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Opinião

Gestão ética da população canina

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Por Salvador Mascarenhas

Diz-se que a ligação recíproca entre o homem e o cão remonta de há mais de 12.000 anos, algures na Eurásia. O lobo, atraído pelos restos de comida, aproximava-se dos acampamentos e rapidamente se tornou num frequente e bem vindo visitante, avisando o homem dos perigos eminentes e mais tarde ajudando-o na caça de animais selvagens. Assim começou a domesticação do cão e o estabelecimento de uma ligação entre homem e animal, únicos na história da Terra.

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Existem inúmeros benefícios desta relação para o homem. Os cães são usados em inúmeras tarefas desde trabalho, de guarda a animais de companhia e também na assistência de pessoas com deficiências visuais ou com problemas auditivos, etc. Os cães de companhia ajudam a vencer a depressão e a solidão e como diz o adágio, “é o melhor e mais fiel amigo do Homem.”

Vários estudos científicos comprovam que trazem benefícios para o físico e mente dos donos. Pode-se dizer que a domesticação do cão, a sua grande utilidade ao Homem e a protecção que o Homem lhe deu em retorno, criou esse laço inigualável.

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Mas, hoje, o Homem viola esse contrato milenar, permitindo que os cães reproduzam excessivamente e abandonando-os em grande número, causando sofrimento aos animais e por vezes pondo em perigo os próprios homens. Os governos e as autoridades locais, confrontados com a questão da sobre-população canina e os problemas daí resultantes por vezes optam pela destruição em massa na esperança de uma solução rápida, para descobrirem de seguida que a mortandade tem de continuar, ano após ano, sem fim à vista, dando lugar à barbárie e práticas que não  deviam ser permitidos em qualquer país civilizado.

A opção de matar, aniquilar o melhor e mais fiel amigo do homem, o cão, que sendo um ser senciente, ou seja, que consegue ter sensações e sentimentos de forma consciente, como a angústia, a dor, o sofrimento, bem como a alegria e a satisfação, traduz o lado mais sombrio da humanidade, porque, apesar de todos estes anos de dedicação incondicional e fiel, o Homem assume a atitude covarde e medíocre de espezinhar o elo mais fraco do problema, causando sofrimento, angústia, dor e morte a seres indefesos e sós, através da eletrocussão e estricnina que promovem espasmos dolorosos e lancinantes até à morte demorada, após dias de privação de água e comida ou a  morte desesperada por afogamento no mar dentro de sacos com pedras ou asfixia por enforcamento, morrendo em sofrimento de forma anónima assim como os corpos putrefactos são lançados anonimamente nas lixeiras públicas como se fossem pedaços de cadeira ou outro móvel que descartamos por não prestar mais.

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O que acontece é que essa redução temporária dos animais numa determinada área vai aumentar as chances de sobrevivência dos que ficam, encorajando a migração dos cães sem dono para essas áreas com menos animais, aumentando a probabilidade de doenças e outros problemas gerados pelos cães sem controle.

Na prática sabe-se que os cães que são capturados para estas chacinas são normalmente animais com donos e que não estão muito longe de casa, provocando ódio, quando sabemos que um programa de controle da população canina tem de ter necessariamente suporte da comunidade e das associações de protecção dos animais, para que funcione eficazmente, e obviamente que assim não é a solução!

Qualquer programa de controle ético da população canina deve diferenciar os cães com dono e os cães sem dono, e lidar com cada categoria de forma apropriada.

Este programa deve estar sempre ligado a uma campanha educativa para reduzir o problema na sua origem: a casa dos donos dos cães.

Custo, uma falsa questão:

A razão porque muitas autoridades não introduzem uma forma ética de controle da população canina é alegadamente por causa dos custos, contudo se formos analisar as consequências do mau controle da população como acidentes com animais, mordidas de cães, ataques de matilhas a rebanhos, zonoses, custos da captura e morte dos animais, incineração que devia existir, não fica mais barato e pior, é ineficaz!  

O custo de um programa ético de controle da população canina pode ser menos oneroso se aliado a um bom sistema de registo e identificação animal, taxando os animais que não são castrados.

O controle efectivo da população canina deve assentar nos seguintes pontos num programa proactivo:

  • Educação dos donos dos cães e futuros donos.
  • Controle da reprodução dos cães com donos.
  • Controle do ambiente dos cães que não são vigiados.
  • Registo e identificação obrigatório dos cães.
  • Licença e controle dos criadores de cães.

Educação e controle da reprodução dos cães com donos:

As autoridades locais devem levar a cabo uma campanha de educação e chamada de atenção de como ser um dono responsável. Associações protectoras dos animais e veterinários devem estar envolvidos nesses programas. 

Pontos importantes devem ser a promoção da esterilização, as necessidades de um animal de estimação e o comprometimento do dono para o bem cuidar.

Além da promoção da responsabilidade entre os donos dos cães, deve-se orientá-los para adoptarem um animal de estimação no futuro em vez de comprarem.

Se houver uma lei de protecção dos animais, como agora se propõe, deve-se evidenciar as responsabilidades legais dos donos nos materiais educativos.

As campanhas educativas devem incluir visitas às escolas, publicações, panfletos, cartazes e quando possível, aparecer nos média.

Sempre que houver um animal maltratado devemos aproveitar a situação como oportunidade educacional junto do dono.

Registo e Identificação:

Registo e identificação são essenciais para o sucesso de um programa ético de controle de reprodução canina. Programas obrigatórios de desparasitação e vacinação contra a raiva só são possíveis num bem montado sistema de registo e identificação.

O registo não é nada mais nada menos que um sistema em que se anota cada cão individualmente, com identificação completa do dono. Deverá ser um registo central informatizado com acesso de diversos pontos do país, e no caso de ser regional terá de haver um prefixo no número de identificação para cada região.

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Cada cão terá de ter uma identificação permanente que propomos que seja o microchip inserido do lado esquerdo do pescoço, que é o procedimento standard internacional para identificar os cães.

Em adição ao microchip, os cães quando andam na rua, devem trazer obrigatoriamente uma coleira com pelo menos o nome e o contacto telefónico do dono. Para evitar roubos de coleiras pode-se usar uma coleira plástica barata.

A introdução do registo obrigatório deve ser acompanhada de medidas que penalizem  o abandono.

Taxa municipal:

É recomendável uma taxa municipal baixa para os cães castrados, estimulando a esterilização. Esta taxa deve ser nula para pessoas carenciadas, mas cães sem castrar pagam sempre uma taxa mais elevada.

A introdução da taxa deve ser bem publicitada, para evitar abandonos por pânico dos donos, dando o prazo de um ano até a sua implementação.

É importante que os valores recebidos pela taxa sejam investido na esterilização dos cães do município e em campanhas educativas sobre esta temática.

Esterilização:

A esterilização dos animais deve ser promovida por todos os meios possíveis, incluindo educativo, incentivos na baixa taxa cobrada aos animais castrados e subsidiar a esterilização dos animais. As autoridades locais devem estabelecer contratos subsidiados com as associações locais e veterinários para a esterilização dos animais e/ou criar estruturas próprias municipais onde se façam essas cirurgias. Os municípios ou grupos de municípios devem ter um corpo veterinário para realização destas e outras tarefas importantes para a saude pública.

Apesar de haver diferentes opiniões acerca da idade ideal para a esterilização, quando a questão premente é o controle da população canina, a castração precoce tem óbvias vantagens.

Controlo do ambiente de cães não vigiados:

É geralmente aceite a ideia que a população de cães na rua aumenta até atingir a capacidade de um área em particular. A capacidade de uma área depende da disponibilidade de comida e de abrigos. Uma forma de reduzir a capacidade de um dado local é restringindo as fontes de alimentação, limpando essa área. Atenção particular deve ser dada a caixotes de lixo, mercados, zonas em redor dos restaurantes, zonas industriais e zonas desabitadas.

Licenciamento e controle dos criadores de cães:

Reprodução indiscriminada é frequentemente um dos factores mais importantes no sobrecrescimento da população de animais de companhia. É importante licenciar e controlar todos os criadores comerciais de cães, não podendo ninguém vender animais sem a respectiva licença. As lojas de animais só poderão também vender animais comprados em criadores licenciados. Para um criador ter licença deve garantir o bem estar dos animais, alimentação  e cuidados veterinários.

Num sistema ideal deveria haver um canil municipal  e os seus trabalhadores devem ser selecionados pela sua experiência e sentimentos para com animais bem como pela sua personalidade, porque serão ao fim ao cabo o contacto com o público, para que a sua função não seja manchada por alguém que não está fadado para esse trabalho que exige sensibilidade.

A técnica de captura dos cães deve ser humana, requerendo paciência e conhecimento do comportamento dos animais e devem ter treino para   lidar com os animais.

A escolha do veículo de transporte é muito importante, porque tem de ter espaços bem ventilados e limpos atrás, separados da cabine de condução.

No canil os os animais seriam confortavelmente instalados , recebendo alimentação e água durante um período de dez dias dando oportunidade ao dono para vir recuperá-lo se for o caso. Se o dono aparece é uma oportunidade educacional para lhe explicar que não deve abandonar o cão sozinho e se não for castrado, o cão é castrado obrigatoriamente e o dono é obrigado a pagar uma multa, se não aparece o dono o cão é colocado para adoção através de uma associação por ex. Os animais que sempre viveram na rua e que não são passíveis de viverem numa casa, devem ser capturados,  esterilizados, identificados, desparasitados, vacinados e soltos. A eutanásia que deverá ser feita só em última instancia, é realizada de forma humana, sem sofrimento, com pentobarbital sódio endovenoso, e reservada somente a animais agressivos ou muito doentes.

Funciona!

Um bom sistema de controle ético da população canina funciona e já foi provado em muitas cidade de países evoluídos.

Sejamos felizes!

Veterinário 

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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4 Comentários

  1. Obrigada Salvador, uma vez mais pela explicação de forma profissional e científica a ver se um dia não encontra ouvidos surdos!

  2. No canil podem Voluntários exercer a nobre acção de apadrinhar ,doar comida , uteis de limpeza ,etc e dar um passeio esses seres nômadas que na rua se impossibilita ,nos crescemos espiritualmente trilhando caminho aos outros que se juntaram no cambio de mentalidade que um cão não e’ coisa ,e’ sim ,um ser que sente e padece ,mais sem voz . Agradecemos ao Dr Mascarenhas pelo exercício da profissão em CV.

  3. Observador ATENTO.!

    O lancamento de um CANDIDATO
    Independente para eleicoes autarquicas deveria ser opcao para demonstrar a forca e determinacao do povo de Sao
    VICENTE bem Como indicacao de votos Nas legislativas com canditados que quando eleitos,
    defendessem do eleitorado que is elegeu!

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