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Liga dos campeões africanos: Atlético masculino diz adeus ao torneio, mas com “cabeça levantada”

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 O Atlético masculino perdeu ontem à noite com o Sporting de Alexandria por 30-41 na última partida da fase de grupos, mas, para os jogadores Júnior, Dibanda e Fred a equipa deixou uma impressão positiva do andebol cabo-verdiano e ganhou uma experiência que poderá marcar uma nova etapa na modalidade em S. Vicente. “Dissemos adeus à prova, mas saímos de cabeça levantada. Fizemos quatro jogos com quatro equipas de níveis diferentes, mas com a mesma agressividade. Jogamos sempre para ganhar, não foi possível, mas ganhamos uma boa bagagem competitiva e uma visão diferente do andebol”, realça o guarda-redes Júnior, que ficou surpreso com o seu próprio desempenho entre os postes. Apesar do seu tamanho, encarou jogadores de quase dois metros de altura e fez defesas de classe de remates frontais.

Para Júnior, um dos factores que marcou a diferença entre o jogo dos atléticos e das equipas adversárias é a velocidade de circulação da bola e dos movimentos. “Os próprios dirigentes da Confederação Africana de Andebol e jogadores das outras equipas foram unânimes em dizer que temos qualidade técnica, mas que nos falta velocidade. Como os nossos movimentos são relativamente lentos, a defesa consegue adivinhar o que vamos fazer a seguir e cortar o lance”, elucida.

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Um outro factor que chamou a atenção do guarda-redes foi o nível da arbitragem. Para Júnior, toda a equipa do Atlético foi surpreendida com a forma como os juízes interpretam os lances e decidem. “Situações que na nossa arbitragem são consideradas faltas evidentes não passam de meros lances de jogo. Os árbitros apitam o estritamente necessário, deixam a competição fluir”, elucida o jogador. Para ele, ficou provado que a arbitragem nacional é talvez o principal entrave ao desenvolvimento da modalidade. Prova disso foi o efeito que teve na equipa do Atlético em campo, pelo simples facto de terem ido jogar numa prova internacional com os hábitos criados pelos árbitros nacionais.

A análise de Júnior coincide na íntegra com a do central Dibanda e do interior esquerdo Fred, dois dos jogadores em campo mais activos no ataque do Atlético. Para esta dupla, a equipa masculina teve uma boa prestação no torneio, apesar das quatro derrotas que encaixou na fase de grupos. “Mostramos a realidade do andebol cabo-verdiano com as suas qualidades e limitações. Se as entidades ligadas à modalidade quiserem mais que criem as condições para melhorar a qualidade dos campeonatos”, comenta o atirador Fred, que marcou perto de 50 golos nos quatro jogos, na sua grande maioria de disparos de longa distância. Aliás, ele foi o goleador de serviço do Atlético e despertou o respeito dos adversários, a ponto de merecer marcação individual por parte das outras equipas.

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Questionado sobre a sua prestação pessoal, mostra-se satisfeito pelo facto de ter atingido a meta a que se propôs. “Antes de vir propus elevar-me ao nível do andebol profissional, jogar com o foco na baliza contrária, aproveitar cada hipótese para fazer disparos à baliza ou criar desequilíbrios e passar a bola ao pivot. Acho que deu certo”, considera o jogador que adquiriu uma força de remate que deixa os guarda-redes pregados ao chão.

Para ele, a única forma que o Atlético tinha de marcar golos era fugir da pressão dos defensores e disparar. “Se fossemos jogar ao nosso estilo, com jogadas de penetração na área, seria muito mais difícil porque são atletas experientes e fortes”, frisa o atleta, que já assinou contrato com uma equipa portuguesa, aguardando apenas o visto para iniciar a sua carreira profissional.

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Inter Club interessado em jogadores do Atlético

Se o andebol cabo-verdiano quiser acompanhar a realidade africana, na opinião do central Dibanda, terá de mudar algumas pedras. Para ele, os jogadores terão que ganhar porte físico, aumentar a velocidade e técnica individual, mas será imprescindível uma nova atitude dos árbitros e outro nível organizativo dos campeonatos. Como diz, os juízes nacionais tendem a apitar qualquer contacto físico, mas viram no torneio que a falta só é marcada no último instante. E isso dependente da situação. “Por ficarmos à espera da marcação de certas faltas é que sofremos tantos contra-ataques. Fomos jogar com uma mentalidade induzida pelos nossos árbitros e pagamos a factura”, comenta esse atleta, que sai da Liga dos Campeões com sentido de dever cumprido. Aliás, para ele, o Atlético mostrou um nível de andebol que nem ele pensava que fosse possível.

“Na nossa estreia com o Red Star estivemos com a vitória na mão. Perdemos porque nos deram marcação individual e em certos momentos usamos mais o coração do que a cabeça. No último jogo com o Sporting de Alexandria aguentamos a primeira parte e o treinador foi obrigado a meter os seus principais jogadores para poder vencer”, ilustra o jogador. A seu ver, se o Atlético tivesse usado o seu manancial de jogadas o resultado poderia até ser mais positivo. Por outro lado, realça que as equipas adversárias são tão inteligentes e experientes que se adaptam rapidamente à movimentação dos jogadores do Atlético.

O certo, para Dibanda, é que o Atlético mostrou ser uma equipa esclarecida, apesar de amadora. O desempenho foi positivo, tendo Fred, Júnior e ele próprio despertado o interesse do Inter Club de Angola. No seu caso, diz, se a proposta do emblema angolano for interessante não descarta a hipótese de assinar contrato.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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Um Comentário

  1. Foi a TCV de sempre.
    As duas equipas do Atlético do Mindelo (femenino e masculino), eram as duas campeãs que representavam Caboverde.
    Porém (olhem bem para este “porém”):
    se os telejornais noticiavam as participações das três equipas caboverdeanas presentes na prova (não noticiando as do Mindelo, significaria discriminação flagrante e de fácil percepção), já as “MANCHETES” no início desses mesmos telejornais, disfarçadamente, ou aparentemente distraidamente, eram sempre acompanhadas pela imagem de fundo, dum jogo do DESPORTIVA DA PRAIA.
    Ou seja, a TCV teria (tem sempre) de encontrar alguma forma de dar um tratamento especial à equipa (ou qualquer outra situação) da Praia, mesmo tendo a conscieência de que quem estava ali DE FACTO na qualidade de campeão, eram as equipas do Atlético masculino e femenino.
    E…qual é a razão para tão básicas distrações duma TV que entretanto, quando se trata de situação contrária, tem toda a preocupação em levar sempre em linha de conta e até aolimite do fastidioso, todo o tipo de pormenores até quantas vezes roçar o ridículo, para realçar a Praia?
    A razão é só esta:
    Estas duas equipas, NÃO ERAM DA PRAIA.
    Há uma tendência para se pensar o centralismo, só a nível da distribuição da riqueza no país mas, como se vê, o esforço do centralismo (de promoção da cultura centralista) manifesta-se de forma grosseira em todas as esferas e muitas vezes, lá onde menos se imagina ou se está à espera.
    E a verdade é que sempre foi assim.
    As pessoas é que não notam isto.

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