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Marcelo Rebelo de Sousa “debaixo de fogo” por causa de pedofilia na igreja

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 O Presidente da República de Portugal está debaixo de fogo por não se mostrar surpreendido com os dados avançados pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, que apurou 424 casos de abuso. Marcelo Rebelo de Sousa foi ainda mais longe ao dizer que 400 casos não era um número particularmente elevado, o que espoletou uma reação em uníssono por parte dos partidos políticos lusos com assento parlamentar. 

“Não me surpreende. Não há limite de tempo para estas queixas, que vêm de pessoas de 80 ou 90 anos. Estamos perante um universo de milhões ou muitas centenas de milhares de jovens em contacto com a Igreja. Haver 400 casos não me parece particularmente elevado”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, provocando de imediato um rol de criticas, com alguns políticos o acusando de querer branquear os dados.

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Entretanto, o PR tentou ‘redimir-se’ das declarações… duas vezes. “O Presidente da República sublinha, mais uma vez, a importância dos trabalhos desta Comissão, muito embora lamente que não lhe tenham sido efetuados mais testemunhos, pois este número não parece particularmente elevado face à provável triste realidade, quer em Portugal, quer pelo mundo”, referia um comunicado da Presidência.

Na mesma nota, Marcelo sugeria que os número não correspondem à realidade, alegando que “vários relatos falam em números muito superiores em vários países, e infelizmente terá havido também números muito superiores em Portugal”.

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De seguida, à RTP, Marcelo Rebelo de Sousa dizia não compreender as críticas, argumentando não ser a primeira vez que fala sobre o assunto. “Para os milhões de pessoas que contactaram com instituições católicas durante estes 70 anos, em ditadura e depois em democracia, eu acho curto o número de 400 e tal”, considerou, rejeitando desvalorizar a cifra. “Valoriza imenso precisamente os que tiveram coragem de ir. Acho curto porque é a minha convicção que há muitos mais”.

Rapidamente, figuras da esquerda à direita na política nacional reagiram às palavras do chefe de Estado. “Sou católico e, por isso mesmo, os resultados da Comissão Independente que investigou os abusos sexuais na Igreja Católica chocam-me e envergonham-me. Um caso apenas já seria muito”, disse Miguel Pinto Luz, vice-presidente do PSD, no Twitter, censurando as palavras do chefe de Estado.

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Carlos Guimarães Pinto, deputado da IL, considerou que “o Presidente da República deve um pedido de desculpas ao país e às vítimas pelas declarações infelizes”, acusando ainda as suas declarações de serem “inaceitáveis“, sugerindo que “nem vale a pena discutir se o número está subestimado porque muitas queixas ficam por fazer”. A estes juntou-se André Ventura, líder do Chega, que apelou ao Presidente para “pedir desculpa às vítimas” e para “não menorizar o seu sofrimento”. “Que declarações tão infelizes de Marcelo Rebelo de Sousa! Uma vítima de abusos sexuais, mesmo que fosse só uma, já seria muito grave”, lamentou.

À esquerda, as críticas também se multiplicam. Também no Twitter, o deputado do Bloco de Esquerda Pedro Soares disparou: “400 queixas de abusos de menores validadas pela Comissão Independente e o comentário do Presidente da República é ‘o número não é particularmente elevado’É este o Presidente de uma República laica e de um Estado de Direito? Lamentável. Fosse um caso apenas e já era preocupante”. Isabel Moreira (PS) resumiu o assunto numa palavra: “Inaceitável”; Inês Sousa Real, do PAN, considerou ser “incompreensível a desvalorização dos abusos sexuais de menores”; Rui Tavares, do Livre, disse  ser “essencial reconhecer, corrigir e pedir desculpas às vítimas destes abusos”.

C/Sol.pt

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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