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Opinião

Fort d’ Sperá

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Por: Nelson Faria

Esta expressão ficou-me retida de uma intervenção brilhante da última ida ao Teatro para ver o nosso “Cabaret”, que nada mais é do que o estado da arte da nossa vida política, social e económica. Pois é, estamos todos “fort d’sperá”. Mas há uma espera que acho que não podia acontecer neste tempo, neste século onde a demanda da população assim o exige e a tecnologia o permite. Esperá pá CamaraEsperá pa Câmara funcioná, esperá pa Camara atende, esperá pa Câmara respondê… Sperá na porta d’Câmara.

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Quantos não somos que ao dirigirmos aos serviços camarários para o balcão único e tesouraria, centralizadas, não esperamos até leite vrá yougurt, ou chá vrá cafê? Apesar de mais balcões e do open space criado, o serviço ainda está longe de responder assertivamente a demanda dos munícipes. A começar pelo tempo de espera. Retira-se uma senha, se houver senha, não há onde esperar senão na rua debaixo do Sol, o tempo que der parecendo que temos de tirar um dia para tratar de algum assunto, seja ele qual for. Mesmo que para “pagá dnher” à Câmara, esperamos tanto?!

Dá uma sensação de não ser um espaço de serviço público, mas sim de favor que se presta aos munícipes pelo qual devemos sacrificar o tempo, os afazeres, as responsabilidades, rogar, bajular… Obviamente, para alguns, particularmente os ligados ao esquema do “jeitinho” de um amigo ou conhecido, facilita. Mas, para a larga maioria dos munícipes, meros mortais como eu, sem “conexion”, não, sobretudo os que têm ainda o civismo de respeitar a fila de espera.

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Mas, será que não se pode disponibilizar os serviços de uma outra forma? Com uma população residente de mais de 75.000 pessoas apenas um balcão responderá a toda a demanda sem criar esta frustração “fort d’sperá?” Não poderia ser pensado a criação de serviços municipais descentralizados, sim, outros pontos de atendimento, particularmente nas zonas mais numerosas? E a digitalização dos serviços? Tratamento de processos on-line, pagamentos, informações? Será tão difícil assim pensar-se fora da caixa e de forma óbvia que possa ser útil ao munícipe? Será tão difícil de se fazer?  O que se perde com a manutenção desta forma de atuação? Porquê disto? Já perguntaram aos interessados, os munícipes, o que acham dos serviços camarários? Declaro já, eu não estou satisfeito de esperar tanto.

Se o objetivo for realmente servir bem o munícipe, claramente, não tem sido pelos serviços de atendimento, e não me refiro aos atendedores e às pessoas que trabalham na Câmara. Refiro-me apenas a organização para acolher e responder os munícipes, para servir com celeridade, oportunidade e assertividade a todos que vivem nesta ilha e que, de alguma forma, carecem de respostas da Câmara. Das pessoas que me atenderam, nunca tive razões de queixa, pelo contrário, elogio a prestação sabendo que o que não fizeram ou responderam foi porque não estava ao seu alcance. Uma das certezas deste tempo incerto, até no futuro de uma Câmara que não funciona como prevê a lei, é que “jam tá fort d’perá”.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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