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Será que estamos a cometer os mesmos erros no mercado aéreo?

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Por: Américo Medina

Porque amigos, opinion makers, jornalistas, pessoas várias estão agitadas (o caso não é para menos) com as notícias relacionadas com o desempenho da BestFly, o rumo que as coisas estão tomando, as mudanças verificadas no charme, “sensualidade” e “sex appeal” do Sr. PCA da BF, e porque muitos pediram-me informações e opinião, retomo aqui um longo post que fiz em Maio do ano passado e que cada um faça um exercício para identificar onde poderão estar os “gargalhos”, os riscos, as ameaças de um projecto que tinha/tem em si um potencial de sucesso.

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Sorry pela preguiça para (re)escrever algo novo, é que considero que tudo está identificado!

Em Maio 2021, escrevi : “O importante é que o ‘Mercado’ deixe o mercado funcionar! Uma boa notícia, uma nova operadora, a BestFly, vai surgir em Cabo Verde!

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O que se passou com a amarga (até agora) aventura com os islandeses não foram problemas com o “modelo”, opção e parceiro. Foram as fragilidades da parte cabo-verdiana, a nossa incapacidade em negociar e acautelar vários aspectos relacionados com uma parceria dessa natureza e que requeria expertise, ponderação, argúcia e lucidez; foi a excessiva politização e governamentalização de um processo que poderia correr muito melhor se não caíssemos na tentação de transformar questão tão séria e crucial num bordel com fins puramente propagandísticos.

Chamadas de atenção não faltaram, mas o momento não era propício para escutarmos a voz da razão, e o maldito vírus estava longe, sossegadinho a tecê-las ainda, a preparar a sua entrada em cena.

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O que se passou com a BINTER e a forma como ela se comportou em determinados momentos e passou a se comportar, na minha modesta opinião (vale o que vale) foi por culpa nossa, das nossas instituições, tendo como principal responsável o Governo, mais precisamente o titular da correspondente pasta.

A BINTER, quando decidiu entrar em CV prevalecia um ambiente muito bom no sector (regulação, supervisão, operações, lideranças), um país com reputação aeronáutica: as instituições correlacionadas faziam o seu papel e não havia amálgama, tudo reconhecido e certificado pelas agências internacionais que regulam e supervisionam a indústria, cada macaco estava no seu galho!

Ninguém da BINTER ousava (muito menos um simples gestor de segunda linha) telefonar a qualquer ministro (era só o que faltava, puxa vida Sr. Gonçalves “Ti Goy”) para se queixar e pressionar inspectores da AAC, gestores da ASA ou empresa de handling!

As questões eram tratadas cada uma ao seu nível próprio e, os interlocutores da BINTER sabiam que nós sabíamos que eles sabiam como é que eles operavam no seu ambiente de origem e como a supervisão, a autoridade e o negócio se processavam. Depois…, foi o que foi: a BINTER identificou muito bem as fragilidades, não acautelamos os nossos interesses e o mercado foi entregue em bandeja de prata à BINTER…” o ouro ao bandido”, como se diz: foi o descalabro , desapareceu o “Bintaço”, viagens que custavam 6.000CVE passaram a custar 20.000CVE (o Governo retirou à AAC o poder de regular as tarifas, chamou esse poder para si) e a arrogância e a falta de jeito para a comunicação dos gestores da operadora acabaram por fazer o resto!

Mais uma vez estamos perante uma nova opção, uma nova entrante, a BestFly! Novas negociações, novas esperanças, nova parceria, novo projecto etc., etc! Saúdo o facto em si enquanto técnico do sector, não me competindo julgar a ficha criminal, “matrimonial”, filiação partidária, religião, cor ou raça dos donos que estão por detrás da companhia!

A mim o que me preocupa é que não cometamos os mesmos erros anteriores e que dentro de um ano voltemos outra vez ao ponto de partida; preocupa-me é se as empresas, serviços, agências, técnicos e gestores vão cumprir com o seu papel em nome do negócio, em nome dos elevados interesses de CV e não de uma “fé” ou de uma cor política; que não haja a colocação sem custos para a nova operadora o acesso aos serviços de navegação aérea, infra-estruturas aeroportuárias, handling, equipamentos, ou seja, que não hajam subsídios encapuçados em forma de taxas e serviços não pagos.

É vital que a nova empresa cumpra com as normativas relativas à segurança operacional, manutenção, aeronavegabilidade, operações, licenciamentos etc., etc., para não sermos contaminados com eventuais práticas e culturas outras que prevalecem na nossa vizinhança e um pouco por toda essa África! Estarão outros interessados em entrar nesse mercado (gestão de aeroportos, handling, transportes aéreos) que venham, estamos precisando como pão para a boca; o importante é que o “Mercado” deixe o mercado funcionar sem protecionismo, sem governamentalização dos processos e do sector.

Se os próximos investidores forem meus familiares, minha esposa, meu(s) filho(s), compadre ou camarada melhor ainda(!), fico duplamente feliz, mas mais importante do que isso (concordo que não é por aí) é que haja segurança, preços justos, conectividade, previsibilidade e que os negócios floresçam. Um imperativo: acautelem os nossos interesses, parcerias win-win, não as parcerias do tipo cavalo/cavaleiro!”

Será que estamos de novo a cometer os mesmos erros?

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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