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Opinião

Resultados da SIMABÔ: Os últimos 5 anos, o atual contexto de pandemia e perspetivas para 2021

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Por: Rita Neves

Quando surgiu em 2008, a SIMABÔ tinha uma missão bem definida: controlar a população canina e felina da ilha de São Vicente, socorrer cães e gatos, de rua e domésticos, e consciencializar a população para os direitos dos animais.

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Quem acompanha de perto a SIMABÔ reconhece a forma como fundadores, funcionários e voluntários se dedicam a este projeto que propuseram defender. E, apesar do caminho longo e difícil, os resultados positivos são visíveis e quantificáveis. Convido-vos, então, a fazer uma breve análise do que foram os últimos 5 anos da SIMABÔ.

Entre 2016 e 2020, a SIMABÔ realizou 7.477 castrações, quer no seu Centro de Castração, quer em campanhas de castração numa clínica móvel instalada em diferentes locais de São Vicente.

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Importa ressalvar que todas estas castrações foram feitas gratuitamente e que muitas delas resultaram de um trabalho árduo de conhecimento das dinâmicas das populações caninas do Mindelo, isto é, de uma contínua identificação dos novos animais de rua não-castrados, trabalho esse feito quer internamente, quer através do contacto permanente com uma rede de responsáveis comunitários informais.

Como resultado de uma evolução tendencialmente crescente do número de castrações realizadas, a SIMABÔ alcançou, em 2019, as 2.250 castrações, número anual máximo desde a sua criação. Números próximos haviam sido apenas alcançados entre 2013 e 2015, altura em que vigorava um projeto financiado pela União Europeia no âmbito do programa para Actores não Estatais e Autoridades Locais no Desenvolvimento. Contudo, e contrariamente ao verificado entre 2013 e 2015, os números alcançados em 2019 foram resultado de anos de trabalho para a construção de uma SIMABÔ sustentável, independente de grandes projetos financiados por terceiros.

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Da análise do gráfico acima é possível verificar que os resultados de 2019 estão relacionados com o aumento significativo do número de animais castrados em campanhas realizadas na tenda móvel da SIMABO. O gráfico abaixo explica estes dados, uma vez que revela que em 2019 foi realizado praticamente o dobro das campanhas, tendo sido intervencionados lugares como: Ribeirinha, Espia, Bela Vista, Monte Sossego, Ribeira de Craquinha, Ribeira de Julião, Lameirão, Madeiral, Salamansa, Calhau, Lazareto, Ribeirinha e Fonte inês.

Infelizmente, esta tendência de crescimento inverteu-se em 2020, resultado das dificuldades decorrentes da pandemia mundial vivida. Foram realizadas 1.374 castrações, das quais apenas 60 correspondem a castrações realizadas na única campanha feita durante o ano, em Salamansa.

Mas, de que forma a crise pandémica prejudicou os resultados da SIMABÔ? Pois bem, as limitações sentidas são principalmente de natureza financeira e ao nível dos recursos humanos. No que diz respeito à primeira, importa esclarecer que a principal fonte de financiamento da SIMABÔ era, até então, o seu Hostel solidário, sendo portanto facilmente dedutível as graves consequências sentidas durante 2020. Quanto às dificuldades humanas, a interrupção da circulação internacional de pessoas limitou a receção de veterinários voluntários, fundamentais à realização de campanhas de castração pela ilha.

A SIMABÔ entra, portanto, em 2021 com a necessidade de se reinventar, uma vez que pretende continuar a oferecer à população os mesmos serviços, nomeadamente as castrações gratuitas.

O que pode ser feito, então, para conciliar a sua trajetória de crescimento com o período atípico que vivemos? Em primeiro lugar, importa referir o papel da Cooperação Internacional. Durante os últimos anos, a rede de contactos internacionais da SIMABÔ tem-se alicerçado, contando-se agora, e mais do que nunca, recorrer ao apoio – financeiro e humano – desses parceiros internacionais. Em segundo lugar, é importante reconhecer a importância dos responsáveis comunitários: em 2021 pretende-se encontrar responsáveis comunitários em diferentes zonas da ilha, de forma a criar uma rede de cooperação local que dê continuidade ao trabalho desenvolvido com animais de rua. Por fim, há que apostar na comunicação, em particular nas redes sociais. Pretende-se aumentar o alcance junto da população de São Vicente de forma a incentivar, perante a impossibilidade de realização de campanhas de castração nas zonas, à castração dos animais na Clínica da SIMABÔ. As redes sociais constituem também uma ferramenta importantíssima para a promoção de outro pilar SIMABÔ: a promoção da adoção de animais resgatados na rua.

A SIMABÔ reconhece as dificuldades decorrentes do contexto atual vivido, mas recusa baixar os braços à sua missão e, por isso, definiu os seguintes objetivos para 2021: (1) dar continuidade à castração gratuita, voltando a alcançar as 2.000 castrações; (2) continuar a sensibilizar a população local para os direitos dos animais e sua proteção, envolvendo-a em atividades e retomando a realização de palestras; (3) aumentar o número de adoções de animais recolhidos na rua, de forma a potenciar a rotatividade dos cães abrigados no canil da SIMABÔ.

A SIMABÔ agradece a todos os sócios que, apesar de todas as dificuldades sentidas em 2020, continuaram a trazer os seus animais à Clínica e a envolverem-se  no projeto. Um muito obrigada por tornarem o nosso trabalho possível!

Coordenadora Geral desde 2019

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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