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Homens que odeiam mulheres

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Por: Maria de Lourdes Jesus

A comunidade cabo-verdiana em Roma acordou no dia 16 deste mês com a terrível notícia (Tg3 regional) de uma mulher de 42 anos que foi agredida na sequência de uma discussão violenta com um homem de origem cabo-verdiana. O homem derramou-lhe uma garrafa de álcool no rosto e no corpo, deixando-a aos gritos que atraíram a atenção dos vizinhos, que logo a socorreram contactando de imediato a Emergência. A mulher encontra-se hospitalizada com prognóstico reservado e o agressor na cadeia. Não se conhece ainda a dinâmica deste horrível crime que deixou a comunidade abalada e muito preocupada pela forma tão cruel da agressão. É difícil entender esse comportamento. Não sabemos de onde vem e qual é a sua origem.

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A nossa comunidade é tranquila, na sua maioria constituída por mulheres, respeitosas das leis e da cultura deste país e reconhecida pela sociedade italiana. Se houver algum caso de violência, desentendimento, guerra quente ou fria, o desabafo é sempre dentro da própria comunidade, dentro da própria casa, nunca envolve a sociedade italiana.

Em toda a história dos cabo-verdianos em Itália (desde o início dos anos ’60) assistimos a outros três casos de violência de homens cabo-verdianos contra mulheres: no dia 18 de Junho de 1990 uma jovem de 24 anos foi brutalmente assassinada e abandonada no campo dentro de um contentor na preferia de Roma. A essa brutalidade, a comunidade reagiu com muita determinação. Nessa altura, a Associação das Mulheres Cabo-verdianas em Roma teve um papel muito importante na defesa da vítima. Constituiu parte civil no processo e ao mesmo tempo mobilizou e envolveu a comunidade para que a vítima tivesse um dos melhores advogados, e assim foi. O processo terminou com uma sentença exemplar: 23 anos de prisão ao acusado.

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O segundo caso de assassinio foi em Outubro de 1994. Uma senhora foi espancada à paulada pelo marido até a morte. A justiça italiana condenou-o a longo tempo de prisão.

O terceiro caso de violência aconteceu em 2017 na cidade de Rimini. Uma italiana foi agredida com ácido pelo ex-companheiro cabo-verdiano, que não aceitava a separação. O agressor encontra-se na cadeia a cumprir os 10 anos de encarceramento e a vítima está ainda a ser submetida a operações para recuperar a sua aparência.

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A última ocorrência com uma mulher de origem cabo-verdiana está na boca e no pensamento de toda a comunidade. A família está a sofrer muito, mas não está sozinha. Toda a comunidade cabo-verdiana tem enviado mensagens de solidariedade e compaixão pelo estado da jovem.

Só uma coisa ficou clara nessa história: a violência no seio da nossa comunidade tem sido sempre pelas mãos dos homens, da primeira e da segunda geração. Foi sempre assim. Segundo os dados do dossier statistico idos, o número dos cabo-verdianos na cadeia è de 11 elementos e todos rapazes envolvidos também com o consumo de droga. É um número relativamente baixo, mas a situação é bastante grave. É um sinal de alarme para a nossa comunidade, para as instituições cabo-verdianas e italianas.

Este acto desumano de violência que aconteceu no dia 16 tem que ser enfrentado seriamente no seio da nossa comunidade. Temos que começar a trabalhar, não de vez enquando, mas todos os dias, sobre a origem e combater a violência contra as mulheres, seja em Cabo Verde seja na diáspora.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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