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Caxote

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Por: Airton Ramos

Nos dias 5 e 6 de abril de 2024, a XPressá, Escola de Teatro pariu, no palco do Centro Cultural do Mindelo, a mais recente obra teatral – “CAXOTE”!

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Já o título, em si, poderá carregar infindáveis links, significações e/ou indagações, a priori. Por quê “Caxote”? Para quê serve um “caxote”? Servirá para guardar (apenas) coisas “velhas”? E quando é aberta – inquieta-nos ou sossega-nos?

Mas, por ora, não as vou responder! Por sadismo ou levar-nos a pensar? Tal como alguém terá tido (pleonástica e erradamente) – “para ambas as duas coisas”!

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“CAXOTE” é (uma peça de teatro) – que se eu tiver a insensatez de a colocar num “caxote” (etiquetá-la e/ou explicá-la a alguém) diria: que é um experimento agridoce, de um humor ácido-sulfúrico, catártico, inquietante, desnorteante… Que toca nas mais variadas feridas! Que critica, cutuca, incomoda… a tudo e a todos!

E a peça iniciou antes de iniciar! Mas, como assim? Há seis meses – quando os alunos da Xpressá, Escola de Teatro iniciaram esta formação que desaguou “CAXOTE”? Ou quando as personagens irrompem pelo público que está na fila à espera de entrar no Auditório do Centro Cultural do Mindelo?

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De todo, não sei responder! E pelo facto de não saber, já é um desafio pessoal! De procurar saber? De não querer saber? Ou contentar-me com a mausoléuica paz de “don’t give a fuck” para isso / para a arte / para o pensamento crítico… para me enfiar na podridão de um “caxote”?

“CAXOTE” é arte-polifónica que traz à baila a violência policial e no seio da prisão-caxote! A ideia do que é de fora é melhor que o nacional! Que os chineses já tomaram conta desta nossa terra – “te okupá tude brók”! Que o nosso património histórico é destruído e ninguém diz nada! Somos zombies amórficos e sofremos da “síndrome do rebanho”!

Dos artistas que se armam em superiores! Os egos-inflamados-podres de ser melhor que o outro! Do individualismo oco e dilacerante!

O Toc-Toc (Transtorno Obsessivo Compulsivo), a sexualidade-caxote, a ideia desmedida de querer medir tudo! E tudo pode ser medido, mensurado, encaixotado? A arte pode ser? A metafísica beleza do amor e da liberdade podem ser?

A ansiedade, a depressão, o milho-cachupa que é “cmida de pobre” – ou não?

“CAXOTE” traz-nos tantas temáticas, abre em nós tantas inquietações que não as quero colocar numa “caixa”! Urge pensar(-se) “fora da caixa”!

Tantas caixas! Tantas certezas deitadas por terra com “CAXOTE”!

A didática ao desserviço da educação! Os professores que são perseguidos pelo sistema e pelo Ministério da Educação! Os alunos que não querem sair da “caixa”! Os pais e encarregados de educação que os colocam na caixa-escola!…

“CAXOTE” é uma proposta que transpira trabalho – dos atores, da dramaturgia, da encenação, da sonoplastia, iluminação… Consegue ser rica semiótica e energicamente!

Qual tem sido o teu “caxote”: A droga, a prostituição, a pornografia, a riola, a inveja, o ego titânico de achar-se melhor que o outro, o relógio-frenético da rotina diária e da entrega de relatórios, trabalhos, projetos, avaliações…?

Um relacionamento fracassado onde o teu parceiro é fogoso e quer sexo a toda a hora e tu não (ou versa-vice)? Será a tela de um telemóvel? Serão as redes sociais? Será a cela de uma prisão?

“CAXOTE” é Gust(in) que não fala nada (é que uma apática persona-gente)! E quando resolve falar, mostra que é ELE quem manda na “Soncent.porra.toda”!

“CAXOTE” é o abórtico sistema de transportes aéreos e marítimos Made.in.CV! Pois, “li kê terra”!

É um espetáculo que explora brilhantemente as três dimensões-planos do teatro, quebra muitas vezes a quarta parede! É um prato cheio de tantos “caxotes” – que anseia tirar-nos (ou não) dos nossos! Será esse o papel das artes – sobretudo, do TEATRO?

Há quem nunca queira sair do “caxote” criado, vivido, adornado… Mata para não sair dali! [“It’s my PRECIOUS!”]

“CAXOTE” é tanta coisa, tantas referências, tantas intertextualidades, sabores e não-certezas!

Será que quando me proponho ser diferente não é (também) entrar num “caxote” (da criatividade e da liberdade)? Não será o melhor “caxote” de todos? Ou não?

Ao seres levado(a) para a “Última Morada” será num CAIXÃO-OTE!

Antes que isso aconteça, vive, ama, pensa, sente…

[Não sejas um “ptód aga” (como os atores) – a crítica para dentro]!

Sê tu mesmo (sem máscaras ou “caxote”)!

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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