Nelson Faria
A vida nos coloca diante de incontáveis desafios, mas nem todos merecem nosso tempo, energia ou atenção. Saber escolher as lutas que lutamos é uma arte que exige discernimento, maturidade e uma visão clara do que realmente importa. Não se trata de covardia ou indiferença, mas de reconhecer que dissipar forças em conflitos desnecessários nos afasta dos objetivos maiores, aqueles que transcendem o ego e servem ao bem coletivo.
Estes quarenta e um anos já me mostraram que é essencial evitar brigas que não nos pertencem. Ingerir-se em disputas alheias, movido por impulsos de orgulho ou vaidade, consome recursos que poderiam ser direcionados a causas verdadeiramente significativas. Muitas vezes, o desejo de “vencer” uma discussão ou provar um ponto tem uma armadilha associada, pois, ao priorizar o combate, perdemos de vista o propósito que nos move. A verdadeira força não está na capacidade de reagir a tudo, mas na disciplina de preservar energia para o que realmente impacta vidas e transforma realidades.
Além disso, identificar corretamente o adversário é um ato de inteligência estratégica. Nem todo conflito é um inimigo. Às vezes, o verdadeiro oponente está nas nossas próprias limitações, no conformismo ou na falta ou no mau diálogo. Combater fantasias, ou projetar hostilidades onde não existem, apenas gera desgaste. Por outro lado, quando reconhecemos desafios legítimos, como a injustiça, a desigualdade ou a ignorância, podemos agir com foco e coerência, sem nos perdermos em batalhas secundárias.
Acima de tudo, manter uma postura ética e inteligente é o alicerce para construir algo duradouro. Agir movido por interesses pessoais, vaidade ou necessidade de reconhecimento corrompe a integridade de qualquer causa. A ética nos lembra que nossas ações devem servir a um propósito maior, nunca ao umbigo ou à sede de poder. A inteligência, por sua vez, ensina que silêncio, diplomacia e escuta são ferramentas tão poderosas quanto a confrontação, e muitas vezes mais eficazes.
No final, porque tudo acaba, o legado que deixamos não será medido pelas batalhas que vencemos, mas pela forma como escolhemos lutar. Priorizar o interesse coletivo exige humildade para recuar quando necessário, coragem para avançar quando é preciso e sabedoria para distinguir entre as duas coisas. Só assim seguiremos adiante, não como guerreiros cansados de conflitos vazios, mas como construtores de caminhos que beneficiam a muitos, muito além de nós mesmos.