Os cinco grupos oficiais que desfilaram esta terça-feira em São Vicente – Flores do Mindelo, Cruzeiros do Norte, Monte Sossego, Vindos do Oriente e Estrelas do Mar – deslumbraram com carros alegóricos grandiosos e bem concebidos, roupas coloridas um grande número de foliões, coreografias originais e músicas que ficam no ouvido. O publico que ocorreu em massa para assistir ao maior espetáculo de Cabo Verde aplaudiu todos os grupos, mas está dividido. Nem mesmo o atraso na saída do Estrela do Mar clarificou os prognósticos, o que mostra o grau de equilíbrio dos grupos.
Flores do Mindelo
O primeiro a entrar no sambódromo do Mindelo, o Flores do Mindelo, cumpriu o horário e surpreendeu com ao apresentar-se organizado e com um desfile colorido. Nove anos sem conquistar um título no Carnaval, o grupo apostou no enredo “A lenda de uma civilização mítica”, que versou o universos dos deuses egípcios Ísis, Anúbis e Hator, que estava reflectido nos três carros alegóricos. Os foliões cantaram com vontade e dançaram ao som da música “Lenda Mítica” de Eugenio Moreno e Erik Lima. “Trabalhamos para apresentar um Carnaval a altura das expectativa dos mindelenses”, garantiu a presidente do Flores do Mindelo, Ana Ramos.
E era evidente o esforço e empenho de todos foliões, membros da direcção e responsáveis pela harmonia na concentração e ao longo de todo o desfile. Numa breve conversa com a porta-bandeira do grupo, Laurinda, que foi cortejada durante o desfile pelo mestre-sala Stiven Évora, esta confessou ter costurado o próprio traje, todo ele em laranja e dourado. “Foi um sacrifício muito grande, com poucos recursos, mas assumimos a confecção do nosso traje e ficou do jeito que queríamos”, revela esta jovem. A dupla representa este grupo há pelo menos quatro carnavais, sendo que este ano contaram ainda com outros destaques, caso da rainha de bateria Anniete Faria e das musas Mirna Alexandra, Vânia Monteiro e Janni Lopes.
Cruzeiros do Norte
Seguiu-se Cruzeiros do Norte da zona de Cruz João Évora, que tinha a responsabilidade de defender o titulo. O grupo trouxe o tema “Tudo a dois” assinado pelo carnavalesco Helder Rodrigues, mais conhecido por Di Body mostrou a dualidade do mundo: positivo e negativo, bonito e feio, doce e amargo, desde Adão e Eva até os dias de hoje. Os dois lados da vida estavam presentes nos três carros alegóricos, na musica assinada por Anisio Rodrigues e Jotacê e nas alas de figurantes.
O primeiro carro alegórico, recriou o jardim do Éden, numa releitura carnavalesca, onde se encontrava a figura do bem e do mal, o segundo falava do xadrez da vida e o terceiro, intitulado ADN, mostrou esta dualidade que vem do inicio da vida. Os foliões, em numero significativo, apresentaram-se animados por conta da música “Tudo a dois”, uma das mais cantadas deste carnaval. Foi surpreendente a performance do porta-bandeira e mestre-sala, Hirondina e Valdir Gomes (Kavera), não obstante alguns percalços, isto porque o adereço de cabeça não ficou pronto. Ainda da rainha de bateria Andrea Gomes, da rainha Maria de Fátima e das muitas figuras de destaques.
Monte Sossego
O maior grupo carnavalesco de S. Vicente em número de figurantes, Monte Sossego, foi o único a trazer um enredo terra-a-terra, baseado nos mitos, contos e lendas. Montsú entrou forte e confiante na avenida, segundo o seu presidente, António Duarte, como sempre, disposto a lutar pelo titulo que foge ao grupo a alguns anos. Na sua comissão de frente um grupo de bruxas com as suas vassouras e mágicos davam o mote do desfile, suportados por um tripé em forma de um puzzle ou quebra-cabeça. Seguiram as tradicionais baianas com cachimbos e com adereços feitos de palha.
O trabalho dos artistas do carnaval esteve em evidencia em alguns trajes, mas sobretudo nos carros alegóricos: o primeiro a representar algumas criaturas míticas e com movimento – um morcego a abrir e fechar as asas; o segundo carro com a contadeira de histórias Celina Pereira, rodeada de livros de contos, lamparinas e candeeiros, e o terceiro representando o cemitério de São Vicente, uma bruxa com fogo nas ventas e casas de palha, resgatando as lendas e contos de outros tempos. Todos embelezados com muitas figuras de destaques, no chão e nos andores.
Vindos do Oriente
O Vindos do Oriente, que ano passado não participou dos desfiles, decidiu compensar a ausência com um carnaval grandioso. A “busca pela Pedra Filosofal”, tema assinado pelos carnavalescos Manú Ramos, Cláudio Miranda e Fernando “Nóia” Morais, foi feita com sucesso a crer nas reacções das pessoas nas ruas de morada e nas redes sociais, até porque este enredo oferecia inúmeras possibilidades na confecção dos carros alegóricos e indumentárias dos figurantes. O grupo optou por fazer a sua busca no espaço e no fundo os oceanos, apresentando logo na sua comissão de frente um grupo de astronautas cabo-verdianos e um vai-vem, que tinha a responsabilidade de fazer o seu transporte num foguetão acoplado no terceiro e ultimo andor do grupo.
D. Lili, presidente do VO, era uma mulher feliz e realizada com o trabalho que o grupo preparou e mostrava-se confiante nos “poderes” da Pedra Filosofal, este objecto imaginário capaz de transformar qualquer metal em ouro. “Trabalhamos para ganhar o título de campeão do Carnaval de S. Vicente. Estamos confiantes, mas vai depender da leitura que o júri fizer”, afirmava. E, foram ovacionados ao entrar na rua de Lisboa. Aliás, o publico presente fez questão de aplaudir todos os grupos com o mesmo entusiasmo, num claro reconhecimento pelo esforço despendido para mostrar um bom carnaval, em um curto espaço de tempo e com muito esforço.
Estrelas do Mar
O grupo de Estrelas do Mar foi o ultimo a chegar a avenida por conta de inúmeros obstáculos. Primeiro foram bloqueados por uma viatura particular que resolveu estacionar na Avenida Marginal, depois devido a demora na colocação da família real em um dos andores. O presidente do grupo, Fernando Fonseca, desvalorizou o atraso, preferindo destacar a reação do publico quando entraram na avenida. “O público já disse tudo, pela sua receptividade, pela energia que nos mostraram e pela admiração no rosto de cada um, sem duvida que valeu a pena”, declarou o presidente, que responsabilizou a Liga Independente dos Grupos Oficiais pelo atraso.
“É responsabilidade da Liga colocar a família real de cada grupo nos carros alegóricos. Não sei como isso deveria ser esquematizado mas, ao invés de colocarem o nosso rei e a nossa rainha nos andores, resolveram priorizar a descida daqueles que já tinha desfilado. Esta é a única razão do nosso atraso, por isso mesmo não acredito que seremos penalizado, até porque todos os grupos atrasaram”, acrescentou este responsável, que também não se sente prejudicado por desfilar de noite, numa altura em que parte da população já tinha desistido de esperar pelo grupo.
Mas a verdade é que o grupo desfilou com carros alegóricos volumosos e adereços demasiado pesados, o que obrigou a viatura de apoio a inúmeras tentativas para colocar o rei e a rainha do primeiro andor nos seus lugares. O grupo, refira-se, a postou no enredo “Estrela d’nôs mar tartaruga rainha” com cerca de mil foliões, organizados em 14 alas e com uma batucada de 80 tocadores. A família real era constituída por Adilson Cruz e a esposa Elsa Ramos, que vieram da Holanda, e pelo Rei Romario. O estandarte esteve a guarda de Eva Marques e Gilson Lopes, enquanto que a bateria, sob a responsabilidade de Mick Lima, tinha como rainha Salete Rocha.
Constança de Pina