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Índia destrói satélite e faz aviso

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Shakti, o nome com que a Índia batizou a recente missão destruidora de satélites, quer dizer “energia” ou “poder”. E foi isso mesmo que o primeiro-ministro Narendra Modi quis mostrar em vésperas de eleições, que o seu governo é enérgico e tudo fará para tornar o país poderoso. Tendo o teste com o míssil ocorrido semanas depois de combates aéreos com o Paquistão, é toda uma carga simbólica que surge associada a esta façanha tecnológica.

Só três países tinham tido até agora sucesso em mostrar capacidade de destruir um satélite em órbita: Estados Unidos, Rússia e China. Esta última foi pioneira ao surpreender o mundo quando em 2007 desfez um satélite seu obsoleto que estava em órbita a 800 quilómetros de altitude. E por muito que as autoridades indianas assegurem que o teste não tinha em vista nenhum rival, salta à vista que não são os Estados Unidos nem a Rússia a fonte de preocupação, nem sequer o Paquistão.

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Separadas pelos Himalaias, onde na década de 1960 chegaram a travar uma curta guerra, Índia e China acumulam desconfianças. Se, por um lado, a reforçada parceria entre chineses e paquistaneses só pode ser vista com preocupação por Nova Deli, também a capacidade dos indianos de se entenderem bem com russos (velhos aliados) e com americanos (as duas maiores democracias do mundo descobriram-se) gera receios em Pequim, mesmo que esta gaste três vezes mais em defesa.

Ambos os países são antigas civilizações, mas o ponto de partida moderno de cada um foi quase simultâneo, 1947 no caso da Índia, que se tornou independente, 1949 no da China, ano do triunfo comunista. Desde então são competidores, com os resultados da democracia indiana nas últimas décadas a serem inferiores aos do regime chinês. Mas se a vantagem é chinesa, não é certo que seja eterna, basta pensar na demografia. Os indianos em breve serão mais e sobretudo mais jovens.

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Modi e quem o desafia nas urnas (Rahul Gandhi, herdeiro da dinastia que domina o Partido do Congresso) sabe que a vantagem demográfica só vale se o capital humano for valorizado. E a tecnologia é a arma certa para tirar milhões da pobreza e acelerar a economia, sendo que no ano passado a Índia cresceu mais do que a China.

O míssil da missão Shakti foi lançado da ilha A.P.J. Abdul Kalam. Outro simbolismo. É o nome do cientista que permitiu à Índia afirmar-se no plano nuclear e espacial. Nascido pobre e na minoria muçulmana, Abdul Kalam foi eleito presidente num raro momento de acordo dos nacionalistas hindus de Modi com os congressistas da família Nehru-Gandhi. Era um herói nacional, com a autobiografia a ser bestseller.

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Seria bom que a pujança tecnológica indiana nunca tivesse de ser usada para fins militares, contra satélites hostis ou até como sistema antimíssil (muito mais difícil de ser eficaz), e servisse antes para ajudar ao progresso de um país que apesar das dificuldades nunca desistiu de ser nem democracia nem plurirreligioso. Ao longo de abril e maio serão quase 900 milhões os indianos chamados a votar. O BJP de Modi é favorito.

C/Dn.pt

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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