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“As mentiras da verdade”

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Por: Nelson Faria

“Nem tudo o que eles dizem é verdade… É verdade! Nem tudo o que eles não dizem não é verdade… É verdade! Eles fazem pensar que tu sabes, mas não sabes. Cuidado com as mentiras da verdade… É verdade!” Este é o refrão de uma música do rapper Moçambicano Azagaia, um jovem falecido não há muito tempo, onde descreve, na sua perspetiva, as mentiras da verdade no seu país, Moçambique.

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Quem ouvir a música (https://www.youtube.com/watch?v=DSXtUbXvwa8) certamente identificará muitas similitudes com a nossa realidade, entretanto a mim chama-me atenção esta dicotomia da mentira e da verdade pelas comunicações demagógicas e cada vez mais acirradas que tenho ouvido tentando passar por incautos, burros até, com todo o respeito para o animal, todos os que não alinham com a corrente instalada.

Proclamar aumento de mil escudos no salário mínimo, neste contexto e com o andamento da inflação que temos tido, particularmente, nos últimos três anos, como grande ganho; vangloriar com migalhas atribuídas a algumas classes profissionais, no entanto, sem de facto verem-se resolvidos questões estruturais ligadas à sua motivação, não necessariamente a sua satisfação momentânea; embandeirar o assistencialismo de uma camada pobre que cresce também devido ao trabalho precário e baixos salários; indicar que se irá proceder a alguma regularização da precarização laboral no sector público, o que há muito se poderia ter evitado ou corrigido; fazer um apanhado histórico, retroativo de 2016 a 2023, dos aumentos do salário mínimo para mostrar substância percentual de aumento como se equiparasse ao valor dos notáveis 17 e 18% retroativos, é, minimamente, tratarem-nos todos como menos inteligentes.

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Admitiria e aceitava uma comunicação verdadeira com base na realidade do país, do aumento possível, se não houvesse tanta discrepância nos aumentos verificados, se houvesse coerência e racionalidade na sua definição e nunca a conveniência. Admitiria uma comunicação que não se limitasse a vangloriar com os ditos “aumentos” e “progressos”, mas que demonstrasse empatia com a caminhada dolorosa de muitas famílias. Falo de empatia real que pode também ser traduzida em números, por exemplo com o agregado do aumento da inflação de 2016 até agora, particularmente de 2020 a esta parte e o seu impacto nos salários, particularmente no salário mínimo. Óbvio que é esta comunicação que não convém e sim a que empoleira os reis e seus súditos porque novas eleições se aproximam.

Hoje em dia é mais difícil “enganar a todos, por todo o tempo”, os que se enganaram por algum tempo certamente já estão esclarecidos, dos fanáticos que se querem enganar por todo o tempo, não tenho grandes expectativas, embora vejo um ou outro a ver as coisas em outras perspetivas, mas, hoje, dizia, com a quantidade de informação disponível, com as infinitas possibilidades de sabermos o que quisermos de fontes credíveis, de aprender com facilidade com tudo o que temos, torna difícil a tarefa de quem se acha que o seu status lhe confere toda a verdade para debitar o que lhe convém.

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É mais fácil desconstruir narrativas demagógicas, sustentar posições em informação válida e não engolir comunicação política conveniente como se fazia nas décadas anteriores. Portanto, atualizem-se. Instalem uma nova versão de comunicação que, ao menos, demonstre empatia, embora a empatia é algo que se sente e não pode ser fingido, o que é difícil para fingidores, caso contrário, as mentiras da verdade continuarão a ser demasiado evidentes, pois, a verdade tem muitas perspetivas e não aquela que convenientemente querem-nos debitar.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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