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Opinião

Entre o populismo dos “heróis” e a imperfeição dos homens

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Por Nelson Faria

Isto está de tal forma descrente, desconfiado e enlameado que o espaço para o populismo, para a demagogia e a procura de heróis – semideuses -, como se existissem entre Homens imperfeitos, é a tendência.

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As instituições democráticas e seus atores descredibilizam-se a cada dia que passa. O Sistema judicial, além das suas naturais deficiências, está a ser enxovalhado, por culpa própria e por falhas estruturais, entretanto sem merecer o descrédito que tem sido sujeito. Nestas circunstâncias, naturalmente, aparecem os ditos heróis, novos salvadores da pátria, únicos conhecedores da justiça, do sistema e detentores de toda a verdade e soluções. Enfim, os dissertadores de populismo e demagogia barata.

Dos pseudo heróis, disse e digo: ressalva-se a coragem para apontar algumas falhas, não as ofensas, e, além de eventual razão, ou razões sobre falhas do sistema, vê-se claramente que há, acima de tudo, a busca de um protagonismo pessoal, da soberba, da vaidade e defesa das causas pessoais acima de tudo e de todos. Isto é o que me preocupa. Preocupa-me que apenas uma parte, um lado seja ouvido e dado como o verdadeiro e os demais falsos, porque sim. Não há discernimento e racionalidade para se ouvir a todos, pesar os argumentos na balança da sensatez e ver onde mora a verdade e se pode melhorar, independentemente das eventuais razões das partes.

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A cadeia de discursos e intervenções convenientes, demagogos e populistas tem arrastado muitos. Os descrentes, os desconfiados, os que tem preguiça de pensar pela própria cabeça e não conseguem ver que a dimensão dos estragos pode ser pior do que as falhas que realmente existem. Não conseguem ver que mexer em alguns pilares da forma como tem sido pode colocar em causa a paz, a coesão e a justiça social em vez de corrigi-la. Não querem entender que o caminho para a resolução dos problemas não passa necessariamente pelo populismo e pela demagogia, passa sim, pela pedagogia, pelo diálogo franco e sincero, por soluções efetivas e exequíveis o quanto antes, pela racionalidade e sensatez, onde todos os atores e toda a sociedade participa. Passa por entendermos todos que “o todo é maior que a soma das partes” e que a minha / nossa parte, estará sem causa se não se olhar para o todo. O sistema democrático, a justiça, as instituições devem ser preservadas. Naturalmente têm de fazer a sua parte para esse efeito, cabendo ao cidadão a capacidade de entender os seus direitos e cumprir os seus deveres a bem de todos. Mas, não.

Finalizo como comecei, o populismo e a demagogia são a tendência e parece que neste tempo turbulento, por razões várias, estão a fazer escola. As minhas dúvidas são: até onde podem ir e que consequências podem trazer? Com uma parte da minha mente a pender para o desacreditar e achar que isto, nesta caminhada, tenderá a afundar ainda mais, a outra parte teima em acreditar e ter esperança de que é apenas uma fase necessária para que se corrijam as falhas e que o sistema, todo ele, seja melhorado, sem que o populismo e a demagogia sejam referência, onde a verdade, a racionalidade e a sensatez imperem. Qual terá razão? O tempo dirá.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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