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Os partidos políticos…

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Por Nelson Faria

De maneira nenhuma, não compactuo com o não reconhecimento da importância dos partidos e o seu papel na democracia. Quem é democrata sabe que os partidos, enquanto organizações de cidadãos legalmente constituídas, são necessários para realização da democracia e da boa governança das sociedades, quando orientados para tal, exercendo o poder ou influenciando decisões do poder político. Aliás, não me custa reconhecer méritos e muita coisa bem-feita, assim com não me inibo e nem contenho a crítica quando acho necessária e oportuna. Simples opinião. Faço-o desde que sou cidadão com capacidade eleitoral, e já lá vão dezassete anos… E assim pretendo continuar.

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 Não nos deve custar reconhecer que a realização do país Cabo Verde, com erros e acertos, deveu-se também aos partidos políticos. A meu ver, são tão importantes organizações da sociedade civil que de forma alguma devem ser desacreditadas ao ponto de pôr em causa a própria democracia. Porém, infelizmente, os tradicionais, sobretudo do arco do poder, para lá caminham, muito por culpa própria das corporações.

Não sou nem nunca fui militante ou dirigente de partidos políticos. Simplesmente porque não me revejo nos “ideais” que praticam e na forma de actuação… As referências e intenções até são boas, porém, a prática tem deixado a desejar. Com isto não quero dizer que sou contra esses partidos ou contra os cidadãos que neles militam, simpatizam ou dirigem. Já disse, aplaudo e crítico, enquanto cidadão eleitor, o bem e o mal que fazem. Quem é realmente democrata e defensor da liberdade sabe entender e respeitar as posições e escolhas legítimas, que qualquer cidadão, em livre consciência, opte seguir. Portanto, merecem o meu igual respeito as organizações partidárias e os seus seguidores, particularmente quem o faz por ideais, por convicções sérias e honestas sobre a possibilidade da organização contribuir para o bem de todos.

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Creio que precisam de reverter o quadro de descrédito actual. Na minha leiga opinião, para isso basta que os partidos actuem de forma diferente para se credibilizarem perante a sociedade. Que sejam organizações dinâmicas o suficiente para se adaptarem à dinâmica social e nunca perpetuarem-se na altivez e arrogância retrógrada de donos da verdade. Que se orientem por políticas reais, exequíveis e realizáveis, que satisfaçam a colectividade, auscultando-a, em vez de objectivos corporativos, selectivos, ambições e ganâncias pessoais dos seus integrantes. Que se deixem de orientar por dogmas e demagogia barata que hoje convencem apenas os seus acólitos, fanáticos e cada vez mais radicais. Que saibam adaptar-se a uma realidade cada vez mais formada e informada. Mais capacitada e lucida sobre o que é deveras feito, por cada um e por todos. Que saibam adaptar-se e acolher a crítica como parte da melhoria que se quer para todos. Que saibam que hoje ninguém alinha em carneirinhas provas de fé ditadas em discursos demagógicos de “pseudo-deuses” . Que saibam que esta sociedade já não se rege meramente pelo carne ou peixe, pela situação ou oposição, por mim ou contra mim, sobretudo, em períodos eleitorais. Que há mais vida alem dos partidos e que não são o centro da vida e da política mas sim um canal para a vida social e realização de políticas colectivas. Que saibam interagir e respeitar a sociedade que regem e representam e possibilitar a sua participação directa nas decisões políticas. Falo sim, e porque não, da possibilidade de listas uninominais.

Como já disse, também não alinho com a postura fanática e radical de uns e outros partidários em que, basta a crítica não agradar, para ser conotado com oposição, do contra, ou outros nomes. Nem me refiro aos mascrinhas ou mascarados. Não alinho com a defesa “do clube partidário”, muito menos com a “partidarite aguda” que muitos sofrem e não lhes permite ver e posicionar sobre a realidade vivida, não a criada em discursos. Não alinho com a bondade circunstancial da oposição, porque convém, nem com a revelação da situação, que desdém… Vice-versa quando troca. Não alinho com o partidarismo clubista, fanático, interesseiro, corporativo e hipócrita. Isso não, isso nunca!

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Acho que os partidos não estão esgotados caso adaptarem-se a nova realidade. Caso abram efectivamente para a sociedade civil, caso alinhem deveras em ideologia e políticas que sirvam a colectividade, combatendo os males que alimentaram ao longo do tempo nas suas fileiras. Igualmente importante é a necessidade de reconfigurarem-se por eméritos elementos, credíveis, capazes de capitalizarem a sua importância em vez dos conhecidos carreiristas com objectivos evidentes: status, interesses, ganância e poder pelo vício. Os partidos podem e devem ser capazes de reformularem-se para servir ideais políticos que beneficiem toda a sociedade e todos os cidadão deste país em igualdade de circunstâncias e oportunidades.

Contudo, por este andar, caso se mantiver o cenário actual, que é o mais provável, não me estranharia e seria natural, o surgimento de outros partidos, outras forças políticas, espero, com propósitos e modus operandi capazes de capitalizarem-se e capitalizarem a democracia. Sem partidos, mesmo que não se configurem da mesma forma que os tradicionais, não há democracia. Não iludamos. Desejamos sim, que sejam de facto organizações da sociedade civil que sirvam, em primeiro lugar, a sociedade civil e os interesses colectivos.Área de anexos

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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