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O Meu 5 de Julho

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Nasci, cresci e fiz parte da independência do nosso país, logicamente sem nenhuma acção concreta, e nem poderia. Contudo, emocionalmente esteve tudo muito presente, desde do contexto difícil,  às vivências marcantes,  à protecção sentida e sobretudo o amor das minhas inúmeras madrinhas, tias e mães. Ter sentido o amor de Amílcar Cabral pelas crianças, ter sido seu afilhado, fazem de mim um eterno privilegiado. 

Por: Amílcar Pires

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Na barriga da minha adorada mãe, acompanhei as suas emoções da clandestinidade em Coimbra/Cabo Verde, enquanto ela estudava, e como criança, a luta armada em Conacry. O sonho dela pela independência, justiça  e igualdade, acompanham-me pela vida. 

MÃE! A tua mais que meritória trajectória de realizações em prol das inúmeras causas sociais e lutas das minorias, constituem mais um exemplo de afirmação da mulher cabo-verdiana.  Um muito obrigada por tornar este homem-menino um eterno idealista, altruísta e sonhador do bem. És, para mim, uma verdadeira HEROÍNA.

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Fui criança da Escola Piloto e somos muitos na Guiné, Cabo Verde e pelo mundo fora. A eles um rijo abraço de eterna amizade. Agradeço ao médico cubano, cujo nome desconheço, e por isso, a homenagem  é extensiva a todos os cubanos, e à enfermeira Paula, por terem salvo a minha vida, enquanto criança.

Aos Heróis nacionais o meu mais profundo reconhecimento pela coragem, perseverança, conquista, ousadia e, sobretudo, agradecimento eterno pelo impagável presente, a independência. que fez de mim e de muitos, plenos cidadãos conscientes das suas raízes. 

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Destaco meu pai por ter tido a coragem e a integridade de carácter de manter e honrar a palavra de Cabral e de tudo ter feito para não deixar morrer seus ensinamentos, apesar das inúmeras adversidades. A tua verdadeira e incansável dedicação na construção deste nosso país fazem de ti um exemplo para mim e para muitos, e isso deve chegar. 

Tu, o genuíno discípulo de Cabral, aquele que sempre deu cara as balas, colocou o colectivo, o partido e a luta das causas com verdade, acima de quaisquer privilégios pessoais, és SIM o meu HERÓI e um eterno obrigado por tudo.

Sou um sortudo por crescer com o meu país e termos sido crianças, adolescente e adultos juntos e ainda termos atingido a verdadeira maioridade e a liberdade aos 21 anos, com a democracia.

 Para mim, a 1ª República pode ser visto também como o crescer de uma criança. E se assim for visto, com verdade, feridas podem cicatrizarem-se. 

Uma criança precisa de alimento, educação, protecção, lar e condições básicas de vida e assim foi feito na primeira República. A fase inicial até 1980, corresponde à euforia e felicidade inicial dos primeiros anos de casamento. Os primeiros desentendimentos no lar, nada mais normal. 

A adolescência atribulada e rebelde, a enfrentar o poder instituído, a afirmação de ideias próprias, as influência externas, o experimentar do novo, caracterizam uma adolescência atribulada, real, possível, dinâmica e realista.

Os meus 18 anos coincidem com o congresso de 1988, onde há uma consciência de maioridade, independência, diversidade e o começar de uma vida nova. Quadros novos ascendem ao poder e começa-se a falar de democracia. Acredito ser normal para alguns, que pode simbolizar “o pai”, o querer de mais abertura para o filho poder trilhar novos caminhos e para outros, que simboliza a mãe, quererem proteger, por questões também emocionais, o filho Estado e o status quo. 

O lar teve zangas, incompreensões, algumas palmadas, birras, injustiças, choque de gerações, excesso das partes, é verdade… mas não é isso que acontece em todas as famílias?

Era necessário uma postura mais centralista, um maior controlo e supervisão, espírito de equipa, princípios rígidos e uma certa autoridade dos pais… Até isso vejo com normalidade.

É a forma subtil que encontrei para descrever um período, muito intenso, cheio de paixão no início, com amor, coisas boas e más, justiças e injustiças, mas que apesar de tudo, teve protagonistas extraordinários e marcantes, em todo o nosso espectro social. 

Espero que o MPD possa perdoar e conseguir fazer as pazes com os combatentes, e o PAICV possa valorizar mais o dia da democracia, assumindo com toda a naturalidade os erros, a bem do nosso futuro e para que, com a mesma emoção, possamos todos, comemorar cabalmente as datas mais  importantes da República. 

A Nação bem precisa!!!

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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