O filme “O Poeta da Ilha” terá hoje a sua estreia na ilha de S. Vicente, onde decorreu a captação da maior parte das cenas. Depois de Luxemburgo e Sal, chega a vez da cidade do Mindelo apreciar essa metragem, que tem o actor João Gomes como o principal protagonista. Com 85 minutos de duração e filmado em 45 dias no verão do ano passado, o filme faz uma retrospectiva à história de Cabo Verde para retratar a actuação da DGS – Direção Geral da Segurança, de Portugal – criada para substituir a temível PIDE. No entanto, a DGS, recorda o actor José Pedro Bettencourt, continuou a agir com os métodos já praticados pela PIDE, com prisões arbitrárias e torturas para obter confissões e incutir o medo na sociedade cabo-verdiana do tempo colonial.
“Este filme é inspirado em factos ocorridos no período colonial. Situações enfrentadas pela sociedade que o realizador Júlio Silva ficou a conhecer da boca dos próprios familiares. Ele acabou por ser inspirado por todos esses acontecimentos, que agora são contados no filme O Poeta da Ilha”, revela Btenca, como é conhecido, que desempenha o papel de um agente da DGS nessa produção cinematográfica.
A trama tem como personagem central um poeta cabo-verdiano destemido, que utiliza a sua pena para criticar o sistema colonial, personagem personificado pelo actor mindelense João Gomes, bastante conhecido pela sua participação no filme “Serenata sem Luar”, como Djô Basof. Apesar da perseguição da DGS, o “poeta”, homem do povo bastante informado, resiste e persiste na sua contestação.
A produção envolveu mais de 40 actores, que se entregaram ao projecto de corpo e alma durante o verão do ano passado. Segundo Btenca, o projecto sobreviveu sozinho, sem um único patrocínio, apesar da pertinência da abordagem de um tema tão caro à história de Cabo Verde. Os figurinos foram feitos pelos actores, os cenários construídos com a colaboração de cada elemento e até usaram casas alheias para gravar as cenas. A maior parte das filmagens aconteceu em S. Vicente, mas algumas cenas foram captadas em Santo Antão e Portugal.
Todo este trabalho teve o suporte da Associação Cultural Rotchimar, que foi legalizada no mês de junho e tem como um dos seus grandes objectivos a realização de filmes em Cabo Verde.
“O Poeta da Ilha” foi apresentado em Luxemburgo e no Sal e, conforme depoimentos de algumas pessoas entrevistadas pela produção, o filme agrada pela actuação dos actores, os planos e o facto de relatar um facto da história recente de Cabo Verde.