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O “povo” e os seguidores…

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Por: Nelson Faria

O que me choca, bastas vezes, é a confusão que se gera, consciente ou inconscientemente, entre os seguidores das redes e o sentido lato da palavra “povo” enquanto cidadãos constituintes de uma nação.

A palavra “povo” tem origem no latim populus, que se refere a uma comunidade de pessoas que compartilham uma cultura, história, território ou interesses comuns. O termo evoluiu ao longo do tempo e é usado para descrever a população de uma nação ou região específica. Em um sentido mais amplo, “povo” também pode se referir ao conjunto de indivíduos que compõem uma sociedade, independentemente de fronteiras geográficas específicas. São os cidadãos de um mesmo Estado.

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Entretanto, a palavra “povo” pode ser interpretada de várias formas, dependendo do contexto em que é utilizada. Geralmente, refere-se ao conjunto de indivíduos que constituem uma comunidade, nação ou sociedade em particular. Em termos políticos, “o povo” muitas vezes mostra a massa de cidadãos que têm direitos e responsabilidades em relação ao governo de um país. Pode também se referir a um conjunto de pessoas de um determinado local, a uma multidão, a uma grande quantidade de pessoas. Portanto, o conceito de “povo” é multifacetado e pode ser analisado e utilizado sob várias perspetivas.

Cingindo-me ao conjunto de indivíduos que compõe uma sociedade, diria que, se falamos do povo de São Vicente, onde resido, este tem 78.137[1] pessoas; se falamos do povo cabo-verdiano residente podemos chegar a 491.233[2] indivíduos; se falamos do povo cabo-verdiano como um todo, estima-se à volta de dois milhões de pessoas, contanto os que estão na diáspora[3].

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Considerando as diferentes significâncias e interpretações da palavra, também pode ser chamado “povo das redes sociais” os seguidores nas redes que são os utilizadores que optam por acompanhar o conteúdo de uma determinada conta ou perfil e, se repararmos bem, pode ser questionável o número de pessoas que representam sobre o número de indivíduos que constituem o povo na sua globalidade, complexidade e diversidade.

Os seguidores são uma medida de popularidade e alcance nas redes sociais, por lapidar cientificamente, já que indicam o número de pessoas, ao menos o número de perfis, interessados no conteúdo compartilhado por uma conta específica. A interação faz-se com reações e comentários. O grande número de seguidores e interações pode ser importante para influencers, marcas e organizações, pois pode aumentar a visibilidade de suas mensagens e promover maior interação com seu público-alvo.

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O que me choca, bastas vezes, é a confusão que se gera, consciente ou inconscientemente, entre os seguidores das redes e o sentido lato da palavra “povo” enquanto cidadãos constituintes de uma nação. Povo somos todos nós e não se resume a franja de seguidores e público alvo de uma ou outra conta nas redes sociais. Na minha perspetiva, é correto os influencers invocarem “o seu povo”, sendo esse os seus seguidores, porém, nunca o povo onde cabemos todos.

Em bom rigor, nas redes sociais, cada um representa a si mesmo, com virtudes e defeitos, emitindo posicionamentos pessoais, assumindo, por isso, todas as responsabilidades que lhe cabe, não obstante, quando delegado pelas coletividades a que pertencem e representam, mandatado pelos seus pares, representa-os na medida e limites que for permitido.

Sem perder a empatia que nos liga enquanto semelhantes, enquanto povo, sem perder a compreensão das diferentes realidades da vida quotidiana, sem perder a lucidez sobre contextos e visões, mesmo com as redes sociais, não me intitulo representante de quem não me delegou poderes para tal e ninguém me representa sem o meu consentimento. Portanto, além dos eleitos políticos e organizacionais onde me incluo, no limite dos seus mandatos, ninguém me representa enquanto cidadão, enquanto povo.

A utilização abusiva e incorreta do “povo” nas redes sociais, com base no número de seguidores, pode ser perniciosa para os influencers, pois daí ficam com a ilusão de congregarem todos os cidadãos, o povo, nas suas ideias e convicções, quando na realidade pode ser uma grande falácia, mesmo que nas redes tenham uma enormidade de seguidores. Todavia, não é menos verdade que, por essa via, muitos influencers têm conquistado boa parte do povo.

O mundo e o povo estão também no digital, mesmo que esta vertente seja superficial. Seguir e ser “o povo de alguém” nas redes sociais é uma opção, fazer parte do povo e ser cidadão de um Estado, não, é uma condição.


[1] https://www.balai.cv/noticias/sociedade/sao-vicente-celebra-hoje-562-anos-e-tem-mais-homens-do-que-mulheres-na-sua-populacao/

[2] https://www.worldbank.org/pt/country/caboverde/overview

[3] https://expressodasilhas.cv/pais/2023/06/16/cabo-verde-vai-mapear-a-sua-diaspora-ate-2026-para-produzir-estatisticas-oficiais/86311

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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