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Considerações gerais sobre Cabo Verde (2ª parte): O arquipélago africano da Macaronésia e o futuro

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Por: José Fortes Lopes

Este artigo é 2ª parte do anteriormente publicado denominado “ Macaronésia e Cabo Verde: uma tese em favor da criação de uma Região Ultraperiférica da União Europeia”, onde apresento algumas considerações gerais sobre o arquipélago Cabo Verde e a sua relação com a Macaronésia e a África, os racionais que justifiquem e suportem a tese da defendida.

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A aparente ordem invertida entre os dois artigos (já que pela lógica esta parte deveria ter sido publicada primeiramente) tem por objectivo não distrair os leitores do tópico essencial acima referido. Também foi minha preocupação inserir este tema num período em que vão ocorrer eleições presidenciais (Outubro) e em que os candidatos estão mais preocupados com o poder do que dizer o que podem concretamente fazer por Cabo Verde, já que os debates não ultrapassam questões de lana-caprina ou de ego: em torno daquilo que fizeram no passado, participação em movimentos mais ou menos “progressistas”, ou estando no poder, na implementação de políticas mais ou menos “democráticas” ou “desenvolvimentistas”. Assuntos tabus e medo de discutir questões de fundo em Cabo Verde, fazem com que o nível geral dos debates aflore o grau zero.

Este artigo está dividido em 3 partes distintas. Em 2.1 apresento considerações sobre a formação geológica/vulcânica do arquipélago de Cabo Verde fazendo parte de uma realidade geológica específica no Oceano Atlântico, o conjunto de ilhas da Macaronésia, que não fazem parte geologicamente da massa continental africana; em 2.2 apresento considerações e retrospectiva histórica sobre Cabo Verde, um caso acabado de experiência lusotropical. Finalmente em 2.3 apresento considerações políticas, e está dividido em duas partes : 2.3.1 Amílcar Cabral, a criação do PAIGC, o ressurgimento nacionalismo no continente africano e as implicações no futuro do arquipélago de Cabo Verde, 2.3.2 Guerra colonial na Guiné e repercussões do 25 de Abril em Cabo Verde e 2.3.3. O confronto PAIGC e a elite Local ou colonial e a Independência de Cabo Verde.

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2.1- Considerações sobre a formação geológica/vulcânica do arquipélago de Cabo Verde e a Macaronésia

Cabo Verde é um arquipélago localizado ao largo da costa da África Ocidental constituído por 10 ilhas, das quais 9 habitadas, e vários ilhéus desabitados, divididos em dois grupos regionais de características climáticas e socioculturais bem vincadas e dividido em dois grupos, de acordo com uma designação meteorológica: ao norte, as ilhas de Barlavento e ao sul, as ilhas de Sotavento (1)

Sobre a natureza geológica do arquipélago de Cabo Verde destaco o mais recente trabalho do falecido investigador luso-moçambicano que trabalhou como cooperante em Cabo Verde e acabou por ser um curioso e estudioso da realidade do arquipélago. Segundo  José Carlos Horta (também conhecido José Carlos Mucangana) em Subsídios para a caboverdeanidade (2) não fará geologicamente parte do continente africano, mas uma origem vulcânica específica, assente na dorsal atlântica que se estende de Norte a Sul do Oceano Atlântico.

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Escreve o seguinte: “Desde o século XIX, os geólogos nunca consideraram os arquipélagos da Madeira e de Cabo Verde como uma dependência de África, atendendo à grande profundidade dos mares que os separam deste continente (Fig. 1 do artigo).  Esta conclusão foi tirada muito antes do aparecimento da teoria da tectónica de placas, que só veio confirmá-la e procurar explicá-la. Os arquipélagos da Madeira, Canárias e Cabo Verde são de formação mais antiga do que o dos Açores. 

Mas, vejamos primeiro o que são ilhas vulcânicas.  Trata-se de vulcões submarinos, que são numerosos, dando relevo aos fundos oceânicos e às planícies abissais.  Só alguns crescem e se levantam acima do nível das águas para formar ilhas.  Há ilhas vulcânicas de dois tipos.  As do primeiro tipo, como os Açores, a Islândia e a ilha de Santa Helena, pertencem a uma dorsal vulcânica médio-oceânica, ou cordilheira de montanhas submarinas, que divide os oceanos em duas bacias.  Nesta dorsal, a crosta ou litosfera oceânica abre-se, deixando sair lavas basálticas, que se vão solidificando para formar nova litosfera oceânica dum lado e doutro da dorsal.  Essa nova crosta oceânica ocupa assim o espaço libertado pelo afastamento dos dois novos continentes, um do outro, neste caso o Brasil ou América do Sul a ocidente e a África a oriente…

Cabo Verde não está, nem nunca esteve em África. Com efeito e resumidamente, o estudo da sua geologia, geoquímica e geofísica só tem comprovado que o arquipélago de Cabo Verde, como os arquipélagos da Madeira e das Canárias, faz parte do Oceano Atlântico, pertence a uma placa da litosfera basáltica oceânica, não faz parte de nenhuma placa continental.

Felizmente, os recursos do oceano à volta de Cabo Verde pertencem exclusivamente à República de Cabo Verde, não pode haver disputa com nenhum país africano, americano ou europeu.  Os países da África Ocidental exercem as suas jurisdições nos troços de plataforma continental delimitados ou a delimitar relativamente às suas fronteiras terrestres, o que é o caso da Guiné, por exemplo. 

Cabo Verde não está, nem nunca esteve em África. Com efeito e resumidamente, o estudo da sua geologia, geoquímica e geofísica só tem comprovado que o arquipélago de Cabo Verde, como os arquipélagos da Madeira e das Canárias, faz parte do Oceano Atlântico, pertence a uma placa da litosfera basáltica oceânica, não faz parte de nenhuma placa continental.  Está fora do continente africano e da sua estreita plataforma e separado desta por profundidades superiores a 3.500 m, como atinadamente lembrou Jorge Querido. ”É o quanto baste para caracterizar geologicamente o arquipélago no âmbito deste artigo. José Carlos Horta denuncia assim algum facilitismo científico para agradar uma certa orientação política, abrindo desta forma as portas para uma tese em favor da criação de uma Região Ultraperiférica da União Europeia A Macaronésia, incluindo Cabo Verde. Portanto, não será pela geologia que se tranportará CV para a “mãe-África”.

Este artigo continua  em 2.2- Cabo Verde: Considerações e retrospectiva histórica 

  1. https://pt.wikipedia.org/wiki/Cabo_Verde
  2. José Carlos Mucangana Subsídios para a caboverdeanidade (2):  https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/tag/%22jos%C3%A9+carlos+horta%22José Carlos Mucangana Um primeiro Subsídios para a caboverdeanidade :  https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/tag/%22jos%C3%A9+carlos+horta%22
  3. http://coral-vermelho.blogspot.com/2016/11/subsidios-para-caboverdeanidade-2qual.html

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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