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UCID defende suspensão da parceria entre o Governo e a companhia aérea Loftleidir Icelandic

A UCID defendeu ontem a suspensão da parceria entre o Estado de Cabo Verde e a Loftleidir Icelandic, empresa do grupo Icelandair e que detém 51% das acções da companhia CV Airlines, substituta da TACV. Para os democratas-cristãos, não faz sentido o Governo continuar a injectar dinheiro dos cabo-verdianos da forma como tem feito – sem contra partidas e garantias – só para ajudar uma empresa estrangeira a salvar a suposta situação da CV Airlines. Isto quando, realça António Monteiro, líder da UCID, a Lofttleidir tem feito um negócio lucrativo com o aluguer de aviões à própria CVA e a custos exorbitantes, se comparados com os preços do mercado. 

António Monteiro resolveu abordar essa questão com a imprensa devido a mais um aval dado pelo Palácio da Várzea a um empréstimo de até 12 milhões de dólares à Cabo Verde Airlines, para garantir um financiamento bancário junto do International Investment Bank (IIB). Na sua opinião, essa medida ilustra a atitude que o Executivo de Ulisses Correia e Silva tem mantido com essa empresa privada islandesa, hábito que, a seu ver, não pode continuar. “Não é justo continuarmos a meter dinheiro público na CV Airlines da forma como tem sido feita durante estes anos, e ainda por cima numa companhia que sequer é nossa. Cabe a essa companhia privada encontrar os seus recursos para a sua própria sustentabilidade”, frisa Monteiro, lembrando que a UCID chegou a aplaudir a decisão do Governo de privatizar a TACV. Na altura, diz, o partido fez fé nas palavras do Governo que apresentou a Loftleidir Icelandic como uma empresa sólida, com capacidade para resolver os problemas da companhia aérea de bandeira. “Neste momento, os dados indicam o contrário”, salienta o político, que deixa no ar a dúvida se estará a apontar para a nacionalização da CVA. 

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Monteiro lembra que, apesar de haver companhias low cost que podem assegurar ligações com Cabo Verde, é importante que o país mantenha a sua própria empresa de aviação. Segundo esse deputado, será uma forma de dar garantias no sector dos transportes aéreos e ajudar a regular o preço dos bilhetes. 

Agora, para ele, é desaconselhável o Governo estar a aplicar dinheiro numa companhia que faz negócio consigo próprio ao alugar os seus aparelhos à CVA, sem que sequer Cabo Verde tenha qualquer garantia sobre esses mesmos aviões ou acções dessa sociedade islandesa. E mais: segundo Monteiro, tudo indica que o Governo não se cuidou sequer de estar representado na Comissão Executiva da CVA, onde de facto as decisões importantes são tomadas. 

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“Exigiu o Governo alguma contra-garantia, sabendo que a companhia até agora tem estado sistematicamente no vermelho, tem vindo a ser mal gerida, com perdas avultadas e que não se devem apenas à Covid-19?”, pergunta Monteiro, para quem o Governo não devia assumir tantos riscos, quando o momento exige investimento nalgumas áreas, com destaque para a da saúde. Até porque, diz, o Governo tem estado a socorrer uma empresa que se tem mostrado incapaz de sobreviver com os seus próprios meios e que não merece nem o apoio do próprio governo islandês. 

E argumenta: “Facto ou não que o investidor externo vinha realizando leasing de aviões por um preço quase o dobro do mercado? O Governo deve responder ‘sim’ ou ‘não’. Se sim, não estaria este investidor e accionista externo maioritário a fazer negócio consigo próprio, com a agravante de causar grandes prejuízos à empresa CVA? Não estaríamos face a uma gestão danosa, passível nos termos do Código Comercial a procedimentos civis e ou criminal?”, lança o deputado, lembrando que a Loftleidir Icelandic é um braço de leasing da empresa-mãe Icelandair e que, conforme soube, esta última realizou cerca de 31 milhões de euros com o aluguer das suas aeronaves à CV Airlines.

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“Consta a este propósito que o dinheiro resultante da venda de bilhetes foi direitinho e com prioridade para pagar o leasing descomunal dos aviões, deixando-se por pagar facturas de vários fornecedores, incluindo a IATA”. Na perspectiva da UCID, tudo isso demonstra que o objectivo principal do negócio era possibilitar o aluguer de aviões a Cabo Verde a preços exorbitantes. Por isso diz taxativamente que gostaria de saber quem foram os negociadores que representaram os interesses de Cabo Verde nesse “escandaloso esquema” que, diz, defrauda os cabo-verdianos.

A UCID também mostrou-se indignada com a situação dos aviões retidos em Miami, nos Estados Unidos. Para ele, a justificação do Governo não foi convincente. O partido diz que foram enviados pilotos para trazer um dos aparelhos, quando tudo estava pronto, surgiu uma ordem contrária e os pilotos tiveram que regressar sem o aparelho. Na sua opinião, está claro que falhou algo na negociação.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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