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Parlamento infanto-juvenil confronta CMSV: “Vocês da política tornam tudo teórico para que nós, os jovens, não façamos parte do processo”

Deputados do parlamento infanto-juvenil exigiram ontem da Câmara Municipal de São Vicente menos festa e mais aposta na juventude. Entre críticas, sugestões e dúvidas, os deputados-mirins do Mindelo deixaram claras as suas perspectivas sobre esses aspectos ao autarca Augusto Neves.

José Freitas, aluno do 12° ano da escola secundária Jorge Barbosa, apelou por novas medidas que possam incluir a juventude nos projetos do poder local em S. Vicente. “Senhor presidente, sei que o senhor ama o seu povo, no entanto às vezes o amor é cego, pelo que a crítica é direccionada ao seu papel e não à sua pessoa. Sei que está a trabalhar para melhorar São Vicente, mas a verdade é que isso não está a resultar”, começou por argumentar o jovem.

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O motivo da contestação desse estudante, como ficou claro na sua intervenção, deriva dos problemas atuais que a juventude enfrenta na terra do Monte Cara. “Digo isso porque cada dia temos mais jovens a fumar – é o que vejo na minha zona; a cada dia temos mais meninas grávidas nas escolas e a cada dia  percebo que há mais alunos desinteressados, pois é o que acontece na minha sala“, enumera o deputado. Este, ao mesmo tempo que critica, apela à autarquia que use menos teorias para atrair a energia da nova geração. Na sua visão, os jovens necessitam de mais confiança e que teorizar os assuntos faz com que se afastem das coisas importantes.

Daiene foi outra jovem que tomou a palavra para enfatizar que a prioridade para a ilha do Monte Cara não pode resumir-se a festivais. “Nós todos aqui gostamos de festas, no entanto considero que, em vez de festas e concertos para divertir a população, poderiam, por exemplo, usar os fundos para apoiar as comunidades.”

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Já o deputado David incidiu a sua abordagem na ausência de caixotes de lixo na cidade do Mindelo, o que leva a que as pessoas depositem lixo em locais impróprios. Para esta criança, este ato faz com que a cidade esteja suja e que os planos para a preservação do ambiente sejam ineficazes.

A educação também foi outro foco das preocupações colocadas ao poder local. Abelardo, da Escola Técnica EICM, considera que o sistema de ensino não beneficia os alunos. “Impõem-nos muitas matérias e muitas horas de aula por semana, o que nos impede de praticarmos outras atividades necessárias para o nosso melhor desenvolvimento.” Este estudante pede, assim, que o sistema de educação seja modificado de forma a fazer com que os jovens percebam as matérias, em vez de as fixarem apenas para as provas.

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Já para a deputada-mirim Laly, o caminho para o aproveitamento escolar passa por acabar com a “ditadura” de professores para alunos. “Não queremos ir para a escola apenas para ouvir o professor a falar e só escrevermos. Isso faz com que nos sintamos desmotivados“, lamenta a adolescente residente no Calhau. Esta sugere que seja incluída na educação mais jogos educativos, visitas de estudo e novas descobertas sobre Cabo Verde, além do básico.

Por sua vez, o estudante Nuno pediu para que as provas tenham menos peso no sistema de avaliação, já que “não demostram aquilo que o aluno sabe, mas sim o que decorou ou o produto de uma cábula elaborada”.

Contentores retirados por causa de “reclamações dos munícipes”

A Câmara Municipal de São Vicente afirma que retirou os contentores de lixo a pedido de moradores que reclamavam da proliferação de mosquitos. “Antes tínhamos papeleiras em todos os sítios, entretanto eram usadas para colocar restos de comida e até animais mortos. As mesmas foram retiradas a pedido de pessoas que viviam perto de onde foram colocadas, por causa do cheiro e dos mosquitos”, explica Augusto Neves.

O presidente da CMSV admite ainda que os contentores de lixo foram reduzidos nas localidades para evitar que as pessoas vivam dos produtos descartados, seja para apanhar restos de comida para alimentar os animais ou para outros fins, que não depositar desperdícios. Neves garantiu à plateia que tem feito esforços para manter a ilha limpa, com trabalhadores de limpeza no terreno, mas adverte que este trabalho não é da responsabilidade exclusiva da autarquia. Aproveitou a oportunidade para chamar os munícipes a fazerem este papel também com a educação cívica. O autarca mindelense respondeu ainda que não pode deixar de investir em actividades como festivais porque estes trazem maior dinamismo à economia local e que as festas são tidas pelo seu poder como actividades económicas, e não apenas como divertimento.

A vereadora da área da Juventude, Solange Neves, assegurou ainda que a autarquia aproveita estes eventos para promover actividades direcionadas à juventude. “Nos festivais fazemos a sensibilização sobre a problemática do álcool, das doenças sexualmente transmissíveis e promovemos actividades desportivas”, sublinha a vereadora.

No domínio da Educação, Augusto Neves esclareceu que é uma aposta da sua gestão apoiar as famílias com transporte de alunos das localidades mais afastadas. “Em vez de calçada, em vez de ligação de esgoto, preferimos carregar os estudantes porque são o nosso futuro”, enfatizou o edil.

Os deputados do parlamento infanto-juvenil tiveram ainda a oportunidade de interpelar na primeira plenária os deputados municipais Manuel Brito e Ana Figueiredo do MPD, Paula Brito, do PAICV, e Isadora Santos, da UCID. A segunda plenária abordou os vereadores, o presidente da CMSV e por último o secretário de Estado para a juventude, Carlos Monteiro.
Este parlamento serviu ainda para a escolha dos seis representantes de São Vicente no Parlamento infantojuvenil nacional, a realizar-se a 20 de Novembro na cidade da Praia.

Sidneia Newton (Estagiária)

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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5 Comentários

  1. Faço esta pergunta porque foi com alguma decepção que vi a notícia na TCV sobre o parlamento infantil aqui no Sal.
    Afinal, tratava-se dum parlamento infantil mas a TCV – Sal resolveu dar todo o protagonismo e o direito à palavra para o presidente da Câmara Municipal do Sal e para a senhora responsável local da assossiação de defesa dos direitos humanos e cidadania, como se fossem eles, os verdadeiros deputados infantis.
    Enquanto que em S.Vicente pudémos ver várias crianças a confrontarem os responsáveis políticos e a expressarem livremente as suas opiniões e posições.
    No Sal o que vimos, foi o presidente da Câmara Municipal e essa senhora (dois adultos) a fazerem a sua política e os seus discursos do costume.

  2. O Presidente disse que retirou os contentores, pa pessoas ka alimenta desh…ema outras palavras el assumi relatorio de ONU… k txeu gente ne Cabo Verde tt passa fome… e esse fome sera combatido k mas 1 festival ne baia…
    Se fosse grinhacim kbo tava ser nhe Professor, td dia um tava dob palmada na CARA DIAB..

  3. Que tristeza ! O Parlamento infanto-juvenil que teve lugar em S. Vicente com os deputados mirins , a criticar, a sugerir, mas não abordando o essencial , que é a sua formação e estágio profissional que são ferramentas indispensáveis para que possam estar preparados para o mercado de trabalho, quando se sabe que o acesso às formações e estágios profissionais ministradas pelo IFEP, ao que parece já encerrou a sua Delegação em S. Vicente , os jovens tinham que pagar 9.ou 10 mil dez mil escudos mensais de propina valor que muito deles não podiam comportar, ficando por isso seriamente penalizados em comparação com os colegas de Santiago que são concedidos todas as oportunidades e facilidades em matéria de estágios e formação profissional. Os jovens sãovicentinos pela sua ignorância ou desinteresse perderam uma grande oportunidade para denunciar a politica discriminatória que têm sido alvo dos sucessivos Governos da Republica ao deixa-los entregues à sua própria sorte: entregues ao álcool , à prostituição, às drogas e outros males sociais. A preocupação do actual executivo é com os jovens santiaguenses, basta ver o numero estudantes universitários que se encontram a frequentar o ensino superior nas universidades nacionais e internacionais, os alunos inscritos nas Escolas do Ensino Técnico Profissional da Ilha de Santiago, que passo a citar: No ano lectivo 2018/19 as estatísticas dizem o seguinte: Até o final do ano, 2000 formandos de Santa Catarina de Santiago estarão prontos à ingressarem o mercado de trabalho; Santa Cruz com 63 bolseiros Universitários, na CERMI, 703 Formados contra 30 das ilhas do Sal, Boa Vista e Maio (10 alunos cada), e ” 0″ para S. Vicente; em Julho o Centro (CERMI) tenha aberto concurso para 40 bolseiros das ilhas de Santo-Antão, S. Vicente e S. Nicolau, mostrando claramente e inequivocamente as reais intenções deste Governo para com a Juventude cabo-verdiana que está preocupada em investir no homem de Santiago. Infelizmente a nossa juventude, para não destoar disse muito pouco. sobre o seu futuro

  4. É muito bom que os estudantes comecem a se pronunciarem sobre a situaçāo da ilha e do país em geral.
    Quanto a limpeza da cidade, todos os presidents da cmsv fizeram muito para manter a cidade limpa mas, nesse aspecto somos um povo que nao ajuda, muito indisciplinados.

  5. Para ti, somos todos indisciplinados.
    Só o presidente da Câmara é que é um exemplo de pessoa não é’????
    Ele faz tudo muito bem e nós, os restantes oitenta e tal mil, fazemos tudo errado!!!!

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