Poetiza Zuleica Alves: “As oportunidades não são para todos os talentos porque são dadas, na maioria das vezes, às mesmas pessoas”
A jovem poetiza Zuleica Alves demonstrou estranheza pelo facto de Cabo Verde ser um país de cultura, mas é onde “as oportunidades não se apresentam de igual modo para todos os jovens que têm talento”. Zuleica Alves, 36 anos de idade, residente em Mindelo, falava via Messenger com o Mindelinsite a propósito da publicação de três poemas da sua autoria na antologia de poesias de escritores de língua portuguesa pela “TAACTO” , Tertúlia Associativa de Arte e Cultura Torrejana – Torres Vedras, em Portugal.
Nesta publicação, Zuleica Alves, que vem procurando o seu espaço na poesia cabo-verdiana – aparece com os poemas “Mar Ingrato”, “Mãe” e “Quebrou-se o Silêncio” – ao lado de consagrados escritores de língua portuguesa com destaque para a já sobejamente conhecida cabo-verdiana Vera Duarte. A jovem disse que o que mais a inspira para as suas criações são a necessidade de desabafar de uma forma diferente a sua própria história… “e é baseada conforme os meus sentimentos em determinados momentos!”
“Para mim a poesia é a forma mais completa e livre de se expressar. De viajar sem mover os pés do chão. É a liberdade … A poesia é algo muito simples e ao mesmo tempo complexa…”, pontuou a poetiza, que tem uma página de poesias na rede social Facebook, onde vem partilhando alguns dos seus escritos. Disse ainda ter como mentor e incentivador o também escritor cabo-verdiano Antonino Robalo, também ele com poemas na referida antologia de poema publicada recentemente em Torres Vedras pela TAACTO 20/20. Ao todo, essa publicação contém poemas de 20 autores de língua portuguesa.
Zuleica Alves revelou ainda que já enviou mais trabalhos para uma próxima publicação e incentivou as mulheres jovens a escreverem poesia. Acrescentou que conhece poucas escritoras cabo-verdianas, por estar ainda verde na área, mas as que já vai tomando conhecimento “são fantásticas e muito criativas em expressar emoções”. Confessa que, apesar de escrever poemas e contos infantis, tem pouco hábito de leitura por falta de tempo, e revela que o gosto por esta arte chegou a partir das letras das mornas que ouvia e escritas por compositores cabo-verdianos como Manuel d’novas, Luís lima, B’ Leza, Eugénio Tavares, Jota Monte, entre outros.
“Escrevo, mas não leio. No início era por falta de livros que eu não tinha, agora é por falta de tempo”, explica esta jovem, que justifica assim a sua falta de conhecimento em relação as correntes de escritas, quando questionado sobre os escritores cabo-verdianos e de referência mundial que a terá influenciado. Esta enfatiza que aquilo que escreve nasceu com ela como um dom da natureza
“Apesar de não ter uma obra em livro publicada tenho estado a produzir constantemente, mas espero um dia poder vir a ter a oportunidade de publicar um livro”, indicou Zuleica Alves, que disse querer encontrar patrocinadores para esse objectivo maior. “O escritor pode até não publicar, mas não pára de produzir. Vai ter sempre trabalhos na gaveta para serem publicados oportunamente”, defendeu a jovem escritora.
Zuleica Alves nasceu em S. Vicente, no bairro da Ribeirinha, há 36 anos, solteira e mãe de dois filhos. Autodefine-se como uma pessoa atenta, observadora e tímida. Tem apenas do 9 ano de escolaridade, pelo que se considera uma autodidata. Neste momento encontra-se desempregada.
Disse ter começado a dar os primeiros passos na escrita com os oito anos e parado aos 14 anos. Recomeçou há cerca de dois anos incentivado por um amigo. Está a tentar fazer alguma incursão por composições musicais e à espera de resultados de letras entregues para serem musicadas. Zuleica também revelou a sua veia artística num concurso de vozes realizada há já alguns anos, mas desistiu desta área querendo agora escrever para outros cantarem.
“Gosto do teatro e já participei num grupo, onde sentia o palco como o meu mundo, mas por razões familiares tive de abdicar”, conta a jovem escritora, cuja faceta não se resume apenas à poesia, estando agora a fazer incursão por contos infantis. Gosta de ser fotografada por considerar a sensualidade uma leveza e uma espontaneidade misteriosa.
João A. do Rosário