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Opinião

A dinâmica da Internet 

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Parece haver uma ligação entre a guerra e o avanço da tecnologia, se bem que a maior invenção de todos tenha surgido precisamente de um conflito, que muitos previam como o último. O fato é que estamos aqui, nenhuma bomba nuclear explodiu, os países que nos poderiam ter mandado para a idade da pedra, acabaram por se contentar com a paz, ainda que fosse uma paz armada. 

Por: Pedro António Lopes

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Atualmente vivemos o auge da comunicação; nenhum povo e, em nenhum era foi capaz de comunicar com tanta facilidade e com a comodidade que temos hoje. Volvidos tantos anos da Revolução Industrial, atingimos um nível de automação jamais visto, mas essa é só uma fase, uma contemplação do que será o futuro. Personalidades como Elon Musk, Mark Zuckerberg e, grandes corporações como a Appel, google, etc, poderão acelerar este processo. A pergunta que fica é: estamos preparados para os novos tempos? A geração anterior ao surgimento da internet ainda encontra alguma dificuldade de adaptação, sobrevivem-lhes a memória de uma vida simples, quando se resolvia as coisas por carta, uma vez que a telefonia era caro. Pensar na possibilidade de passar horas conversando com um parente na China pelo whatsApp ou pelo telegram com custos mínimos, por exemplo, deve deixa-los loucos. 

Nos anos oitenta os computadores eram uma raridade e estavam restrito as universidades, aos governo e alguns poucos entusiastas. A tecnologia empregada neles era bastante primitiva, mas muito avançada para a época, embora não contassem com uma interface interativa. As operações eram feitas por meio de códigos inseridos numa tela escura. A internet era tão lenta e limitada que mal se podia carregar uma imagem. 

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A partir dos anos noventa, os computadores pessoais começaram a ser popularizar, com a introdução das primeiras versões do Windows com interface gráfica, voltado para utilizadores leigos. Não era mais necessário decorar códigos, porque com muita facilidades podia-se navegar entre as janelas do windows, abrir e editar textos, somar e até navegar na rede.

Desde então as empresas se viram obrigadas a migrar para o mundo digital, buscando atingir um público cada vez maior e exigente, e como consequência, produtos de consumo e serviços ficaram acessíveis a distância de um clique. A concorrência aumentou, alguns mercados foram extintos, exemplos das locadoras de filmes, lojas de discos etc. Contudo, muitas empresas se adaptaram e inovaram de tal modo que hoje figuram entre as mais lucrativas do mundo, como a Netflix.

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Cabo Verde, por causa do fator econômico que nem vale a pena aprofundar aqui, já que é notório, assim com os países vizinhos, demorou para se atualizar. Lembro com nostalgia que quando eu estudava o 7º ano do liceu, ter um computador, para no4s adolescentes, era como ter um carro. Pior ainda, a internet era uma novidade. Ficávamos embasbacados com as possibilidades; “baixar” uma música do nosso artista preferido, assistir um vídeo no youtube, poder jogar um jogo online. Mesmo quando precisávamos fazer um trabalho escolar, era preciso ir num cyber (estes estão com os dias contados), bastava alguns minutos pesquisando. Isso em 2009!

Quando a concorrência atingiu a cvmóvel, rapidamente vimos um barateamento dos serviços de internet. Mesmo os telefoneis se tornaram acessíveis. 

Nossos telemóveis, hoje, são como pecas de vestuário. Obviamente que não podemos trocá-los com a mesma facilidade, mas também não andamos sem eles. Mais do que acessórios, são a chave que nos abrem os portões da socialização e do conhecimento. Você, caro leitor, tem em suas mãos nesse momento um aparelho infinitamente superior ao computador que levou o homem a lua. 

Todo o conhecimento cientifico já produzido pela humanidade está armazenado na internet, e a maior parte pode ser acessado gratuitamente. 

Somos a geração mais privilegiada que ja existiu! Portanto, era supostos sermos extremamente inteligentes, mas o que moveu a humanidade sempre foi a necessidade e não a facilidade. A necessidade é a mãe de todas as invenções. 

A tendencia é que, quanto mais tecnologia, mais passamos a depender dela na realização de tarefas simples, onde ela é totalmente dispensável. A autoestima de algumas pessoas varia consoante o número de “gostos” e “comentários” que recebe numa foto publicada nas redes sociais. Ora, isso é de uma superficialidade alarmante. Não é a tecnologia, nem o que ela representa que define o valor de uma pessoa.

Temos um monte de redes sociais que mais atrapalham as nossas vidas, mais criam divisões do que união. E como as pessoas gostam de se comparar umas com as outras, quando entram no Instagram e se deparam com aquela conhecida (o) em hotéis, fazendo compra ou conduzindo um carro desportivo, enfim, aproveitando a vida, a primeira reação é se sentirem frustradas. Achar que deveriam ter tudo aquilo. 

Adolescentes passam mais tempo navegando. Co ma chegada do Tio Tok no país e, consequente popularização das tais daninhas, agora sim. Vão virar gênios! Deixando a ironia de lado, eu mesmo cheguei a ler na BBC Brasil um artigo que me deixou abismado. Resumindo, dizia o artigo que é a primeira vez que os filhos são mais inteligentes que os pais. No mesmo site também li que, por causa dos vídeos serem curtos e o algoritmo se adaptar as preferências dos usuários, uma grande quantidade de dopamina é liberada no cérebro de forma intensa e viciante, provocando a mesma satisfação que sentimos ao consumir substâncias ilícitas. Alguns usuários relatam que têm dificuldade de concentração, já não conseguem assistir videos com mais de dez minutos de duração.  

Cada vez mais, pessoas estão ficando deprimidas por conta do dilema das redes sociais, que impõe um modo de vida luxuoso, define padrões de beleza ao mesmo tempo que idiotiza e julgaria a sociedade, devido a massificação de conteúdos futeis, que não agregam nada. Apenas roubam o nosso tempo.

Muitos sonham em se tornar influenciadores digitais, mas este é um mercado que muito em breve ficará saturado com o tanto de oferta. Não é incomum encontrar uma pessoa com alguns milhares, ou milhões de seguidores. Mas seguidores do quê? O que essas pessoas têm a ensinar?

Impor cultura, claro que não é opção. É preciso cativar a população, principalmente a camada mais jovem, com conteúdos mais elaborados – que podem ser filtrados até mesmo em lugares como o Tio Too. Mas falta curiosidade, falta sensibilidade; devemos repensar o tipo de geração que estamos criando, tomar consciência de que o mau uso da internet pode representar um retrocesso cognitivo. Esses são os obstáculos que termos de enfrentar, se quisermos passar para o próximo estagio da evolução tecnológica e cientifica, uma vez que a inovação atingir todos os sectores da industria, se calhar muito mais rápido do que estamos de facto acompanhando. 

Devemos dominar a tecnologia antes que ela nos domine e desenvolver bons hábitos online.  

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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