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O Rei vai nu nas Forças Armadas cabo-verdianas

Não é o serviço militar obrigatório a causa de todos os problemas que temos nas Forças Armadas. Os soldados não são responsáveis por nada.

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Por: António Santos

O incêndio, há cerca de um mês, no Parque Nacional da Serra Malagueta, que provocou a morte de oito militares que seguiam num camião para ajudar nas operações de combate “ao fogo” e a morte de 11 pessoas, em 2016, no destacamento militar de Monte Tchota, a 45 quilómetros da capital de Cabo Verde, são acontecimentos infelizes que continuam a levantar muitas questões e são demonstrativas das fragilidades existentes nas Forças Armadas Cabo-verdianas.

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O incêndio na Serra da Malagueta só veio demonstrar que, afinal, “o rei vai nu nas Forças Armadas Cabo-verdianas”.

Já em 2016, o capitão na reforma Daniel Almeida colocava o “dedo na ferida” e, como a criança de “O Rei vai nu”, de Hans Christian Andersen, apontava e “gritava” que a hierarquia militar tinha optado pela politica do “deixa andar” nas Forças Armadas, lembrando que, “desde 1991, as Forças Armadas começaram a perder o rigor do tempo do partido único, depois que dirigentes do MpD questionaram na altura o próprio exército”.

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Nos dias de hoje, os governantes e a hierarquia tentam arranjar “bodes expiatórios” para as fragilidades existentes nas nossas FA. Alguns tentam culpar o Serviço Militar Obrigatório (SMO). Mas, na minha perspetiva, não é o SMO a causa de todos os problemas que temos nas FACV. Os soldados não são responsáveis por nada, a hierarquia é a única responsável por tudo o que acontece ou deixa de acontecer nas FA.

O problema de fundo, no meu entender, está na formação dos quadros militares. Infelizmente, as sucessivas chefias das FACV são mais civis do que militares. Temos que acabar, e essa é uma obrigação dos partidos políticos, com os Generais sem habilitações legais para desempenharem a função. Ou seja, “exigir” o curso de Estado Maior Conjunto e o curso de promoção a General.

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Outro problema das nossas Forças Armadas prende-se com o equipamento e o armamento que estão obsoletos, por falta de manutenção e, também, por manifesta falta de cultura militar. Todas estas situações levam-nos a duvidar e a pensar que a senhora ministra não tem nenhuma política para as FACV.

O incêndio na Serra da Malagueta só veio pôr a nu as fragilidades das Forças Armadas. Não temos veículos para transportar os militares em segurança. A Guarda Costeira tem umas unidades fictícias, sem aviões e barcos patrulhas para efeitos, porque estão todos inoperacionais.

Assistimos sistematicamente a exercícios militares, mas não entendemos para que servem. Penso que a única utilidade que têm é calar a boca de todos os que pretendem um futuro melhor para as nossas FA.

De uma vez por todas, é necessário que o poder politico e, principalmente, a ministra da Defesa entendam que é urgente reformular a estratégia existente para as FA. A Ministra de Estado, da Defesa Nacional e Ministra da Coesão Territorial da República de Cabo Verde, Dra. Janine Tatiana Santos Lélis, tem que entender os sucessivos problemas de criminalidade originada pelos ex-militares, com conhecimentos operacionais especiais.

É necessário criar incentivos para que esses militares, quando passam à disponibilidade, não se enveredem pelo mundo do crime, aderindo ou criando grupos de criminalidade organizada para satisfazer as necessidades… O caso de Monte Tchota é paradigmático.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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