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Aluna obrigada a “descer” do nono para oitavo ano após exame: Liceu admite falha, mas diz que mãe sabia que filha reprovou

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Uma aluna do Liceu Ludjero Lima foi obrigada a “descer” do nono para oitavo ano, num processo que deixou a jovem triste e a mãe e uma tia indignadas. A adolescente, conforme relata a tia, estava a assistir as aulas enquadrada no nono ano, mas à espera do resultado de um exame na disciplina de Matemática realizado no dia 14 de setembro para saber se transitou de ano. Porém, agora em novembro, após mais de dois meses, a estudante foi informada “extraoficial”, segundo essa fonte, que reprovou e teria que regressar à sala do oitavo ano.

Esta situação aconteceu, na versão da tia, porque o exame foi realizado muito tarde, a cinco dias do arranque do novo ano, e porque o nome da aluna apareceu em simultâneo em turmas do oitavo e nono ano. Acabou por ficar no nono ano, mas sem saber a nota que obteve no exame de Matemática. O resultado deste teste era fundamental, como enfatiza a própria tia, porque nenhum aluno pode transitar do oitavo para nono com uma única deficiência. Só que a escola demorou muito tempo a divulgar o resultado da prova, ao ponto de a estudante ter assistido a mais de dois meses de aula no nono e realizado algumas provas. Entretanto, na passada semana, a jovem foi informada que reprovou no teste de Matemática, pelo que deveria ficar na turma do oitavo ano.

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Dar este salto para trás afectou psicologicamente a estudante, que, conforme ela própria confessou ao Mindelinsite, passou o dia a chorar, com dores de cabeça e insónia. Para piorar as coisas, diz, o director da turma do oitavo ano não se mostrou nenhum pouco compreensivo com a sua situação. Pelo contrário, conta que o docente afirmou, numa conversa particular, que ela agiu de caso pensado e que, se dependesse dele, seria reprovada. “Ele chamou-me para conversarmos fora da sala e disse-me que, se eu tirar negativa nas provas, ele não tem nada a ver com isso. E que, se eu ficasse na turma, teria que fazer todos os trabalhos já passados. Entretanto, ele organizou grupos de trabalho na sua disciplina e deixou-me de fora”, revela a adolescente. Já a professora de Matemática, prossegue, teve um comportamento diferente, tendo-a enquadrado num grupo de trabalho.

Segundo a aluna, foi informada que reprovou, mas ainda não viu o teste. Apesar da situação em que se encontra, promete estudar para passar de ano. Porém, a mãe assegurou ao Mindelinsite que a jovem ainda se encontra abalada, tendo chegado ao ponto de evitar entrar na sala de aula. “Ela começou a chorar, tinha medo de se encontrar com o director de turma. Mas acabou por entrar e, por coincidência, o professor não apareceu nesse dia”, revela a mãe, que considera intolerável esse incidente.

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A mãe afirma que a aluna ficou na turma do nono por indicação da secretaria do Liceu. Acrescenta que quis esclarecer a situação, porque o nome da estudante estava em duas turmas, mas alegaram na secretaria que tinham trabalhos mais urgentes para fazer. “Disseram-me para colocar a minha filha no nono e que tudo seria resolvido quando saísse o resultado do exame”, afirma a educadora, que levou o caso ao conhecimento da direção do estabelecimento público de ensino e ao delegado do Ministério da Educação. O receio dela é que a filha venha ficar prejudicada com toda essa confusão, visto que faltou as aulas do oitavo ano e não realizou os testes. Mas recebeu garantias que estes aspectos seriam levados em consideração.

Liceu garante que aluna não será prejudicada

Abordada, a direção do Liceu Ludjero Lima explica que tudo aconteceu num período muito conturbado do arranque das aulas, realização de vários exames e a consequente readequação das turmas. A sub-directora administrativa e financeira, responsável por esta área, adianta que foi reformulando as matrículas conforme ia recebendo resultados de exames realizados a mais de cem estudantes fornecidos pelos professores. Os testes ocorreram em setembro, mês do início do novo ano lectivo, o que, segundo a própria, veio colocar muita pressão no trabalho administrativo.

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No caso concreto, diz Zilca Ramos, a aluna acabou por tirar nota negativa, pelo que não podia transitar de ano. Admite, no entanto, que houve uma falha administrativa porque o nome da estudante acabou por aparecer em duas turmas. Para ela isso aconteceu devido a pressão registada no período do arranque das aulas.

“Os exames coincidiram com a azáfama das matrículas e ainda havia alunos pendentes dos resultados dos exames. Optamos por retirar da lista de matrícula os estudantes que foram a exame e ainda aguardavam as suas notas. Logo a lista destes alunos ficou pendente e nela constava o nome da referida aluna”, explica a sub-directora. Esta adianta que receberam a nota da estudante algumas semanas depois do teste e ela foi recolocada no oitavo ano.

Perguntada se publicaram a nota no átrio do liceu, Zilca Ramos diz que não fizeram isso porque acabaram também por se ver aflitos com um problema no sistema informático, que lhes dificultou a introdução dos nomes dos alunos submetidos a exame. Acrescenta, porém, que os pais foram informados numa reunião que poderiam consultar os resultados dos testes dos filhos que tinha consigo. “Apenas uma mãe perguntou-me quando eu estaria disponível e sequer ela compareceu”, salienta Zilca Ramos. Conforme as suas palavras, a mãe da referida aluna sabia que a mesma tinha reprovado no exame de Matemática e que não podia ficar no nono ano, mas deixou o tempo transcorrer. Além disso, acrescenta, a própria estudante nunca tentou saber o resultado da sua prova.

Zilca Ramos acrescenta que descobriu o caso da aluna durante o processo de refiltragem das turmas, que visa apurar se os alunos estavam comparecendo às aulas. Ficou assim a saber que a adolescente não tinha aparecido em nenhuma aula na turma do oitavo ano. Soube de seguida que ela estava numa sala do nono.

Segundo o director do LLL, Isidoro Costa, o processo de matrícula decorre, por lei, até 31 de outubro exactamente para permitir o apuramento de situações anómalas. “Creio que a mãe da aluna sabia da situação e resolveu deixar a filha no nono ano para ver até onde as coisas poderiam ir”, considera o responsável do referido liceu. Este adianta que todo o processo administrativo é gerido por um sistema informático centralizado, pelo que as situações irregulares são detectáveis. Deste modo, cedo ou tarde o caso da aluna seria descoberto.

Segundo Isidoro Costa, há casos que ultrapassam a competência da direção do liceu, mas há outros que estão dentro da sua alçada. Deste modo, assegura que a escola não vai permitir que nenhum professor prejudique a aluna devido a essa situação. Diz que, se for preciso, vão eliminar as faltas da estudante e ver uma forma de permitir que consiga obter as suas notas. Aliás, Zilca Ramos adianta que sugeriu ao director da turma que fizessem um conselho de professores para determinarem como resolver essa questão particular.

Quanto a alegadas ameaças do docente, Isidoro Costa diz que ainda não tinha tido oportunidade de conversar com o mesmo sobre o assunto, pelo que não pode confirmar ou desmentir a denúncia da mãe da estudante.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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