Pub.
Opinião
Tendência

Maçonaria – Desfazendo o mito (parte 3): Liberal ou Socialista?

A maçonaria pode ser considerada um método e que dentro dela comporta várias correntes políticas, religiosas, filosóficas. E essa é a força dela; saber compor com variações políticas, religiosas, etc.

Pub.

Por: Cídio Lopes(Doutorando em Ciências das Religiões)

7 – Qual a contribuição da Maçonaria para a sociedade?

Se maçonaria não é uma confraria de negócios qual é seu propósito? Ser uma sociedade dedicada a formação humana é o grande benefício da maçonaria. Quando pessoas individuais se comprometem com princípios universais de humanidade os benefícios difusos e singulares serão os mais variados.

Publicidade

Esse é o sentido de Liberal da maçonaria. Cada pessoa é a peça fundamental da sociedade, e se propiciamos a oportunidade para aqueles indivíduos que reúnem as condições de se dedicarem a esse trabalho, os efeitos serão sentidos na sociedade. Se como pai eu me preocupar com a educação dos meus filhos; sabendo quais são os instrumentos para tal, a mudança será em toda sociedade. Se como cidadão, empresário, investidor, professor, médico, advogado, vendedor, me colocar compromissos pautados por princípios universais e humanistas, o efeito de uma sociedade melhor irá acontecer na singularidade de cada pessoa. Daí o projeto ser algo discreto, sem pretensões espalhafatosas. E muito menos de projetos com o nome da maçonaria na “testa”. O projeto maçônico por excelência é o indivíduo e por isso será comum que tais pessoas encabecem projetos como universidades, jornais, revistas, entre outros, para ficarmos no âmbito da cultura. Como também em vários outros setores fundamentais de um Estado soberano. Projetos de segurança alimentar, investindo na agricultura de larga escala, projetos de energia, segurança nacional, infraestrutura, etc.

8. A Maçonaria é liberal ou socialista?

A maçonaria pode ser considerada um método e que dentro dela comporta várias correntes políticas, religiosas, filosóficas. E essa é a força dela; saber compor com variações políticas, religiosas, etc.

Publicidade

Ela é liberal na medida em que encampa todo um discurso político na base da formação dos Estados Modernos. Especialmente na formação dos Estados Unidos da América do Norte e que depois ecoou por toda a parte da América Latina na formação dos Estados dessa região, como também em África. Em Angola houve tentativas no século XIX de promover a independência; fato frustrado.

Contudo, a ideia de altruísmo, de doação, de formação de um grupo fraterno, ela indica traços socialistas no sentido de valorizar o coletivo na construção do indivíduo. E poderá ainda ser considerada “Tradicional” ao valorizar conceitos sociais como Ordem, Confraria, etc.

Publicidade

No aspecto religioso há ao menos duas correntes. Uma que crê num “arquiteto do universo”, portanto em um Deus. Há outra corrente, geralmente vinculada ao contexto cultural da França no século XIX, que prefere não admitir tal princípio, deixando para que cada pessoa decida sobre tal. Contudo, a maçonaria nos dois casos não é antirreligiosa, não se aprecia de modo negativo a religião. As rusgas entre a Maçonaria e a Igreja Católica Apostólica Romana foi mais no âmbito de poder; o liberalismo restringiu e separou o papel da Igreja; como de ponto de vista filosófico: aceita e convive com vários credos religiosos, admitindo que pode sim haver uma diversidade na compreensão do sagrado.  

O fato é que maçonaria é uma estrutura que absorve com frequência a moda do momento.

9. Quem faz a Maçonaria acontecer?

Seus membros, que se tratam como irmãos e procuram construir uma fraternidade filosófica. Não há nada externo a isso. Não há forças “cósmicas”, mas duro trabalho. O êxito da Loja e seus desdobramentos será fruto exclusivo de quem a compõe, o fracasso também. Ninguém vigia ninguém; ocorre apenas de um confrade mais velho, na fase inicial de formação atinente ao conteúdo maçônico, ser responsável por indicar e dialogar como os novatos sobre os conteúdos maçônicos. Se há uma autoridade maçônica é aquela na qual a pessoa “sendo livre, decide servir” aos outros. O que não é fácil.

10. Atividades para-maçónicas

Se apenas homens participam da Loja maçônica, há um conjunto de atividades que ocorrem nas dependências do Templo ou até mesmo dentro dele destinado aos filhos, filhas e esposas de maçons. Aliás, aos filhos são chamamos de sobrinho e eles nos chamam de tios; o mesmo ocorre no que toca às esposas, que habitualmente são chamadas de cunhadas. Esses vínculos são construídos lentamente e só fazem sentido se de fato houver ambiente fraterno que os contextualizem.

Existem várias metodologias para tais trabalhos dito para-maçônicos. E elas recebem os seguintes nomes: “Filhas de Jó”, para as moças; “De Molay” para os meninos, e “Estrela do Oriente” para as esposas. O certo é que tais iniciativas devem ocorrer com o tempo, após o grupo Loja maçônica for estruturado.  

11. Atividades profanas a partir da Maçonaria

Existem dois desdobramentos públicos da maçonaria e que não levam o nome “maçonaria”. Como podemos constatar facilmente que maçonaria é uma Instituição filosófica, filantrópica e fraternal, temos que a fraternidade e sua dinâmica é “intra corpus”, não praticamos a fraternidade com os de fora, apenas entre nós. Restam, contudo, dois aspectos que podem ser externos e internos. Se a prática da filantropia pode se aplicar internamente, através da solidariedade entre irmãos e familiares, ela é no geral destinada às pessoas de fora. E será manifestada em “obras sociais de assistência”.

Outra faceta muito relevante é o empenho da divulgação da cultura filosófica ou dos conteúdos filosóficos em geral, mas sobretudo destinados à ideia de uma vida republicana no interior do Estado. Dado que não nascemos “democratas” ou mesmo socialistas, mas meros tiranos, como a psicologia e psicanálise contemporâneas muito bem podem nos explicar, a Maçonaria procura, por vários meios, promover conteúdos para uma vida em sociedade. Ser cidadão no Estado é algo que se aprende. E movido por esse propósito cultural, indivíduos ou mesmo a Loja maçônica, promovem atividades culturais nesse sentido para o público em geral.

Nas mais variadas formas de emissão e cultivo de cultura. Jornais, colunas de opinião em revistas ou jornais, revistas de cultura geral, programas de rádio, teatro, livros, etc. Nesse âmbito nunca aparece o nome maçonaria pelo simples fato de que tais atividades não são um conteúdo exclusivo dela. Filosofia é filosofia no geral, essa apreendida nos livros, cursos, no interior da vida universitária. Literatura é a literatura universal, com sua lógica ficcional própria; debate sobre fundamentos jurídicos obedecem a regras universais da cultura, entre outros. Porém, todos esses fazeres produzem no computo geral a ideia de promover a vida republicana e por isso é objeto de interesse maçônico.

Essa atividade cultural para o público no geral não compõe necessariamente o projeto de uma Loja. Essa agremiação tem foco interno, queimar essa etapa e assumir outros compromissos, nada funcionará bem. Tais feitos externos só se justificam quando excedem os compromissos próprios de uma Confraria, que não é uma sociedade estrita na propagação de algum conteúdo, antes, é uma organização fraternal e que cuida prioritariamente dessa dinâmica. 

São Paulo, SP, Brasil.

Mostrar mais

Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo