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Opinião

Crónica de uma morte anunciada

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Por Maria de Lourdes Jesus

A comunidade cabo-verdiana na diáspora já tinha enviado um sinal muito claro ao Governo, nas legislativas, desacreditando e desaprovando a política do MPD, votando e fazendo vencer o PAICV no dia 18 de Abril.

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O tema principal deste breve artigo deveria ser sobre as eleições presidências, mas o debate desenvolvido no seio da comunidade cabo-verdiana em Itália foi quase exclusivamente entre os dois partidos: MPD e PAICV. José Maria Neves representava a oposição e Carlos Veiga o governo.

Por essa razão, se o MPD queria participar nas eleições presidenciais, deveria interpretar a derrota nas legislativas como um sinal de alarme enviado pela diáspora.

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Desta vez não foram só as queixas dos familiares em Cabo Verde que orientaram os votos para José Maria Neves.

O governo não cumpriu as promessas e pior ainda lançou e fortaleceu uma política muito impopular, penalizando directamente a diáspora e a população em Cabo Verde.

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Depois da derrota do MPD na diáspora, no mês de Abril, a comunidade cabo-verdiana estava convencida que o Governo ia mudar a sua política para cumprir as promessas e recuperar assim a própria credibilidade junto à população. Nada disso aconteceu e não dá para compreender. A política restritiva continuou até às eleições presidenciais.

A situação em Cabo Verde não melhorou para os emigrantes. São eles os que mais sofreram o problema de transporte aéreo e marítimo.

Houve muitas queixas dos que viajaram este Verão. Lamentaram o custo exagerado da TAP, mesmo nos períodos de baixa estação. Desde que a companhia de bandeira, Cabo Verde Airlines, ficou em terra a TAP deteve o monopólio dos meios de transportes para e de Cabo Verde aos países de emigração. A comunidade acha que o Governo deveria estabelecer um acordo com a TAP para impedir essa exploração inaceitável, por parte duma companhia estrangeira.

Além do custo, viajar duma ilha para outra é um Calvário para os emigrantes.

Houve muitos cabo-verdianos que chegaram no aeroporto Internacional e tiveram que regressar, sem dar aquele abraço aos seus familiares, porque não havia voos inter-ilhas e os barcos sofreram atrasos de semanas. Houve até famílias, que devido aos atrasos, perderam os seus voo de regresso e tiveram que comprar de novo o bilhete para o pais em que vivem e trabalham.

Mais. O anuncio do aumento, da IVA, combustível e a electricidade, é um sinal de alerta, de que a situação económica vai piorar. Os produtos de primeira necessidade vão aumentar o preço, assim como a pobreza e o numero de “Cesta básica”. A pagar o custo dessa política restritiva é sempre a camada mais pobre da população, que vê reduzir, cada vez mais, a sua capacidade de compra.

A indignação perante essa situação é grande e escandalosa se formos comparar com o desperdício do dinheiro do Estado nas deslocações para exterior dos nossos governantes sempre acompanhados por uma delegação bem gorda, como a composição do seu governo.

Na Europa não temos nenhum pais com um governo com tantos elementos, como em Cabo Verde. A Itália, país onde vivo neste momento, sétima potencia industrial no mundo, conta com 64 milhões de habitantes e um governo composto por 25 elementos. Cabo Verde tem cerca de 500 mil habitantes e um governo composto por 28 elementos.

O descontentamento da comunidade emigrada foi aumentando também e desta vez em perfeita sintonia com a Terra mãe, atribuindo a vitoria na primeira volta, a José Maria Neves.

A derrota do candidato Carlos Veiga nas presidências, com o apoio do MPD e da UCID, será daqui para frente tema de debate nos meios de comunicação social.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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