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Comissão conclui que quase 5 mil crianças sofreram abusos sexuais em 70 anos na Igreja Católica, em Portugal

Uma comissão independente ouviu mais de 500 vítimas de pedofilia cometida na sua maioria por padres ligados à Igreja Católica em Portugal e concluiu que 4.815 menores sofreram abusos sexuais nos últimos 70 anos. O relatório final indica que 77% dos crimes foram cometidos por padres. O apuramento dos dados foi presidido pelo psiquiatra infantil Pedro Strecht, que aproveitou uma conferência de imprensa para divulgação do inquérito para prestar uma “homenagem sincera” às vítimas e que ousaram quebrar o silêncio. “As vítimas são muito mais do que uma estatística”, frisou perante altos funcionários da Igreja Católica.

Os abusos, conforme relata a imprensa portuguesa, aconteceram na sua maioria em escolas, casas paroquiais e confessionários e as vítimas são na sua maioria do sexo masculino. As denúncias partiram de pessoas diversas e de todas as regiões de Portugal e ainda de cidadãos lusos residentes no exterior. A comissão independente iniciou as investigações em janeiro de 2022, segundo a DW.pt, depois que um relatório na França revelou que cerca de 3 mil padres e autoridades religiosas abusaram sexualmente de mais de 200 mil crianças. A Igreja Católica na Alemanha também agiu nesse sentido e identificou 3.677 vítimas de abuso infantil de 1946 a 2014, conforme informa esse jornal.

Apesar da descoberta do escândalo, o prazo para as vítimas apresentarem queixa já expirou para a maioria, mas foi ainda possível encaminhar 25 casos para o Ministério Público. O de uma mulher que foi violada quando tinha 17 anos, e era freira noviça, faz parte das denúncias remetidas à justiça. Esta vítima disse à agência AFP que manteve o segredo por muitos anos, mas que era cada vez mais difícil lidar com o trauma sozinha. Há três anos decidiu, no entanto, comunicar a ocorrência às autoridades eclesiástica, mas esse grito foi abafado. Revela que o bispo responsável não fez nada, apenas encaminhou a reclamação ao Vaticano, que ainda não a respondeu. Só no ano passado recebeu apoio psicológico da comissão independente.

A divulgação do relatório teve forte impacto a nível internacional. O jornal Boston Globe, publicação norte-americana que criou um departamento para investigar abusos sexuais na Igreja, destaca a situação em Portugal e relembra que alguns clérigos tinham dito antes que apenas havia uma “mão cheia” de casos. Enfatiza que, na verdade, são milhares.

O jornal India Today fala em “relatório explosivo” e destaca as 25 denúncias remetidas para o Ministério Público para investigação. Já o diário francês Le Monde usa o termo “pedocriminalidade” para qualificar o escândalo em Portugal, mas recorda que a maioria dos crimes já prescreveu. Quanto ao jornal espanhol El Mundo destaca a incapacidade da comissão em quantificar o total dos crimes e sublinha que mais de 70% dos abusadores são padres.

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C/ DW.pt e JN.pt

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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