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OMCV promove roda de conversa com intervenção “pertinente” da presidente Eloisa Cardoso sobre 8 e 27 de março

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A delegação da Organização das Mulheres de Cabo Verde promoveu esta sexta-feira, Dia Internacional das Mulheres, uma roda de conversa que contou com uma “pertinente” intervenção da presidente Eloisa Cardoso, que tinha uma agenda preenchida na Capital, mas ficou retida em S. Vicente por falta de voo. Auto-conhecimento, educação parental, naturalização da violência, empoderamento das mulheres, igualdade de género e divisão de tarefas foram alguns dos temas explanados e que suscitaram um debate acalorado, que se prolongou por mais de duas horas. 

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Mulheres de diferentes extratos sociais – desde empregadas domésticas, agente da Policia, assistentes sociais, educadoras de infância, formandas e estagiárias da OMCV-SV, voluntárias e aposentadas – que se reuniram para contar as suas histórias de lutas e experiências pessoais e profissionais. Destaque para a presença de três homens, um deles em representação da Ordem dos Advogados de Cabo Verde e de outro que acompanhou a esposa em mais esta jornada, e de uma jovem de 16 anos. 

A presidente da OMCV fez uma “intervenção pertinente” sobre o significado dos dias 8 e 27 de março, datas em que tradicionalmente as mulheres são presenteadas com flores. “Quando fui trabalhar na OMCV ficava chateada nestas datas por causa das felicitações e do real significado das duas datas. Entendia que, enquanto as pessoas me desejavam feliz dia, muitas mulheres eram violadas. Quando falei isso dentro da nossa instituição, com dados estatísticos, questionei se de facto elas eram felizes. E alguns colegas alegaram a desconhecer esta realidade”, começou por explicar Eloisa Cardoso. 

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Para esta responsável, estas datas existem e são celebradas precisamente porque as coisas “não estão bem” para as mulheres em Cabo Verde e no mundo. “A minha vontade é que, daqui a alguns anos, o 27 de março seja apenas o dia do aniversário da OMCV, e não o Dia Mulher Cabo-verdiana. Isto porque esta data hoje é assinalada porque ainda existem muitas mulheres a educar os filhos sozinhas e a sofrer todo tipo de violência. Há ainda muitas crianças que são violadas, passam fome e não têm um teto sobre as suas cabeças. É por isso que existe o Dia da Mulher Cabo-verdiana”, referiu. 

Já o 8 de março, Dia Internacional da Mulher, pontuou Eloisa Cardoso, é assinalado porque, não obstante homens e mulheres fazerem o mesmo trabalho, o salário continua desigual; porque ainda há pessoas que consideram as mulheres inferiores e questionam as suas capacidades profissionais ou outras. “Ainda existe um entendimento de que os homens nascem automaticamente capacitados, enquanto as mulheres continuam a ser questionadas, independentemente do seu currículo.”

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Eloisa Cardoso e Fátima Balbina

O mais grave, do ponto de vista dessa fonte, é quando apresentam como justificativos para preterir a mulher o facto desta resolver engravidar e ter de ficar quatro meses em casa, ou então pelo facto de amamentar, etc. “Muitas vezes, as empresas decidem contratar um homem apenas por causa do seu sexo, mesmo que a mulher tenha melhor desempenho, seja mais capacitada ou conheça a instituição ou empresa melhor. Esta é a lógica por detrás da instituição dos dias 8 e 27 de marco”, desabafou. 

Eloisa Cardoso admite que gosta de receber rosas ou outros presentes, mas afirma que estes são mimos que devem ser feitos com freqüência e não apenas nestes dois dias. “Não podem presentear no dia 8, por exemplo, no dia 10 espancar e 12 violar alegadamente por estou com uma saia curta e, no dia 14, me assediar porque estou com um decote. Diariamente vemos jovens com as calças abaixadas e não são apalpadas por mulheres”, exemplifica, realçando que, o mais grave, são as mulheres se acusarem quando são vítimas destas violências porque estão mal vestidas. 

Por isso, a presidente da OMCV convidou os presentes a refletirem e tentarem mudar esta narrativa. De referir que, após o debate, houve tempo ainda para leitura de poemas da autoria de Tocha Sousa. Ao longo deste mês, a OMCV pretende realizar uma feira de oportunidades e uma outra gastronómica, uma master classe de massoterapia, formação de género e empreendedorismo, exposição venda, workshop “Saúde e bem-estar, educação, cidadania, igualdade e equidade de género”, de entre outras atividades

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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