O polo do Parque Tecnológico de Cabo Verde foi ontem inaugurado em S. Vicente, com perspectiva de começar a funcionar ainda no decurso deste mês com a instalação do primeiro cliente, uma empresa de cibersegurança. Uma outra sociedade já está na lista imediata para ser instalada no edifício, mas esta ainda sem data anunciada.
Segundo Carlos Monteiro, PCA do Tech Park SA, o polo do Mindelo está a ser preparado para atrair empresas nacionais e estrangeiras, com base numa estratégia que tem o parque tecnológico e a zona económica especial como os seus pilares operacionais. “Cabo Verde está a criar um ambiente favorável à inovação tecnológica, com leis modernas, incentivos fiscais, estabilidade institucional, conectividade crescente e sobretudo com programas que procuram talentos em formação contínua”, salientou no seu discurso.

A infraestrutura de S. Vicente, enfatiza, é mais do que uma extensão física do Tech Park CV, empresa nacional com sede na Capital. Será, nas suas palavras, um centro de competências e de inovação vocacionado para áreas estratégicas, focada nas empresas e na juventude, para promover start-ups e facilitar a criação de empregos qualificados. Ele que fez questão de frisar na sua intervenção o carácter descentralizador e inclusivo do projecto. Isto porque, na sua visão, o futuro de Cabo Verde não se constrói a partir do centro, mas sim a partir de todas as ilhas, cada uma com os seus saberes, recursos naturais, capacidade humana e energia.
“Com esta inauguração demonstramos na prática que a descentralização pode ser feita com inteligência, com impacto e qualidade. Não se trata de dividir infraestruturas, mas de distribuir oportunidades”, reforçou Carlos Monteiro. O gestor acentuou, numa mensagem direcionada ao Primeiro-ministro, que o digital, como está provado, não precisa ficar concentrado para ser poderoso. Quanto mais distribuído, disse, mais resiliente essa ferramenta se torna.
Reforçar a economia digital e aumentar contributo para o PIB
Seguindo esta linha de raciocínio, Ulisses Correia e Silva evidenciou que se trata de uma obra importante para o crescimento da economia digital em C. Verde. Isto porque, disse o Primeiro-ministro, o Governo quer colocar a economia digital como um dos sectores da diversificação económica e a meta é aumentar a participação do sector no PIB de 7 para 25 por cento. Aliás, diz, a ambição vai mais longe, isto é, destacar-se como uma das áreas que mais cria empregos de qualidade e estimula o empreendedorismo dos jovens.

“Queremos atrair empresas de referência, promover start-ups e criar empregos bem remunerados. E todo este complexo tem a vocação de incubação, co-working, um espaço onde convivem grandes e pequenas empresas”, descreveu o Chefe do Executivo, que voltou a sublinhar o importante papel que o actual presidente do Banco Africano do Desenvolvimento teve na concretização do projecto do Parque Tecnológico de Cabo Verde, orçado em 35,9 milhões de dólares.
Correia e Silva sublinhou que Akinwumi Adesina foi alvo de uma “justa homenagem” na Praia por parte do Governo e lembrou que haverá eleição da nova equipa do BAD agora em maio, devendo Adesina manter funções até setembro. O Primeiro-ministro revelou ter convidado o ainda gestor do banco para ser embaixador de C. Verde junto das diversas instituições, para continuar a ajudar o país no processo de desenvolvimento.
Num discurso bastante descontraído, Akinwumi Adesina salientou que o Parque Tecnológico permitirá a Cabo Verde ficar em posição de aproveitar a economia digital na África e tirar proveito dos valores exorbitantes estimados no sector a nível global. Salientou que os parques tecnológicos serão polos que vão estimular os negócios a nível local, regional e global, mas também actuar no domínio da segurança cibernética, inteligência artificial, etc.
“Estes parques tecnológicos criarão uma plataforma adicional para que negócios locais, regionais, globais, digitais e tecnológicos surgem daqui, incluindo aqueles que apoiem a saúde digital, a inclusão financeira, a segurança cibernética, a inteligência artificial, os pagamentos digitais e a governança, entre outros”, argumentou, reforçando o interesse do BAD em apoiar a construção do Centro de Apoio à Tecnologia e Inovação.
Obra sem espelho de água e corrimão de segurança

O polo de S. Vicente foi inaugurado sem estar totalmente pronto, como concluíram jornalistas presentes na cerimónia. Confrontado com este aspecto, Carlos Monteiro demonstra ter uma leitura diferente. Nas suas palavras, a construção do complexo está terminada, faltando apenas pequenos ajustes ao nível de arruamento, intervenções que, diz, têm mais a ver com o arranjo externo. “Se repararmos, a parte traseira foi totalmente calcetada, falta agora um pequeno troço para ser calcetado, mas diria que estamos com 99.9% da obra pronto”, considera.
Outro aspecto que chama atenção é a existência de um fosso junto ao data center, que pode constituir um perigo para quem circular por esse lado. Sobre este aspecto, Carlos Monteiro explica que essa área não é destinada ao público, mas que mesmo assim vão colocar um corrimão de segurança dentro de dias.

O responsável da empresa confirma que o projecto de S. Vicente contemplava um espelho de água, que ainda não existe. O gestor explica que estão na dúvida se devem manter esse elemento, que teria um aspecto decorativo e ainda ajudar na refrigeração do ambiente. Explicou, no entanto, que em Cabo Verde essa espécie de superfície funciona de forma deficiente devido ao clima, com muito sol e muito vento. “A água não para e o espelho não dá um bom resultado, como acontece noutras paragens”, diz. Segundo Monteiro, esse detalhe foi ajustado no caso da Praia, mas que ainda estão a discutir se continuam com o espelho ou se irão optar por outro arranjo em S. Vicente.
O parque, conforme esta fonte, tem duas partes: a primeira, o data center, que já dispõe dos seus equipamentos e será gerido pelo NOSi; a segunda integra as salas para gabinetes, escritórios e espaços onde irão decorrer os start-ups e co-working. As empresas instaladas terão as condições de trabalho, com fornecimento de energia e internet e as áreas customizadas consoante as suas necessidades.
A primeira pedra do data center em Chã d’Marinha, relembre-se, foi lançada em fevereiro de 2019 e, na altura, previa-se a conclusão dos trabalhos em nove meses, prazo que foi sendo sucessivamente adiado.