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Empresas holandesas tomam pulso ao nível de formação de marítimos cabo-verdianos para futuros recrutamentos

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Representantes de três empresas holandesas do sector marítimo estão em S. Vicente com o intuito de conhecer a qualidade formativa das instituições cabo-verdianas ligadas ao mar e recrutar profissionais para trabalharem na Europa. A iniciativa partiu da companhia PerfectShipping, uma intermediária no recrutamento de marinheiros, que envolveu no processo as congéneres Multraship e Roll Dock, que estão interessadas em criar parcerias para abastecer as armadoras de profissionais qualificados mediante o elevado padrão europeu.

Segundo Ana do Rosário, emigrante cabo-verdiana ligada a PerfectShipping, a aposta em Cabo Verde tem uma relação directa com a sua origem, mas também com a forte relação do homem cabo-verdiano com o mar, cuja competência no sector marítimo é reconhecida na Holanda. “Todos conhecemos um pouco da história dos marítimos cabo-verdianos que passaram pelos navios holandeses. Fui para Holanda ainda criança e lembro-me de recebermos na nossa casa marinheiros destas ilhas. Sempre quis empreender um projecto para ajudar o meu país de origem e estamos perante uma grande oportunidade profissional”, considera Ana do Rosário.

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Entrevistada pelo Mindelinsite nos escritórios da Universidade Técnica do Altântico, esta empresária e gestora revela que a sua companhia decidiu envolver outras duas empresas do ramo do shipping e que aceitaram participar no projecto de contratação de marinheiros cabo-verdianos desde que pudessem conhecer in logo as condições e o nível de formação em Cabo Verde. Deste modo, a delegação tem mantido encontros com o Isecmar, instituto vocacionado para a formação superior, e tem também na agenda reuniões com a Escola do Mar e o ministro do Mar.

Daquilo que viram até ao momento, constataram a necessidade de modernizar os equipamentos usados nos laboratórios de formação do Isecmar e adaptar o plano curricular, devido as exigências de segurança marítima na Europa. O desafio será modernizar os laboratórios e fazer um upgrade dos docentes cabo-verdianos para que os cursos ministrados no arquipélago sejam validados mediante as exigências actuais das companhias armadoras internacionais. “A próxima etapa vai depender da cooperação que poderemos estabelecer com outras empresas de recrutamento de pessoal. A partir do momento em que estivermos cientes da qualidade formativa em Cabo Verde poderemos fornecer o serviço de recrutamento a outras empresas da Europa ocidental”, salienta Ana do Rosário.  

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O engenheiro António Varela, presidente do Isecmar, confirma que a missão das três empresas foi aferir as condições de formação, o nível dos docentes e de treino dos marítimos cabo-verdianos, visando a contratação de marinheiros para trabalhar na Europa. Segundo Varela, trata-se da segunda presença dos representantes destas empresas em S. Vicente e tem por trás o reconhecimento das qualidades dos profissionais cabo-verdianos no sector marítimo e o facto de os jovens europeus não estarem neste momento a demonstrar interesse em trabalhar no mar, longe de casa.

“Tendo por base o levantamento que fizeram vamos ver como elevar o nível da nossa formação. É evidente que precisamos modernizar os nossos laboratórios e equipamentos, mas todos sabemos que há restrições orçamentais que nos impedem de fazer isso no devido tempo”, frisa Varela, que conta com o envolvimento das empresas na resolução dos problemas detectados e propostas da revisão curricular. É que, como diz, trata-se de um projecto “win-win” em que Cabo Verde ganha com o reforço da sua capacidade formativa, para suprir as necessidades das empresas de recrutamento. Como salienta, as companhias precisam de profissionais qualificados visto que 80% do transporte mundial passa pela via marítima. “Aqui vê-se a importância da dinâmica deste sector na economia de países e continentes.”

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Cabo Verde, segundo António Varela, continua a apostar na formação nas diversas categorias de marítimos. A seu ver, falta agora sistematizar os encontros de trabalho com as três companhias holandesas e ver como podem ajudar na modernização dos cursos.

Outro entrave identificado pelas empresas holandesas é a atribuição do visto de trabalho aos marítimos cabo-verdianos para entrarem na Europa. Reconhecem que se trata de um “grande problema” já que os navios não podem ficar dias parados à espera de um marítimo e sem sequer terem a garantia de que irá obter o visto. Aliás, Ana do Rosário revela que há um marinheiro cabo-verdiano que está a aguardar o visto há cerca de três meses.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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