Mar de gente no enterro do Carnaval d’Soncent: Um misto de alegria e tristeza
Um mar de foliões trajados maioritariamente de preto acompanhou ontem à tarde o “enterro” do Carnaval de S. Vicente, num “fúnebre” cortejo de euforia que começou na Ribeira Bote e desembocou no “cemitério” das águas da Avenida Marginal, onde o caixão foi depositado entre sorrisos, abraços e choro. Sim, choro, porque no Carnaval d’Soncent tudo é possível, “tude e bada”.
A sensação visual é que este ano o desfile mobilizou mais gente. De longe, pareciam formigas saltitando à volta do trio-eléctrico. Para Kunny, jovem da Ribeirinha, não restam dúvidas de que o “funeral do Rei Momo” estava mais animado. “Este enterro foi d’kel bom, nha broda. Este ano senti que havia mais gente, mais jovens, mais folia e mais respeito”, comenta Kunny, cuja opinião foi corroborada pelo amigo e colega Kevin, também residente na Ribeirinha. “
“Todos os anos são iguais, mas ao mesmo tempo diferentes. E o enterro deste ano deixou-me com aquela sensação de ser melhor. Isto é muito bom porque o nosso Carnaval é sem igual”, frisa Kevin, momentos antes de o caixão ser depositado nas águas tranquilas da praia d’Catxorre na Avenida Marginal.
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No meio da multidão espalhada pela Marginal, Christy Medina parecia estar no céu. Para esta jovem de 16 anos, foi sorte grande ter curtido o ultimo desfile dos mandingas. “Estava a viver na cidade da Praia, mas a saudade apertou e vim sentir a sabura da minha ilha. Não podia ter chegado no melhor momento. Bsote ka nem sabê! Foi trankil, eh”, confessa a moça, vestida de branco e a cara suja de carvão. Ela que falava na companhia de Sidiana, mnininha de Bubista residente na R. Bote. “Estava em casa, ouvi a música e saltei logo para a rua. O enterro foi o máximo”, admite essa universitária, para quem a festa do enterro tem o dom de deixar as pessoas felizes e tristes. “É um misto de sentimento porque acabaram os desfiles dos mandingas, mas ao mesmo tempo ficamos com boas lembranças dos momentos vividos”, explica.
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A cada ano, admite um agente da PN, o enterro do Carnaval vem arrastando mais pessoas na ilha de S. Vicente. Como admite, trata-se de uma manifestação com características próprias, que exige um plano específico de segurança, mas que tem funcionado. Até o momento em que foi abordado por Mindelinsite, ainda não tinha havido nenhum incidente digno de registo.
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O enterro partiu da Ribeira Bote por volta das quinze horas em direcção a Cruz João Évora, zona do Cruzeiros do Norte, campeão do Carnaval 2019, depois desceu para Madeiralzim, subiu para Chã d’Alecrim e “escorregou” até a Avenida Marginal. Paulo Block voltou a ser um dos artistas chamados para animar o trio-eléctrico, juntamente com os cantores Edson e Gay. Ao longo da trajectória interpretaram as tradicionais músicas dos mandingas, misturadas com os temas oficiais dos grupos deste ano. O enterro só chegou ao “cemitério” da Avenida Marginal passados quatro horas. Por volta das 19.15 um grupo de “coveiros” colocou o primeiro dos dois caixões no mar sob o olhar de milhares de foliões. A partir desse momento, começou a contagem decrescente de um luto que pode durar um ano para algumas pessoas e cinco meses para outras. É que o Carnaval regressa às ruas da morada no mês de Agosto, por altura do verão.
KzB