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O meu olhar sobre o Cabo Verde Investment Forum 2022

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Por: Adilson dos Santos da Cruz

Quero partilhar com os cabo-verdianos a minha experiência como participante no Cabo Verde Investment Forum deste ano, promovido pelo Estado de Cabo Verde nos dias 16 e 17 de junho, na ilha do Sal.

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A minha presença neste evento foi motivada pela curiosidade e o interesse no desenvolvimento do meu País, dado que era pela primeira vez que estava participando de um acontecimento desta dimensão e desta natureza em Cabo Verde. Por isso queria deixar-vos a minha humilde opinião sobre o referido Fórum. É uma experiência baseada naquilo que presenciei, portanto, sem estudo antecipado.

Dar oportunidade aos outros para investirem no nosso país é um dos assuntos mais propalados pelos sucessivos Governos durante a história de governação das nossas ilhas. Captar recursos de investimentos externos que impactam a situação socioeconómica de Cabo Verde, melhorando os indicadores macroeconómicos, a qualidade e a quantidade do emprego, que perseguem o caminho da redução da pobreza, a consequente contribuição considerável no PIB do País, é a esperança de todos os cabo-verdianos.

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Foi esta intenção que constatei na realização do encontro, na exposição de grandes temas por parte de várias empresas privadas presentes na cerimónia, caso do hotel Riu, do Banco Mundial e de algumas empresas nacionais que se ocupam da área digital. Para mim ficou evidente que a aposta deve ser na captação de recursos nacionais, endógenos, isto é, criar as condições para promover e incentivar mais investimentos de cabo-verdianos residentes e não residentes. Foram excelentes apresentações, bem conseguidas e coloridas, porém, não podemos esquecer dos fóruns do passado, que até hoje não produziram nenhum resultado a favor dos cabo-verdianos, apenas custo da realização dos Fóruns Cabo Verde Investment.

Os resultados do Fórum Cabo Verde Investment têm beneficiado apenas um grupo de cidadãos estrangeiros e alguns privilegiados nacionais, no que toca, por exemplo, à venda e revenda dos terrenos mais bem localizados do arquipélago e nas construções de obras, quando estas são acabadas. São os de sempre que se aproveitam.

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A outra face da moeda – a população, a maioria que não tem acesso ao poder e nem sequer tem a garantia de qualidade de sobrevivência – até agora só lhe tocou o frasco, a borra daquele que devia ser investimento para todos. O que lhe cabe é um emprego nos hotéis onde os salários só dão para as despesas básicas diárias, enquanto outros vivem como vips, isto no mesmo país. Uma terra com duas realidades diferentes, com classes sociais bem distintas.

Outra coisa que me impressionou e estranhei, e que passo a relatar, foram as ausências de grandes personalidades nacionais no Fórum Cabo Verde Investiment, algumas até por motivo duvidoso. Não se deu conta de alguém da oposição política no evento.

Julgo que a oposição, como representante do povo e um elemento fundamental na governação do nosso país – um catalisador no desenvolvimento do nosso arquipélago – só teria uma resposta positiva a dar ao fórum. No entanto não compareceu ninguém dessa ala, o que acabou por manchar a fotografia dos interesses de Cabo Verde e consequentemente do povo cabo-verdiano nesse evento. Por outro lado, esta ausência colocou aos nossos olhos mais uma vez a fragilidade do sistema político, ou a escolha de eventos por parte dos atores políticos cabo-verdianos, deixando transparecer que atividades desta categoria são associadas à cor partidária.

Na próxima edição do fórum gostaria de ver os representantes da oposição, os antigos ministros, primeiros-ministros e até mesmo o Presidente da República.

Outro inconveniente foi a fraca participação da Diáspora na cerimónia e que me surpreendeu pela negativa. Por essa razão, duvido enormemente da existência de um lobby forte entre Cabo Verde e a sua emigração.

A ausência dos deputados da nossa Diáspora, que foram eleitos pelos emigrantes, e do Ministro das Comunidades ilustrou a minha preocupação neste sentido. A Diáspora deveria sempre ser representado garantidamente, já que temos um Ministro das comunidades e 6 representantes na Assembleia Nacional.

A maior falta de comparência do evento foi a Ana Barber. Durante muitos anos esta senhora foi o rosto dos empresários cabo-verdianos, a gerir quase todo o aparelho comercial no país. Em fevereiro ela liderou uma comitiva de Cabo Verde na Expo Dubai, tendo sido fortemente criticada pela sua presença, apesar dela ter afirmado no canal Adilson Time que Cabo Verde fez uma boa prestação em Dubai.

O evento, apenas regressou a Cabo Verde para uma segunda sessão, após ter sido realizado na Expo Dubai em fevereiro deste ano – nada mais de especial e de diferente aconteceu. Como dizem os holandeses ela brilhou com a sua ausência e, num bom crioulo, “nem fum e nem mandod dela ness event”, o que causou estranheza por parte dos atentos presentes na cerimónia.

Quanto ao espaço que escolheram para o desenvolvimento do evento foi sem dúvida muito bem organizado, estruturado e merece todas as minhas felicitações. Não deixaram faltar nada aos participantes.

Por ser Cabo Verde, talvez apresentar aos investidores a nossa terra desta forma não seria aconselhável. Ou seja, apresentar Cabo Verde num espaço privado, no hotel mais caro do país, de nome, calibre internacional e qualidade mundial, mesmo situado em Cabo Verde, não representa o que somos. Se tiramos o clima tropical, as belas praias e a tranquilidade que as ilhas nos oferecem, a nossa “morabeza” cabo-verdiana devia ser sempre um dos motivos de todos os eventos em especial os que são feitos na nossa terra.

Creio que se devia dar mais oportunidade aos novos investidores para discursarem durante os dias da realização do evento, para potencializar os seus negócios e arranjarem parceiros estruturais para catapultar os seus investimentos. Outra sugestão é a participação da população apresentando a simpatia cabo-verdiana através da cultura e da gastronomia. Acredito que isso colocaria outra dinâmica ao Fórum.

Não acredito que as gentes do Sal e da maioria das restantes ilhas do País e da Diáspora tomaram conhecimento da existência da referida atividade, até porque fora do hotel não se dava conta que havia uma apresentação daquela natureza.

O evento já aconteceu, agora são as avaliações e os resultados. As sementes estão lançadas, aguardamos e fazemos votos que a colheita seja bastante produtiva e suficiente para abastecer todas as ilhas da nossa estimada terra.

Que o vento leve os maus momentos longe das gentes da nossa terra, que a chuva regue as terras de esperança, fé e abundância e que o sol faça multiplicar a produção e a felicidade do povo com a sua energia e vitamina.

Bem-haja o nosso País! Que o futuro seja melhor que o presente.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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