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Brodjinha: “A figura da Rainha de Bateria atingiu uma importância gigantesca, que coloca enorme responsabilidade nas candidatas ao título”

Quarta-feira do Carnaval, este é um dia de extremos para Andrea Gomes, a rainha da bateria do grupo Cruzeiros do Norte. Logo pela manhã, todas as figuras de destaque do concurso oficial reunem-se na Rua de Lisboa para ouvirem o veredicto do júri. E um dos títulos mais aguardados é nada menos o da Rainha de Bateria.

Há 4 anos que “Brodjinha”, nominha como é tratada, anseia e teme esse momento. Ciente da responsabilidade de conquistar a coroa para o grémio de Cruz João Évora, e para o seu próprio palmarés, costuma ser invadida por um turbilhão de pensamentos e emoções. Nada de anormal, tendo em conta o troféu em jogo.

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“Assim que termina o desfile, sinto logo um aperto no peito. É uma mistura de sensações que não me agrada. Sei que fiz o meu melhor, mas não sei se outra rainha de bateria teve uma performance melhor”, pontua. A ansiedade aumenta, entretanto, com os comentários feitos na rua e nas redes sociais. “Horrivel”, desabafa.

Aguardando o veredicto do júri com o coração na mão

Para minimizar o impacto emocional, Pota, como é também conhecida, prefere colocar-se em modo off por algumas horas. O tempo que dura para o Sol voltar a iluminar a passarela da Rua de Lisboa na Quarta-feira de Cinzas. Depois é esperar o veredicto, com o coração na mão.

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“A rainha de bateria atingiu uma importância gigantesca no Carnaval de S. Vicente, uma dimensão que quase ninguém esperava, a ponto de se tornar numa das principais competições nos desfiles, ultrapassando até a dos Reis e Rainhas”, considera a jovem. Para esta dançarina, a coisa começou a tomar esta proporção quando grupos como Cruzeiros do Norte, Vindos do Oriente e Monte Sossego passaram a fazer concursos internos para escolha dessa figura de destaque.

Esta prova, na sua opinião, atiçou a curiosidade dos amantes do Carnaval, ao mesmo tempo que revelava o nível da importância atribuída pelos grupos a essa passista líder da ala da batucada. Hoje, diz sem pestanejar, a disputa do título da Rainha de Bateria é das mais aguardadas no concurso oficial. E este facto coloca uma forte pressão nos ombros das candidatas.

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Na passarela é só alegria

“A pressão vem de todos os lados: da direção dos grupos, dos foliões, dos fãs, do público que assiste ao desfile e quer ver a rainha da bateria sempre a dançar. Ela não pode fazer outra coisa. O nível de exigência é enorme”, descreve. Segundo Brodjinha, só estando na pele da pessoa para se sentir o peso da responsabilidade. 

No seu caso, diz, a cobrança é maior, por ter vencido o certame duas vezes consecutivas e Cruzeiros do Norte continuar a apostar na sua pessoa. Para corresponder à expectativa, costuma iniciar uma minuciosa preparação física e psicológica muito antes da data do desfile. “O primeiro aspecto é o mental, depois vem o ginásio e os ensaios, que levo muito a sério”, explica.

Quando os grupos começam a divulgar o nome das rainhas de bateria, como tem acontecido por estes dias na Cidade do Mindelo, a adrenalina começa a ser activada. O pé, confessa, já começa a coçar, o espírito ansiando por esse momento arrepiante de entrar na passarela da Rua de Lisboa à frente da batucada. “Não há nada que se compara com esta sensação. Acho que toda a gente deveria sentir isto uma vez na vida!”

Para Brodjinha Gomes é visível o aumento da qualidade das rainhas de bateria e das passistas. Questionada se isso aconteceu devido as formações ministradas por passistas brasileiras no quadro do projecto Carnaval de Verão, deixa claro que essas ações não tiveram nenhuma influência na sua performance. “Não acho que as brasileiras tenham ensinado algo especial às rainhas de bateria porque deram sempre o básico. E a base já temos faz muito tempo”, considera.

Regressar ao trono

Para ser sempre uma candidata ao título, Brodjinha tenta inovar, como fez em 2019, ano em que usou um elevador e espalhou a sua energia pelas artérias do Mindelo. “Foi o desfile da música ´Tude ê bada´ e, para mim, foi a minha melhor performance. Senti um nivel de conexão diferente com o meu grupo”, relembra Pota, que revalidou o título em 2020 e perdeu a coroa em 2023 para Wendy, rainha de bateria do Monte Sossego. Agora promete trabalhar para regressar ao trono em 2024.

“Por falar em trono, muita gente considerou ofensivo o titulo do Mindel Insite ´Wendy destrona Brodjinha´. Para mim foi algo normal, porque eu estava no trono, tinha a coroa da Rainha da Bateria, pelo que fui destronada. Não vi nada de mal nisso”, considera Brodjinha, que não concordou também com comentários feitos nas redes sociais que visaram “rebaixar” a colega Wendy. “Ela fez aquilo que lhe competia, que era sambar para ganhar, e não é nada agradável ganhares por teu próprio mérito e outras pessoas virem colocar em causa a tua prestação”, sublinha esta jovem, que enaltece o facto de todas as rainhas de bateria serem amigas e até actuarem juntas em espectáculos. A ”rivalidade”, para ela, é apenas na passarela do Mindelo, onde cada rainha de bateria é obrigada a honrar o compromisso com o seu grupo.

A rivalidade é apenas na passarela

Candidata “eterna” do Cruzeiros do Norte

Brodjinha considera ser uma rainha da comunidade de Cruz João Évora, bastante acarinhada e reipeitada pelos foliões e a direção do grupo. Até hoje, diz, tem dado conta do recado e acha normal ser convidada durante estes anos para manter o posto de Rainha da “Bateria do Norte”. Sabe, no entanto, que essa aposta tem incomodado algumas pessoas, para as quais ela deve dar lugar a outra figura.

Sobre esta questão, enfatiza que os níveis para essa figura de destaque são cada vez mais exigentes em S. Vicente, ao ponto de os grémios procurarem apostar em dançarinas experientes. “Preparar uma rainha de bateria capaz de suplantar a concorrência no Carnaval de S. Vicente leva o seu tempo, por isso acho normal que Cruzeiros queira continuar a jogar pelo seguro”, diz a jovem, que faz rasgados elogios à Bateria do Norte, batucada liderada pelo maestro Nuno Gonçalves, que, para ela, tem crescido em qualidade.

“Nuno tem retirado os ritmistas da sua zona de conforto, introduzido novas batidas e paradas. Eu tento seguir este processo para poder sentir-me encaixada com a batucada”, diz Brodjinha.

Brodjinha e o maestro Nuno Gonçalves – Carnaval Verão do Cruzeiros do Norte

“Brodjinha” – sinónimo de Carnaval

Desde que entrou para as lides carnavalescas que, segundo Brodjinha, começou a fazer história. Tanto assim que o seu nominho é logo associado ao Carnaval e ao Cruzeiros do Norte, grupo que, inclusivamente, lançou camisolas com a sua imagem. Reconhece que ganhou uma grande visibilidade em Cabo Verde e além-fronteira com a conquista da coroa de rainha de bateria por duas vezes. “Consegui aliar o meu estatuto de rainha de bateria ao de modelo publicitária e fechar contratos de trabalho dentro e fora de Cabo Verde”, conta esta jovem, que usa a sua imagem para promover eventos e empresas em outdoors e nas redes sociais.

Ciente de que tudo na vida tem um fim, Brodjinha está a viver este momento especial da sua vida com intensidade, mas com os olhos postos no futuro. Por isso já tem na forja um projecto de carácter cultural, ligado ao Carnaval, que espera colocar de pé a seu tempo.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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