povo soberano, ilhas espalhadas que formam um arquipélago singular, cheio de maravilhas, sendo uma delas as variantes linguísticas. Tentar resumir isto a uma única variante apenas, dita “maioritária”, além de parecer ser colonização das demais, é contribuir para eliminação do outro, redução de uma das nossas riquezas assim como exclusão das demais que não o falam e nem o percebem integralmente.

Infelizmente, isto tem sido cada vez mais frequente nas campanhas de comunicação das empresas e instituições nacionais, felizmente não todas, mas, na sua larga maioria e em continuação. Já nem há preocupação de se tentar uma tradução circunstancial adaptada a cada ilha para que se tenha o alcance da comunicação desejada. Tipo, “quem entender que entenda, quem não entender que se desenrasque” ou “todos devem entender isto desta forma”.

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O que será das demais variantes daqui a uns anos? Interessa elimina-las com o tempo? Não creio ser este o melhor caminho. Creio, sim, que contribuirá para a perceção existente e vivida “pelas periferias” de subjugação de um centro despótico que além de dominar a vertente política, administrativa, económica quer também a linguística e cultural. Que consequências?

Para mim, ser cabo-verdiano é saber reconhecer o que nos une, o que nos difere e aceitarmo-nos como somos, sabendo que as diferenças são belas mais-valias que fomos presenteados. É o nosso diferencial que nos faz culturalmente ricos e atrativos. Certo, nesta altura, parece ser que há mesmo vontade de imposição da língua materna “na sua variante mais falada” como veículo de comunicação escolar e institucional e isto preocupa-me. Preocupa-me porque quero que o meu filho seja um são-vicentino, cabo-verdiano e cidadão do mundo. Para isso, ele não tem de ser obrigado a aprender e a falar na variante mais falada como veículo de aprendizagem.

Ele precisa saber falar no seu crioulo materno, na variante regional, com o tempo conhecer todas as outras variantes, fala-las se quiser, mas, para estar e ser um cidadão do mundo ele deve aprender o Português, também nossa língua, e línguas estrangeiras que quiser, sobretudo as mais faladas.

Não creio ser razoável a tentativa de redução do crioulo em apenas uma variante, quer no ensino quer nas campanhas de comunicação que temos assistido das empresas e instituições nacionais. Não sou linguista e nem tenho pretensão de imiscuir em saberes que me ultrapassam, porém sou um cidadão que sabe quem é, onde está, aceita todos, aprova e aprecia a beleza da nossa diversidade. Insistindo nisto, ao que este andamento conduzirá? Os tempos di-lo-ão.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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