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Opinião

Da Praça/Largo Cesária Évora “ex. Praça Dom Luís”

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Por Alexandre Novais

Acaba de ser executada no lado Norte da chamada Praça Dom Luís um mural exímio e de grande dimensão da nossa Diva Cesária Évora pelo artista global Alexandre Farto aka Vhils, o que não era a ideia original, mas que veio de facto trazer uma dimensão completamente nova tanto à Obra como à Praça, nos impondo forçosamente a todos, agora e de forma consistente, a questão da sua proteção e mesmo projeção!

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Veio à tona entretanto aquilo que para os mindelenses deveria se constituir em mais uma polémica (nô ka ta gostá pôk), que é o facto de aparentemente no terreno frente à obra e constituindo o lado Norte contíguo à Praça estar prevista a construção do novo Centro Cultural Português, obra essa certamente fruto de muita luta e abnegação da parte de quem por ela se bateu. E imagino, agora que fui informado de que essa dita obra está prevista para breve, não deve ter sido pouca coisa… E é assim que, penso eu, tanto a magnitude da obra do Vhils em homenagem à Cize como o nobre intuito que constitui a construção de raiz do CCP devem se constituir em somatório para a cidade e nunca o inverso se transformando em polémica, quiçá incidente diplomático!

Digo aparentemente visto que mais uma vez faltou alguma comunicação da parte tanto do CCP como da CMSV, ou talvez e como já se vem constituindo em hábito, filtra muita pouca informação sobre as obras a serem realizadas na cidade até ao momento do seu arranque, talvez justamente para evitar polémicas… Só que, por vezes, essa falta de informação é que se constitui em motivo de polémica. As pessoas, não sendo consultadas previamente sobre os destinos da cidade, acham-se (a meu ver legitimamente) no direito e mesmo dever de manifestar as suas preocupações, sugestões e por vezes oposições.

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Nas cidades europeias que conheço não existe nenhuma autorização urbanística mormente de projectos significativos ou em locais nobres que não passe por uma apurada Consulta Pública cujos resultados são RESPEITADOS impondo às Administrações o ónus de encontrar soluções que se adequem às vontades das comunidades e aos interesses, esses também legítimos, dos Donos da Obra.

Neste caso preciso da construção atenante a uma praça pública importante de Mindelo, lhe retirando parte essencial do seu espaço de respiração, de um imóvel seja esse qual for, é do ponto de vista da planificação urbanística e necessidade de espaços livres na cidade e a meu humilde ver, completamente desprovido de sentido, nomeadamente estético. É que uma cidade não é só feita de construções, é numa igual medida feita igualmente de vazios, vazios esses os quais os residentes são chamados a preencher com a alma dessa cidade. Infelizmente, este tem sido o modus operandi do desenvolvimento actual de Mindelo. Mas, como nenhum erro justifica outro, estaremos sempre a tempo de nos emendar!

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Não conheço a estória desse terreno, nem se foi adquirido pelo CCP antes ou depois de ser construída a Praça. O que posso dizer é que, a partir do momento em que se decidiu ali construir essa Praça, que tem o desígnio de se transformar numa zona emblemática da cidade, pela sua localização tanto relativamente à CMSV como à própria cidade do Mindelo, as nossas Autoridades tinham o dever de salvaguardar todas as ruas circundantes à mesma, lhe garantindo perenização e correcto enquadramento e desenvolvimento.

Imaginem agora, portanto, um imóvel a ser construído colado à Praça: ou este opta por executar uma parede lateral e cega exactamente em cima da praça, retirando à dita praça toda a sua nobreza urbanística e dimensão, ou, em caso de autorização, pode optar por fazer face à praça o seu alçado e entrada principal retirando-lhe toda e qualquer pertença global, transformando-a de algum modo num espaço do CCP ou no mínimo condicionando completamente as atividades nessa Praça justamente por conta dessa utilização “a uso próprio” da praça pelo CCP, caso a entrada deste estiver situada na praça.

Isto, minha gente, são considerações objectivas, que ninguém veja aqui por favor alguma maldade, seja com pessoas seja com instituições que todas elas, envolvidas neste processo são Gente do Bem e amantes desta cidade do Mindelo. E entre Gente do Bem haver-se-á de encontrar solução satisfatória para todos, que engrandeça a todos!

Vejo p.ex. mesmo ao redor da praça um terreno de canto onde está atualmente erigido um parking. Terreno esse que, não sabendo a quem pertence, mas sabendo o quanto tempo está ali em terreno baldio, poderia perfeitamente e em nome do interesse publico ser “negociado” (expropriado?!) e honrosamente entregue ao CCP para ali edificar o seu novo projeto. Outrossim, as nossas Autoridades tanto Locais como Nacionais têm agora o ónus e o dever para com esta cidade de resolver pelo bem, somando e não subtraindo, a questão da manutenção dessa magnífica obra homenagem de Mindelo à Cize, salvaguardando satisfatoriamente a nobre vontade do CCP de edificar um novo edifício cultural nesta cidade do Mindelo!

Ganharíamos todos!

A bem da presença e contribuição do CCP a esta cidade, a bem da Arte e da  Cultura, a bem da memória da Cesária Évora que temos o dever de preservar e mesmo projectar, a bem de Mindelo que tanto precisa de carinho, de amor, de comprometimento e de boa planificação…!!!

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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